La La Land e as Cores da Estação

 

Não basta ter um bom roteiro e atores que consigam proferir os diálogos escritos para que um filme seja competente em suas pretensões. Cinema, em essência, é imagem; por isso, podemos afirmar que tudo que envolve o aspecto visual é cuidadosamente pensado para expressar sentimentos e ideias. La La Land: Cantando Estações é um desses exemplos que consegue ter uma coerência de cores (seja nos figurinos, como também nos cenários) que atravessa seus dois românticos personagens principais.

A começar por Mia (já que vemos, primeiramente, sua rotina no filme) que explora roupas bastante coloridas pra conseguir chamar atenção daqueles que possam realizar seu sonho de ser atriz em alguma peça, filme ou qualquer coisa do gênero. Entretanto, sua lógica visual enquanto está em seu trabalho (servindo comida e café numa lanchonete dentro de um estúdio), ou até mesmo quando está no conforto de sua casa é alterada para tons amenos, chegando até a cor extremamente neutra: o branco.

E é exatamente o branco que dá esse viés profissional, uma vez que a maioria das aspirantes, que estão com Mia na audição, o empregam, incluindo ela mesma. Então, é inteligente por parte dos criadores (que contam com a maravilhosa fotografia de Linus Sandgren e figurinos de Mary Zophres) pôr uma mancha de café na camisa branca da protagonista, logo no início do longa, para expor o sentimento de insatisfação e decepção que a mesma tem com o andamento de sua carreira.

Com o passar do tempo, sua consequente maturidade com as tentativas como atriz são notadas; em razão disso, vestir trajes cada vez mais sóbrios e sutis é uma ferramenta para demonstrar essa sensação, o que culmina (na cena final) na personagem usar um vestido preto: a cor mais sóbria possível para expor sua independência e realização profissional.

La La Land

Já Sebastian é um indivíduo agarrado ao passado e incondicionalmente apaixonado pelo jazz, tendo como consequência direta um cinismo e pessimismo no que tange à configuração atual da indústria da música; ainda assim, é um personagem detentor de características que fazem com que o espectador torça para que tenha um final feliz.

Exatamente por ter essa personalidade, vemos o músico, com frequência, utilizar cores neutras e pastéis: seja no primeiro encontro dentro da sala de cinema com Mia, no casamento de sua irmã, ou até mesmo quando seu sonho de ser dono de um local onde toca jazz acontece. Contudo, é de maneira reveladora que o visualizamos insatisfeito com ternos pretos quando torna-se integrante de uma banda popular (obviamente, não há nenhum resquício do gênero musical que tanto ama), findando no único conflito real do casal, onde o tópico sobre perseguir seus objetivos é discutido. A diferença do conceito da cor preta entre os protagonistas, portanto, é concretizada de modo elegante e eficaz.

La La Land

Porém, a cor que abrange de maneira belamente poética o casal é o azul e suas diferentes tonalidades. A primeira vez que presenciamos esse conceito é quando a personagem interpretada por Emma Stone (vencedora do Oscar pela atuação) utiliza um vestido azul, quando se depara com Sebastian (Ryan Gosling num trabalho que lhe rendeu indicação ao prêmio da Academia) tocando piano num restaurante, na época de Natal — e o mesmo também está trajando um terno bastante azulado, apesar de não compartilhar, naquele exato instante, o encantamento experimentado pela sua futura namorada. Então, é mais que natural que, com o decorrer da obra, essa mesma cor invada não apenas os figurinos, mas também os cenários que adquirem iluminações que parecem banhar a dupla e tudo em volta.

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Pensando em não tornar o elemento em algo óbvio e artisticamente nulo, o diretor Damien Chazelle, de forma pontual, utiliza a referida cor em roupas, acessórios e objetos. Até na briga que define o rumo de ambos, Mia, por baixo do suéter escuro, usa outro traje levemente azulado.

O diretor evidencia sabedoria, por exemplo, na cena que aborda o ápice sentimental dos dois, quando ocorre uma conversa sobre o futuro, num recinto coberto pela cor vermelha que flerta com o néon, representando, nesse caso, o sentimento mútuo de amor; ainda assim, a personagem feminina veste uma camisa social azul clara que parece pertencer ao companheiro — com isso, não há uma subversão e desconstrução propriamente dita das típicas alusões do vermelho, mas sim uma nova roupagem para o azul que está ali sempre para simbolizar o casal, independentemente das outras colorações que possam surgir na tela.

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Portanto, não é coincidência que segmentos como a primeira dança dos dois, ao som de A Lovely Night, a cena no Observatório Griffith e a da canção City of Stars, possuam essas concepções mencionadas, sendo o mais doloroso e belo da obra o fato de praticamente encerrá-la com a face de Mia, num sorriso e olhar que expressam todos esses sentimentos direcionados. E adivinhem qual é a cor que cobre o rosto da mesma?

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Jonatas Rueda

Capixaba, formado em Direito e cinéfilo desde pequeno. Ama literatura e apenas vê séries quando acha que vale muito a pena. Além do cinema, também é movido à música, sendo que em suas playlists nunca podem faltar The Beatles, Bob Dylan, Eric Clapton e Led Zeppelin.

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One thought on “La La Land e as Cores da Estação

  • 5 de junho de 2018 at 13:55
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    Foi uma surpresa pra mim, já que foi uma historia muito criativa que usou elementos innovadores e um elenco super bom. É uma história muito bonita, com uma essência romântica. Ryan Gosling foi perfeito para o papel, ele é um ator que as garotas amam por que é lindo, carismático e talentoso. Blade Runner 2049 é um dos seus filmes mais recentes dele, eu gostei muito. Acho que o diretor Denis Villeneuve fez um ótimo trabalho no filme, ele conseguiu fazer uma sequela impecável e manteve a mesma atmosfera. A fotografia impecável. Recomendo muito: https://br.hbomax.tv/movie/TTL617387/Blade-Runner-2049 grande história! O elenco é incrível.

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