Bang Bang | Hostis

 

O western, gênero que já fora muito popular nos Estados Unidos e Itália, ainda rende bons exemplares. Mesmo que não sejam tipicamente faroestes, alguns filmes recentes possuem várias características do estilo, como O Regresso e À Qualquer Custo. Hostiles é um exemplo de western revisionista, embora não consiga alcançar um efeito tão eficiente quanto outros contemporâneos.

Scott Cooper é um diretor versátil: o debut foi através de um drama musical em Coração Louco. Dirigiu dois policiais (o mais voltado à temática da máfia em Aliança do Crime e o tradicional Tudo por Justiça) e um western. Apesar da versatilidade, Cooper ainda não despontou com uma obra-prima. Um profissional competente que aos poucos firma o nome na indústria.

O principal diferencial de Hostiles é a contemplação em contraponto à agitação. Possui algumas cenas de ação, mas não são prioridades. O foco é mostrar o período de conflitos sangrentos entre os confederados e indígenas Apaches/Comanches. Apesar do caráter predatório do homem branco, o longa é imparcial em não “vilanizar” um lado em detrimento do outro. Atos de brutalidade foram perpetrados tanto por soldados americanos quanto por nativos indígenas. O “Hostis” do título não tem identidade própria, pode ser qualquer um em cena.

O trunfo do filme é a história de redenção de um homem que antes odiava um determinado povo, porém tem que lidar com as consequências de atos de violência. O capitão Joseph J. Blocker (Christian Bale) é um indivíduo que já viu muita morte na trajetória militar e sente o peso de cada perda. Inicialmente, ele é alguém que odeia indígenas, que teve um passado brutal, ciente de atos não-inocentes e reconhece depois como cada vida é importante. O peso da morte ronda toda a obra, cada perda é sentida em ambos os lados.

Rosalee Quaid (Rosamund Pike) é uma mulher que sofreu um trauma, situação vista na cena inicial do filme: um massacre realizado por índios. A sequência é muito violenta e não poupa bebês ou crianças. A jornada que ela vai participar, após esses eventos, também vai ser de redenção e perdão. O sangue que flui nas veias do típico americano é o mesmo que encontra-se em outros povos. Todo personagem do filme sofreu uma perda irreparável e há uma reflexão sobre esse tema.

Com exceção de poucas cenas de ação, o filme tem um ritmo bastante cadenciado. O espectador pode até imaginar que é um longa dirigido por Terrence Malick, diante do caráter mais reflexivo e intimista. Se a fotografia de Masanobu Takayanagi — habitual colaborador do diretor — fosse mais virtuosa e detalhista, como as constantes nos filmes do Malick, poderia enganar facilmente a quem assiste.

As performances de Pike e Bale são as mais importantes. Bale (em segunda colaboração com o diretor) interpreta um homem repleto de marcas e, que por ter visto tantas pessoas falecerem, valoriza cada sopro de vida. Pike transmite uma mulher enlutada e seu desespero é visível nos traços da atriz. O elenco do filme é bem composto: Timothée Chalamet faz uma ponta, Jesse Plemons interpreta um soldado inexperiente em relação às mortes em combate, Adam Beach e Wes Studi interpretam nativos Cheyenne. E Ben Foster faz o seu papel habitual de vilão, em rápida participação.

O misto de western com road movie funciona até o segundo ato. É uma jornada de redenção de um ponto A a um ponto B, tendo algumas subtramas que desviam o foco do filme. A partir da segunda metade, o longa fica um pouco enfadonho em sua repetição de temas sobre a reflexão da morte. Mudanças de comportamento nos personagens não são tão espontâneas, o que pode gerar um desinteresse no destino deles. As funções dos indígenas na narrativa são subaproveitadas, o que não confere grande dramaticidade à fita em determinado ponto. E não demora para aparecerem clichês tão óbvios que atrapalham um pouco a experiência.

Com uma duração menor e polimento de certas subtramas que incham a narrativa principal, Hostiles poderia ser um grande exemplar do western. Em seu resultado, torna-se um exemplar acima da média; um longa que não dá tanta importância aos tiroteios e ao ritmo, mas sim em refletir sobre o peso de uma vida que independe de raça e credo. O mal existe em cada um de nós, mas podemos conviver de uma maneira harmoniosa ao jogar nossas diferenças de lado e nos concentrarmos nas semelhanças.

Nota: ★★★✰✰

 

Ficha Técnica:

 

Hostiles

Ano: 2017

Direção: Scott Cooper

Elenco: Christian Bale, Rosamund Pike, Timothée Chalamet, Jesse Plemons, Stephen Lang, Wes Studi, Adam Beach, Bill Camp, Ben Foster

Fotografia: Masanobu Takayanagi

 

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Ibertson Medeiros

Graduado em Direito, sempre quis trabalhar de alguma forma com cinema, pois é uma paixão desde a infância. Cearense, fã dos anos 1970, curte o bom e velho Rock ‘n Roll e um cinema mais alternativo e underground, sem tirar os olhos das novidades cinematográficas.

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