Bang Bang | O Grande Roubo do Trem

 

Da importância do western para a história do cinema, todos já estão cansados de ouvir. Mas o que nem todos sabem é como isso tudo surgiu; o que inspirou os cineastas da época? Bom, O Grande Roubo do Trem foi um dos principais responsáveis para que o gênero fosse reconhecido e incansavelmente explorado durante anos. Dessas décadas de ouro, temos incontáveis clássicos mundialmente conhecidos, mas ainda existem vários para serem descobertos.

O plot é bem simples e direto: já inicia com os bandidos rendendo um funcionário da estação de trem, para conseguir acesso e seguir com seu roubo. Apenas com essa ideia, nasce uma das histórias mais clássicas da sétima arte. O fato do filme ser bem direto atrai a atenção do público, o deixa intrigado. Com a música, seguimos o ritmo. Sempre que temos em tela uma cena à qual o diretor (Edwin S. Porter) queria que o público ficasse totalmente atento, um órgão acelerado se exalta. É um método extremamente eficiente, já que a mudança do ritmo sonoro puxa de volta qualquer distração.

O filme investe em longos planos — o que era totalmente comum para a época — e, com isso, a mão do diretor pesa, extraindo atuações efetivas de seu elenco. A visível sincronia e gestos corpóreos tornam dispensáveis o uso de diálogos (sim, eu sei, naquela época não se registrava som nas películas).

Os efeitos práticos impressionam bastante, pois são os mesmos que permaneceram em trabalhos do gênero por décadas, como uma marca registrada. As fumaças que saem nos canos das armas ou até mesmo após uma pequena explosão de dinamites são bastante realistas; a utilização de bonecos quando os personagens eram jogados para longe já era aderida aqui. Hoje em dia pode parecer um pouco ridículo, mas numa época em que os efeitos eram escassos e dublês não existiam, foi uma jogada de mestre construir bonecos de pano.

A cinematografia também é algo de um destaque surpreendente. A utilização de 6 cenários em um filme de 12 minutos é louvável — não é fácil criar tanto em tão pouco tempo. O fato da montagem deixar o filme com um bom ritmo ajuda, mas temos que lembrar que o diretor trabalhou com longos planos e sem cortes dentro de cada um. Essas cenas mais longas ajudam a trabalhar melhor o roteiro. Notamos o contraste durante a apresentação dos vilões e mocinhos. Enquanto os bandidos são vistos com expressões mais sérias e apreensivas, aparentando preocupação e agressividade, em sua primeira aparição os mocinhos estão festejando, felizes e dançando, quebrando aquela festa apenas com a notícia da violação da lei no trem.

No fim, temos os bandidos sendo rendidos e se inicia um tiroteio. Sabendo que o lado mais poderoso da tela é o superior direito, o diretor coloca os homens da lei no fundo do cenário chegando devagarinho enquadrados exatamente neste canto. Utilizando este artifício, ele atrai a atenção do público fazendo-o não perder nada em cena. E não se contentando, ele fecha o filme com uma cena que faria qualquer um se arrepiar naquela época. Mostrando o vilão olhando fixamente para a câmera e atirando em direção ao público. É um filme que não pode morrer com o tempo.

Nota: ★★★★★

 

 

Ficha Técnica

Nome Original: The Great Train Robbery

Ano: 1903

Direção: Edwin S. Porter

Roteiro: Scott Marble, Edwin S. Porter

Elenco: A.C. Abadie, Gilbert M. ‘Broncho Billy’ Anderson, George Barnes, Justus D. Barnes, Walter Cameron, John Manus Dougherty Sr., Donald Gallaher, Shadrack E. Graham, Frank Hanaway, Tom London, Robert Milasch

Fotografia: Blair Smith

 

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Ítalo Passos

Cearense, estudante de marketing digital e crítico de cinema. Apaixonado por cinema oriental, Tolkien e ficção científica. Um samurai de Akira Kurosawa que venera o Kubrick. E eu não estou aqui pra contrariar o The Rock.

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