Após o sucesso de O Artista, vencedor de 5 Oscar, Michel Hazanavicius retorna para falar mais uma vez sobre a sétima arte, mas dessa vez sobre um dos diretores mais influentes da história: Jean-Luc Godard. O roteiro é baseado na autobiografia de Anne Wiazemsky, que foi parceira do cineasta durante 12 anos. O diretor demonstra uma extrema coragem ao explorar a fundo o lado mais babaca de Godard, sem o deixar caricato demais, mostrando com perfeição o quanto ele era adorado por conta de suas obras e odiado como pessoa (por quem o conhecia, é claro).

Hazanavicius acerta em cheio ao seguir o livro e narrativamente acompanharmos a visão de Anne (Stacy Martin), a mais próxima do egocentrismo do cineasta. A câmera fascinada a acompanha como se a louvasse e a admiração quando está despida é inevitável. Cada detalhe de seu corpo é explorado para apaixonar o espectador e isso funciona muito bem, dosando perfeitamente a sensualidade com intelectualidade. Mesmo Godard (Louis Garrel) a tratando como um ser intelectualmente inferior e a admirando apenas como uma boa atriz e por sua beleza, existe algo a mais naquela personagem.

Stacy Martin e Louis Garrel, levam o filme inteiramente em suas atuações firmes. Garrel, com a fisicalidade e até dicção perfeita do diretor, surpreende. Mas, mesmo com o filme expondo extremamente sua personagem, quem se destaca é Martin. A sutileza do olhar e toda sua graça roubam o filme para si. É interessante observar que, em certos momentos em que os dois estão a sós, temos umas peculiaridades na linguagem, como quando o filme segue revezando entre uma imagem negativa e a normal, acompanhando o disco travado em uma parte da música que toca no cômodo entre eles. E isso ocorre sempre para transmitir algo. No caso dessa cena, a dúvida.

Ao falar de uma figura tão peculiar, não poderia ter sido deixado de fora a sua militância que ficou ainda mais forte durante a o movimento estudantil de 1968. O fascínio por querer participar de uma grande revolução, a forma como não consegue se equilibrar entre seus filmes, sua politicagem e seu relacionamento são muito bem explorados em um rico estudo de personagem. Desde um rádio tocando como uma trilha no fundo até um jornaleiro gritando na rua, tudo isso vai ajudando a contar um pouco sobre quem foi o gênio Godard. Ainda entramos a fundo em algumas boas metáforas, como a do cineasta estar correndo e fugindo da polícia e, durante um momento, seu rosto ficar por trás da bandeira vermelha, representando a luta e sua tão desejada revolução.

 O Formidável é um filme extremamente rico, com um bom estudo de personagem, que nos joga em uma trama bem fluída. Muito além de falar apenas sobre o relacionamento de uma pessoa com o ego gigantesco, o longa ainda tem uma trama política como complemento e, acima de tudo, nos entrega uma excelente visão feminina de como lidar em certas situações opressoras.

Nota: ★★★★✰

Ficha Técnica

Nome Original: Le Redoutable

Ano: 2017

Direção: Michel Hazanavicius

Roteiro: Michel Hazanavicius

Elenco: Louis Garrel, Stacy Martin, Bérénice Bejo, Micha Lescot, Grégory Gadebois 

Fotografia: Guillaume Schiffman

Gostou? Siga e compartilhe!