Sci-Fi | Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros
Que Steven Spielberg é um dos diretores mais visionários de sua geração, disso ninguém duvida. Sua criatividade chegou ao ápice quando decidiu adaptar o livro Jurassic Park, de Michael Crichton. Ter que dar vida a seres extintos há séculos em 1993 foi provavelmente o maior desafio de sua carreira. Spielberg sabia que aquilo só seria possível com uma precisa mescla de efeitos práticos e digitais. A utilização de robôs tornou as criaturas praticamente vivas; atrair o fascínio do público era um dos fatores essenciais para o longa funcionar.
A utilização de computação gráfica foi revolucionária para a época e criou seres extremamente bem detalhados, já que nem tudo poderia ser feito com robôs, pois as máquinas tinham movimentos limitados. A ousada alternativa acabou funcionando muito bem, visto que até hoje não temos cenas datadas, mesmo após 25 anos. Depois de Jurassic Park, a tecnologia entrou em um processo de evolução imparável e isso vem ajudado o cinema a realizar projetos que, há algumas décadas, pareciam impossíveis.
Outro grande acerto do filme é seu elenco: não existe um personagem que não desperte algum interesse. Todos que têm sua construção direcionada para serem “vilões”, conseguem extrair a indignação e a curiosidade do público. Podemos não concordar com o que eles fazem, mas nos interessamos em saber aonde aquilo vai se concluir. O mesmo vale para os protagonistas: você acaba se identificando e se apegando. O principal motivo é que nós vamos descobrindo tudo junto com eles. Spielberg cria um clima aventuresco durante toda a primeira parte, mesmo sem revelar nada. Aos poucos, adentramos naquele mundo e a nossa reação ao ver o primeiro grande dinossauro em tela é representada pelos personagens que ficam boquiabertos. A marcante música subindo e a utilização de um contra-plongée pelo diretor, nos fascinam. São os artifícios perfeitos para tornar esta cena uma das mais marcantes da obra.
Toda essa identificação tem um aliado forte para ter efeito: John Williams, com sua empolgante música, vai crescendo durante todo o filme e, ditando bem o ritmo, torna tudo mais empolgante. Sem a música, Jurassic Park dificilmente teria tanta força em suas cenas – é o complemento perfeito ao que os olhos veem. Junto à música, toda a mixagem de som se encaixa perfeitamente, ajudando a criar uma atmosfera intrigante, mesmo em cenas em que a música não se encontra presente.
Depois do espírito de aventura estar completamente consolidado, Spielberg surpreende e praticamente o transforma em um filme de horror. Na cena da primeira aparição do T-Rex, a cinematografia muda: o ambiente noturno, a chuva, o silencio, tudo isso modifica o clima. A utilização de sons pesados, de grandes pisadas que machucam o chão e a água do copo criando pequenas ondas são cruciais para quem assiste ao filme ficar tenso. São pequenos detalhes que definem a antológica primeira aparição do predador. Um outro ótimo exemplo do acerto sonoro é a decisão de utilizar guitarras para criar o som que os velociraptors emitem. O ruído agudo torna os animais ainda mais ameaçadores. E, a partir daí, o diretor vai mesclando de forma bastante orgânica a aventura e o horror.
Para um filme com essas mudanças de tom funcionar naturalmente, o ritmo não pode ficar oscilando. E nisso também o filme se destaca de modo positivo, já que em todas as cenas estamos empolgados, seja com uma explicação animada de como os dinossauros foram revividos, ou com quando os personagens se deparam com um triceratops doente. São grandes acertos na montagem, principalmente, que sabe destacar, em ordem perfeita, a aparição de cada núcleo.
Jurassic Park não é só um blockbuster bem feito. Não é só um filme revolucionário pelos seus efeitos especiais; ele tem muito a nos dizer. Vemos muito do próprio Spielberg no personagem John Hammond (Richard Attenborough), que tinha o sonho de trazer aqueles seres à vida, mas não para serem apreciados apenas por multimilionários – queria que o mundo inteiro os visse e que todos sentissem o fascínio que é estar ao lado dessas criaturas. Sabemos que a natureza é imparável e, como diz o Dr. Malcolm (Jeff Goldblum) após o Dr. Wu (B. D. Wong) afirmar que é impossível os dinossauros se reproduzirem, pois todos que nascem no parque são fêmeas; “A vida sempre encontra um meio”. Sabemos que não existe o impossível, basta estar vivo.
Nota: ★★★★✰
Ficha Técnica
Nome Original: Jurassic Park
Direção: Steven Spielberg
Ano: 1993
Roteiro: Michael Crichton, David Koepp
Elenco: Sam Neill, Laura Dern, Jeff Goldblum, Richard Attenborough, Bob Peck, Martin Ferrero, BD Wong, Joseph Mazzello, Ariana Richards, Samuel L. Jackson, Wayne Knight
Fotografia: Dean Cundey
Trilha Sonora: John Williams