Clube Cartoon | Os Incríveis
O sexto filme da Pixar Animation (bem antes de ser Disney Pixar), continua a impressionar, mesmo 14 anos após seu lançamento. Depois de Montros S.A. e Procurando Nemo, que carregavam um viés lúdico, o diretor e escritor Brad Bird entregou Os Incríveis com tons mais maduros, mas sem perder a vibe clássica do estúdio. Não é à toa que os pequenos não se encantam tanto, pois a narrativa é propositalmente voltada para o público mais velho. Nostálgico, resgata o estilo das antigas magazines, com seus super-heróis mascarados, parece ser inspirado no formato de seriados populares na década de 1960.
“A sua identidade é sua mais valiosa posse. Proteja-a!”
Na condição de heróis, cada um dos personagens possui um superpoder, e que está intimamente ligado às suas personalidades. Roberto é o Sr. Incrível. Com estereótipo protetor, seu poder é a super força. Helena é a Mulher Elástica, que se desdobra para fazer várias tarefas ao mesmo tempo. Mãe de três crianças, haja flexibilidade, física e emocional. Flecha é o típico garoto hiperativo e travesso, correndo a mil por hora com sua super velocidade. Violeta, a pré-adolescente tímida e insegura, prefere não se expor. O poder de invisibilidade é seu aliado, assim como o campo de força, que ativa como mecanismo de defesa. Zezé é só um bebê fofinho, mas, sabe-se lá o porquê, é o mais poderoso da família.
Vivendo na obscuridade suburbana de classe média, em consequência de um programa de proteção governamental, Roberto, Helena e os filhos são como pássaros de asas cortadas. Escondem sua verdadeira identidade para que não sejam descobertos. Mas, as forças do mal estão sempre próximas, e a Família Incrível ganha uma oportunidade para emergir, e vencê-las, mais uma vez.
“Nem todo super-herói tem superpoderes.”
Com um visual brilhante e criações inventivas, o longa também capricha nas cenas de ação, e, embora não seja o aspecto mais especial, consegue entreter, sem perder o charme. Na produção perfeccionista, os personagens foram construídos com riqueza de detalhes, desde o cabelo despenteado de Flecha, até as expressões faciais, cuidadosamente trabalhadas. Amarrando a narrativa, o roteiro tem muitas pinceladas adultas, com falas de caráter crítico, como quando o Sr. Incrível reclama sobre a escola do filho, afirmando que sempre arrumam um jeito de incentivar a mediocridade.
Nessa vertente, é possível analisar como o filme carrega esse tom crítico e simbólico, em relação à sociedade. A própria ideia da falsa identidade, que conversa com a vida monótona da família de heróis, reflete sobre a pressão que o mundo impõe às pessoas para que sejam todas iguais. Cumpra seu potencial, diz o filme. “Seja você mesma, e não deixe a pressão social derrubá-la ou colocá-la em uma caixa. Você tem mais poder do que pensa“.
“Nada de capas!”
Outro elemento que faz dessa obra um grande filme de animação, é a dublagem original, já que o elenco forma uma célebre equipe no trabalho de voz. Craig T. Nelson e Holly Hunter trazem uma enorme realidade para os papéis de Sr. Incrível e Mulher Elástica. Samuel L. Jackson impregna uma personalidade elétrica ao personagem Gelado, com um carisma e charme que exalam durante todo o longa. Facilmente, a melhor personagem do longa, Edna Moda, dublada pelo próprio Brad Bird, marcou uma geração com suas frases icônicas e jeito espirituoso de ser. “Quem vive de passado é museu. O futuro a gente faz agora.”
A Pixar não parece cometer um único erro quando se trata de elevar a arte da animação. E da mesma forma, não falha ao ilustrar o valor de uma família reunida, a beleza de ser você mesmo ou os resultados negativos do orgulho. Tudo somado, Os Incríveis se confirma como um dos melhores filmes de animação já criados. Será que Os Incríveis 2 estará à altura de seu antecessor? Falta pouco para descobrir.
Nota: ★★★★✰
Ficha Técnica:
Título original: The Incredibles
Ano: 2004
Direção: Brad Bird
Roteiro: Brad Bird
Elenco: Holly Hunter, Craig T. Nelson, Samuel L. Jackson, Jason Lee