Persona | Thanos (Vingadores: Guerra Infinita)

 

Em 2012, a Marvel abriu as portas de seu universo cinematográfico para um dos vilões mais complexos e impiedosos dos quadrinhos. Por mais que tenha tido uma participação pequena em Os Vingadores, nos é dada uma apresentação simples, porém inquietante. Um dos seus servos utiliza poucas palavras para alertá-lo: “Humanos, eles não são os covardes que nos prometeram. Eles se defendem; desafiá-los é cortejar a morte”. Thanos, em apenas um sorriso, já deixava claro que a morte é algo que ele conhece muito bem e que, definitivamente, não a teme. Além de um fanservice, já é entregue o primeiro passo da construção de um personagem que duraria mais 6 anos.

Durante várias participações em alguns filmes do MCU, Thanos não dava muita noção de sua grandeza. Realmente, só fomos entender sua magnitude na primeira cena de Guerra Infinita. A sua presença, crescendo nas sombras à beira do espaço, o destaca da melhor forma possível, com apenas sua silhueta negra e, aos poucos, vai revelando seus traços. Em seu diálogo inicial, a morte, a dor e a angústia são citados; e não é à toa que o Titã traz esse assunto logo em suas primeiras falas — segundo ele, é o sofrimento que o motiva e apenas ele reconhece o verdadeiro sofrimento.

A cena de abertura de Vingadores: Guerra Infinita foi tão perfeitamente pensada, que nela temos os deuses de Asgard e Hulk sendo derrotados facilmente. A partir de então, todas as emoções que sentimos quando Thanos aparece em tela são extremamente variadas, mas uma se destaca por estar presente sempre: a tensão. Como encarar um personagem que derrota os seres mais poderosos daquele universo nos primeiros 10 minutos de filme? Os irmãos Russo tinham plena noção de como levar todos ao extremo medo, e esse caminho foi devidamente bem construído.

Após Thanos derrotar Hulk, Thor e Loki, ele coloca uma das joias em sua manopla e começa a retirar sua armadura. Um simbolismo escrachado de sua confiança. Nesse momento, Thanos tem a certeza de que não pode mais ser derrotado. A arrogância fica evidente em seus olhos e o torna ainda mais ameaçador. O incrível trabalho de Josh Brolin com o olhar do personagem consegue tirar o sentimentalismo, mesmo embaixo de todo o CGI que envolve aquela figura.

Mesmo com todo esse medo que sua presença transmite, o Titã Louco acaba por mostrar seu ponto fraco quando sua filha Gamora (Zoe Saldana) está por perto. O relacionamento dos dois é complexo — Gamora o ama, mas sabe que tudo que o rodeia é dor e morte. É provável que a filha seja a única pessoa que ele já amou na vida, pois o zelo por ela é enorme. Ao oferecer alimento, e após ela dizer que odeia o seu trono, Thanos senta no chão, demonstrando o tamanho respeito que tem por ela. São pequenas coisas que nos fazem sentir esse apego e tudo isso constrói uma relação que chega ao seu ápice quando ambos vão ao encontro da Joia da Alma. Ali, ao sacrificar a própria filha para obter a tão desejada joia (uma alusão direta a Deus e Jesus Cristo), entendemos que, de fato, o Titã não recebeu o apelido de “louco” por acaso. Compreendemos, definitivamente, que nada o pararia, nem que custasse a vida da amada filha.

Temos aqui um personagem tão bem construído que, mesmo após tudo isso, entendemos as motivações que o levam a dizimar metade das pessoas do universo em busca do equilíbrio perfeito. O radicalismo é o caminho que ele segue, ainda que por motivos nobres. A mensagem bate em cima da miséria que a maior parte da humanidade sofre e, sem diferenciar raça, gênero ou riqueza, Thanos consegue concluir seu plano. É um sentimento confuso quando vemos de um por um cada personagem se transformando em pó; a música para e, ao nos depararmos com aquilo, ficamos anestesiados. Em uma cena onírica, vemos o Titã de frente a uma Gamora mais jovem e um diálogo que particularmente nos faz tremer:

– Você conseguiu?

– Sim.

– O que lhe custou?

– Tudo.

Thanos pode ser um louco radical, que precisa ser rapidamente interditado, mas acaba por demonstrar um dos sentimentos mais humanos de todos esses 10 anos de MCU. Ele fecha o filme isolado em um campo, com um leve sorriso no rosto — um sorriso que foi sua marca quando apareceu pela primeira vez, há 6 anos. Mas, dessa vez, a expressão é de alívio, mesmo que o peso na consciência seja algo que ele terá que carregar pelo resto da vida.

 

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Ítalo Passos

Cearense, estudante de marketing digital e crítico de cinema. Apaixonado por cinema oriental, Tolkien e ficção científica. Um samurai de Akira Kurosawa que venera o Kubrick. E eu não estou aqui pra contrariar o The Rock.

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