Festivais | Cannes 2018 – Competição Oficial

 

O Festival de Cannes já está fervendo lá do outro lado do Atlântico. O Clube da Poltrona reúne as principais impressões sobre os filmes que estão sendo exibidos na mostra competitiva. Tudo para você não perder nada.

 

Competição Oficial

Everybody Knows

(dir. Aghar Farhadi | com Penelope Cruz, Javier Bardem e Ricardo Darín)

O filme utiliza o furor causado pelo sequestro de uma adolescente para uma análise sobre relacionamento familiar.

A receptividade tem sido boa e críticos de sites como o Indie Wire, The Wrap, Vulture e Variety elogiaram não só mais um trabalho competente de Farhadi, como o roteiro. Os conflitos entre os personagens seriam a grande força da narrativa, justamente por não se prender somente às questões pessoais dos personagens. O longa tem um ar de mistério que, segundo o Indie Wire, se torna quase uma obra de Agatha Christie, onde todos são suspeitos e todos desconfiam de todos. Em termos de atuação, Javier Bardem é o mais citado como o grande destaque.

Everybody Knows foi o filme de abertura de Cannes 2018 e, logo em seguida, a Focus Features adquiriu os direitos de distribuição.

 

Leto

(dir. Kirill Serebrennikov | com Teo Yoo, Irina Starshenbaum e Roman Bilyk)

O diretor deste filme russo foi colocado em prisão domiciliar antes de terminar o filme. O longa, predominantemente monocromático, segue uma banda de rock para falar sobre música e a contracultura na União Soviética.

O filme recebeu bastante elogios da revista Time, que disse que, apesar de não se aprofundar em política, o longa tem um frequente senso de perigo e acaba por retratar como era difícil a realidade dos músicos na antiga União Sovitética. Um dos pontos positivos apontado por alguns críticos é que o público parece ter curtido bastante as músicas.

 

Yomeddine

(dir. A.B. Shawky | com Rady Gamal e Ahmed Abedelhafiz)

O primeiro longa do diretor egípcio conta a história de Beshay, um leproso que viaja pelo Egito depois da morte da esposa em busca de seus parentes que não vê há anos. Seu companheiro de viagem é Obama, um adolescente que vive num orfanato próximo à colônia dos leprosos.

As opiniões sobre esse road movie têm sido divididas. Enquanto alguns elogiam a história emocionante, outros comentam que ela não é eficiente. No entanto, a performance de Rady Gamal foi elogiada por diversos veículos especializados, descrita como uma daquelas que “enchem o coração”. O adolescente Ahmed Abedelhafiz, que faz o garoto Obama, também tem chamado atenção. Segundo o Indie Wire, as performances dos dois, individualmente, já são ótimas, mas, quando a dupla se junta, o filme fica ainda melhor.

 

Cold War

(dir. Pawel Pawlikowski |com Joanna Kulig e Tomasz Kot)

O novo longa do diretor de Ida trata da história de amor entre Wiktor e Zula, que se passa na Polônia, no pós-guerra. O preto e branco, novamente obra do diretor de fotografia Lukasz Zal (também de Ida), confere um ar sombrio e muito bonito à história.

O filme tem recebido elogios de forma quase que unânime da crítica. Muitas delas ressaltam que, embora nada dê motivos ao espectador para compreender por que duas pessoas como Wiktor e Zula ficariam juntas, mesmo assim, o público é capturado.

**Update: Cold War rendeu a Pawel Pawlikowski o prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes 2018.**

 

Sorry Angel

(dir. Christophe Honoré | com Vincent Lacoste, Pierre Deladonchamps e Denis Podalydès)

Este é o novo drama gay de Christophe Honoré. Se passa em Paris no início da década de 1990 e trata de dois homens com uma diferença de idade; um é o escritor Jacques, soropositivo, e o outro é Arthur, um jovem aspirante a cineasta. Os conflitos de geração acabam sendo bastante explorados, assim como a sexualidade relacionada à idade de cada personagem.

Indie Wire diz que o filme tem uma das melhores cenas da carreira de Honoré: uma sequência em um estacionamento com vários homens, que “se desdobra com a poeticidade de uma sequência de dança”. Para o Village Voice, o filme não atinge todo o seu potencial. Porém, a maioria dos críticos têm elogiado o longa.

 

Ash Is The Purest White

(dir. Jia Zhangke | com Tao Zhao, Fan Liao e Yi’nan Diao)

A violência e a identidade cultural servem como pano de fundo para esse filme chinês. Segundo a crítica, o longa é bastante bem dirigido. São 3 partes, 5 tipos de câmera e 17 anos de mudanças na China.

O filme foi descrito pelo Indie Wire como um “mash-up longo e melancólico” dos filmes anteriores do diretor, mas dando a entender como um elogio. O The Film Stage deu nota máxima para o longa chinês, elogiando especialmente a protagonista, Tao Zhao. Segundo Rory O’Connor, o filme é um veículo tremendo, engraçado, devastador e dilacerante para a atriz.

 

The Image Book

(dir. Jean-Luc Godard)

O novo filme de Godard tem um ar experimental e deixa a mensagem de que estamos todos condenados, já que o mundo entra pouco a pouco em colapso. Com uma ambição filosófica evidente, é um daqueles filmes que necessita de várias revisitas para uma melhor absorção. Mesmo aos 87 anos, Godard vem com tudo e não poupa suas forças para construir um filme visceral, que mostra a derrocada do mundo.

 

Three Faces

(dir. Jafar Panahi | com Behnaz Jafari, Jafar Penahi e Marziyeh Rezaei)

cannes

O introspectivo Three Faces traz uma história que pode ter vindo das experiências pessoais de Panahi. O diretor também atua no filme em um papel secundário. A narrativa se passa na Turquia e tem pitadas de metalinguagem, já que acompanha uma atriz tentando descobrir se uma garota cometeu suicídio.

Para o Indie Wire, o longa traz uma “exploração eficaz da censura e da opressão em uma sociedade que aceita esses fenômenos como fatos da vida”.  Assim como Serebrennikov, o diretor iraniano foi proibido por seu governo de deixar o país para comparecer ao Festival.

**Update: Three Faces foi um dos filmes escolhidos como melhor roteiro.**

 

Girls of the Sun

(dir. Eva Husson | com Golshifteh Farahani, Emmanuelle Bercot e Evin Ahmad)

É um filme de guerra totalmente feminino, o que, de certa forma, já o torna especial. É levemente baseado na história de mulheres iraquianas e sírias que escaparam de sequestro nas mãos de guerrilheiros do Estado Islâmico.

Mais um filme com recepção dividida. Segundo o Indie Wire, a história pode decepcionar um pouco, mas o suspense criado é muito bom. Há bastante tensão nas cenas de ação que são muito bem dirigidas. O Hollywood Reporter concorda que as sequências de ação é o que o filme oferece de melhor.

 

Happy as Lazzaro

(dir. Alice Rohrwacher | com Adriano Tardiolo, Alba Rohrwacher e Agnesi Graziani)

O início mostra a vida no interior da Itália. Mas, o que parecia ser um drama ganha um plot-twist que o leva para uma direção “sobrenatural”. O protagonista, Lazzaro, é deixado para trás em sua cidadezinha e, anos depois, precisa aprender a viver na cidade.

É um filme cheio de simbolismos e bem original e foi essa característica que encantou a crítica internacional. A Variety o definiu como uma fábula calcada em observações irônicas e que, apesar de lento, recompensa a paciência do espectador com um excelente estilo de humor.

**Update: Happy as Lazzaro foi um dos filmes escolhidos como melhor roteiro.**

 

Shoplifters

(dir. Hirokazu Kore-eda | com Kirin Kiki, Lily Franky e Sôsuke Ikematsu)

Uma família de hábitos moralmente duvidosos vive da venda dos itens furtados, diariamente. Um dia eles encontram uma garotinha sozinha na rua, e decidem levá-la para casa. O patriarca decide que a menina, cheia de marcas de agressão pelo corpo, ficará sob os cuidados da família e será treinada para realizar os furtos como os demais.

O drama familiar é uma das grandes sensações de Cannes. O The Guardian classificou o filme como “uma visão contemporânea do Japão de classe-média: astuto, realista, tão claro e tranquilo quanto um copo de água fria”. Enquanto isso, o Hollywood Reporter afirma que Kore-era guarda os sentimentos dos filmes para explodirem nas cenas certas.

**Update: Shoplifters foi o vencedor da Palma de Ouro de 2018**

 

BlacKkKlansman

(dir. Spike Lee | com John David Washington, Adam Driver e Topher Grace)

cannes

Em constante flerte com o blaxploitation, BlacKkKlansman se passa em 1978 e narra a história de um policial negro (Washington) que consegue se infiltrar no Ku Klux Klan.

O novo filme de Spike Lee foi ovacionado no Festival. Há quem diga que é um verdadeiro tapa na cara da chamada “Era Trump” e seus apoiadores. Emily Yoshida, da Vulture, conta que o protagonista é um personagem fascinante e que Washington consegue passar a sensação de estar em todos os lugares e em lugar nenhum ao mesmo tempo. A performance de Adam Driver é outra que também tem recebido muito destaque.

**Update: BlacKkKlansman levou o Grande Prêmio do Júri de 2018.**

 

Asako I & II

(dir. Ryûsuke Hamaguchi | com Masahiro Higashide, Erika Karata e Sairi Itô)

Em épocas diferentes da vida, Asako se apaixonou por dois homens de personalidades bem distintas. Porém, eles são fisicamente idênticos. Baseado no livro de Tomoka Shibasaki, o novo romance de Hamaguchi explora os mistérios do coração.

No entanto, o filme vem dividindo opiniões em Cannes. O que deveria ser um estudo sobre o amor e os “mistérios do coração”, na tela, torna-se a narrativa de uma “decisão banal”, segundo a Variety. O Hollywood Reporter salientou ainda que nem mesmo a química entre os protagonistas convence.

 

At War

(dir. Stéphane Brizé | com Vincent Lindon)

O drama francês sobre a “guerra” entre operários e chefes de uma fábrica que está prestes a ser fechada agradou parte da crítica, mas não conquistou a todos.

Enquanto a crítica do Screen Daily afirma que o filme é uma história que vale a pena ser contada e é bem sucedida em seu formato, trazendo bastante veracidade, o The Guardian coloca o filme como algo que “apesar dos toques inteligentes e perspicazes”, sofre de uma “autopiedade martirizada”.

 

Under The Silver Lake

(dir. David Robert Mitchell | com Andrew Garfield, Riley Keough, Topher Grace)

Também com reações bastante divididas está o americano Under The Silver Lake, sobre um homem que embarca na investigação do desaparecimento de uma mulher misteriosa que nadava em sua piscina. De acordo com o Village Voice, o diretor tentou ir por caminhos típicos de Paul Thomas Anderson, David Lynch e Brian De Palma, mas se perdeu.

Já Joshua Rothkopf, da Time Out, deu nota máxima ao filme, destacando que o filme é “adoravelmente estranho”, destacando uma qualidade hipnótica do longa, que se envereda pelo território de O Grande Lebowski (dos irmãos Coen).

 

Burning

(dir. Chang-dong Lee| com Ah-in Yoo, Jong-seo Jeon, Steven Yeun)

O longa sul-coreano conta a história de um entregador que reencontra uma antiga vizinha, que pede que ele tome conta de seu gato enquanto viaja. Ao retornar, ela apresenta ao rapaz um homem misterioso (vivido por Steven Yeun, de Okja e da série The Walking Dead) que ela conheceu na viagem.

O filme foi sucesso entra a crítica, conseguindo nota máxima de veículos importantes como o Screen International, o The Telegraph e o Los Angeles Times. Este último divulgou que Burning é um estudo de personagem que se transforma em um mistério provocante e em um thriller completo.

 

Dogman

(dir. Matteo Garrone | com Marcello Fonte, Edoardo Pesce, Nunzia Schiano)

A trama de vingança italiana dividiu opiniões, apesar de a atuação de Marcello Fonte ter conquistado a crítica. O Indie Wire afirmou que o filme não é convincente, mas que a performance de Fonte beira a perfeição.

Ao contrário do Indie Wire, o Hollywood Reporter classificou o filme como uma experiência intensa, ressaltando as performances de Fonte e de Edoardo Pesce, assim como o roteiro tenso, direto e com espaço para um humor sarcástico.

**Update: Marcello Fonte foi eleito o melhor ator do festival.**

 

Capernaum

(dir. Nadine Labaki | com Nadine Labaki)

Usando basicamente atores não profissionais, a produção libanesa conta a história de um garoto que resolve processar os próprios pais. É um filme carregado de temas políticos, que o The Guardian afirmou ter um final tolo, mas que também “há energia e vigor também”.

No entanto, o The Telegraph deu nota máxima para o longa, dizendo que Capernaum é sensacional e que está “próximo em textura e espírito” do nosso Cidade de Deus, de Fernando Meirelles.

**Update: Capernaum foi o vencedor do Prêmio do Júri.**

 

Knife + Heart

(dir. Yann Gonzalez | com Vanessa Paradis, Kate Moran, Nicolas Maury)

Um thriller investigativo que se passa no verão de 1979, utilizando como pano de fundo a indústria de cinema pornô.

O Film Stage elogiou a produção do longa, a direção e o roteiro, embora tenha comentado que, em certo momento, Knife + Hearts perde o fôlego e usa gags visuais e simbolismos cheios de redundância. A Variety deixou claro que, embora a violência seja gráfica, as cenas que envolvem sexo não são, e que Gonzalez apresenta “uma ideia quase ‘lúdica’ do que se passava por pornografia gay na época”.

 

Ayka

(dir. Sergei Dvortsevoy | com Samal Yeslyamova)

Ayka é sobre uma jovem passando por diversas dificuldades. O filme acompanha a moça por cinco dias, logo após ela ter dado a luz em um hospital de Moscou. Segundo o CineVue, Dvortsevoy mantém a câmera próxima da personagem o tempo todo, usando predominantemente planos médios e mal deixando espaço entre ela e o público. Em alguns momentos, com a nevasca e os prédios altos, daria a impressão de o mundo estar desabando sobre a jovem.

O Hollywood Reporter ressaltou a performance de Samal Yeslyamova, que seria “intensa e comprometida”.

**Update: Samal Yeslyamova foi eleita a melhor atriz do festival.**

The Wild Pear Tree

(dir. Nuri Bilge Ceylan| com Dogu Demirkol, Murat Cemcir, Bennu Yildirimlar)

O elogiadíssimo filme turco arrebatou a crítica com uma história simples porém extremamente genuína. O The Guardian, por exemplo, encheu o filme de adjetivos, classificando-o como “gentil, humano, lindamente feito e magnificamente representado”.

Já o Indie Wire comenta que Ceylan deu uma forma interessante para uma fórmula antiga (já que o filme trata das dificuldades que podem ser encontradas ao voltar para sua terra natal). Ainda de acordo com a publicação, o filme mantém uma “ sofisticação visual sem paralelo no cinema internacional”.

 

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Roseana Marinho

Roseana é publicitária e acha que os dias deveriam ter pelo menos 30h para trabalhar e ainda poder ver todos os filmes e séries que deseja. Não consegue parar de comprar livros ou largar o chocolate. Tem um lado meio nerd e outro meio bailarina.

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