Poltrona Pipoca | Kingsman: O Círculo Dourado

Após sucessos com Kick-ass e X-Men: Primeira ClasseMatthew Vaughn partiu para mais uma adaptação de quadrinhos. Kingsman: Serviço Secreto foi um daqueles filmes que veio sem fazer alarde e foi conquistando o público por seu carisma, realmente um sucesso. E mesmo nunca tendo trabalhado com continuações, o idealizador resolveu tirar do papel a sua primeira sequência. Aqui a trama se inicia após o surgimento de um novo vilão e um ataque inesperado a sede da Kingsman, Eggsy e Merlin são forçados a trabalhar em conjunto com a agência americana conhecida como Statesman para salvar o mundo.

 Vaughn tem uma primorosa visão sobre a ação, fazendo com que o expectador se sinta dentro daquilo tudo, realmente como um personagem do filme. Pouquíssimos diretores têm essa qualidade hoje em dia. E como esse sendo o ponto mais forte do filme, a impressão que se dá é que o roteiro foi pensado todo em volta dessas cenas. Mesmo não tendo uma cena tão impactante quanto a cena da igreja do primeiro longa, aqui temos duas cenas que são basicamente suas “filhas”. Logo na cena inicial, temos uma perseguição de carro e que vai contra todas as expectativas, explorando o que ocorre dentro do veículo em que Eggsy se encontra, com uma câmera sempre em cima da ação, mostrando com clareza cada detalhe. Outra cena que marca muito é a de uma briga em um bar (sim, o diretor faz uma auto-homenagem). Em ambas as cenas, o diretor utiliza muito bem uma câmera lenta que passeia pelos personagens, nos dando clareza de cada golpe que é dado.

O humor do filme é extremamente ácido, tirando sarro de filmes de espionagem e, principalmente, do idealismo americano. A farsa do sonho americano, em que todos são felizes e livres, até o ponto em que a liberdade vá contra o que o conservadorismo aceita. A ineficiente luta contra as drogas, o modo como os políticos querem descartar os doentes ou aqueles que não seguem as suas condutas conservadoras como animais para o abate. Está tudo lá, de forma leve, mas muito bem efetiva. Ainda sobra espaço para uma cutucada sobre o exagerado mercado da carne. O roteiro é tão forte nessa questão de bater de frente sobre esse idealismo, que uma frase em um computador como um “Go Vegan” que é capaz de salvar o mundo desse mal.

O elenco estrelado e muito bem escalado não decepciona. Julianne Moore manifesta todo um sarcasmo em suas falas, sendo uma vilã que realmente se impõe sem precisar fazer carão ou ser badass. Mesmo com pouco tempo em cena, Jeff Bridges é engraçado sem ser exagerado, passando a confiança necessária que um líder de uma organização de espionagem precisa. Taron Egerton continua muito bem como o protagonista que está sempre ali para fazer o que é certo; Mark StrongColin FirthChanning TatumHalle Berry e até Elton John estão muito bem, em total sincronia. Sendo mais um ponto em que vemos a direção ser precisa, não é fácil ter um elenco tão vasto e tão bem assim, sem nenhum peso morto.

Os únicos pontos fracos do filme é a forma como a trama se assemelha com o primeiro. O ideal é o mesmo: um vilão quer fazer dinheiro com um produto e ao mesmo tempo dominar governos do mundo inteiro, através de uma chantagem. Mesmo o roteiro utilizando alguns atalhos diferentes, vemos a semelhança de tudo, uma pequena sensação de que já vimos aquela história. A duração da obra também é um pouco extensa, com uns quinze minutos a menos fariam muito bem ao longa. Mesmo com esses pontos negativos, a obra não é prejudicada de modo que faça tudo desabar. Ao final, temos um filme extremamente rico narrativamente e uma trilha sonora com um pop-rock elétrico que vai deixar qualquer um animado.

 Kingsman: O Círculo Dourado é um exemplo perfeito de um blockbuster: divertido, com cenas de tirar o fôlego e com críticas efetivas sobre assuntos extremamente relevantes como: drogas, capitalismo e o imoral mercado da carne. Críticas completamente válidas, principalmente na nossa atual situação política e social, trazendo além da diversão, o debate sobre aquilo tudo abordado.  A sensação de que não teremos uma continuação é um pouco evidente, mas, se Vaughn ainda tiver uma boa história para contar, com certeza todos estarão dispostos a ver.

 

Nota: ★★★★✰

 

Ficha Técnica

Kingsman: O Círculo Dourado (Kingsman: The Golden Circle)

Ano: 2017

Direção: Matthew Vaughn

Roteiro: Jane Goldman e Matthew Vaughn

Elenco: Taron Egerton, Julianne Moore, Colin Firth, Jeff Bridges, Pedro Pascal

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Ítalo Passos

Cearense, estudante de marketing digital e crítico de cinema. Apaixonado por cinema oriental, Tolkien e ficção científica. Um samurai de Akira Kurosawa que venera o Kubrick. E eu não estou aqui pra contrariar o The Rock.

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