Brazuca | Entre Irmãs

 

Entre Irmãs é baseado no livro A Costureira e o Cangaceiro, escrito por Frances de Pontes Peebles. A trama se inicia no interior de Pernambuco durante os anos 1930 e mostra a tranquila vida de duas irmãs que, após alguns acontecimentos, acabam se separando e seguindo caminhos opostos. O diretor Breno Silveira já tinha mostrado que sabia contar uma boa história em Dois Filhos de Francisco e aqui, mais uma vez abordando uma trama sobre irmãos, ele consegue expandir sua visão com um épico cheio de camadas e de puro sentimentalismo. Apesar das quase 3 horas de duração, prende inteiramente o espectador.

As duas personagens centrais, Luiza (Nanda Costa) e Emília (Marjorie Estiano), são cheias de camadas, deixando a história mais rica, cheias de sonhos e paixões. Mesmo que o roteiro seja bastante aberto em relação ao sentimentalismo das personagens, as atrizes têm um peso enorme para fazer com que aquilo seja transmitido ao espectador. Ainda que Emília transmita otimismo em relação ao seu futuro enquanto a pessimista Luiza sempre ache que vai dar tudo errado, vemos através dos olhares que ambas têm almas guerreiras e estão dispostas a lutar pelo que acreditam.

A fotografia, com lindos planos abertos do sertão pernambucano, é completamente contrária aos planos fechados quando as cenas se passam na capital; isso diz muito, já que o longa vai além da trama entre as irmãs e chega a abordar assuntos políticos daquela época. A câmera aberta no sertão nos diz o quão rica é aquela cultura e que a mesma tem muito a nos contar. Já os planos mais fechados ao mostrar a capital nos passam a sensação de isolamento, como se a ignorância cegasse a todos. Isso está diretamente ligado à abordagem sobre o cangaço no interior, já que na capital homens lutam para abolir aqueles que vestem couro e seguem fazendo justiça na escassez do interior.

Infelizmente, o filme não é perfeito: ao mesmo tempo em que é bastante rico em suas subtramas, acaba se perdendo um pouco entre elas. Algumas ocupam muito tempo em tela, como a abordagem do relacionamento homossexual de Degas (Rômulo Estrela). Isso acaba não trazendo nada para a trama principal e o modo como este “problema” se resolve é preguiçoso e sem sentido, nos tirando da imersão. Creio que, se isso fosse retirado do filme, não afetaria muita coisa e ainda deixaria a experiência mais fluida.

Em um ano em que o cinema nacional trouxe várias obras extremamente importantes, Entre Irmãs se destaca ao abordar irmandade e laços familiares de uma forma pura e cheia de afeto. Mesmo sendo um filme longo, o ritmo se mantém firme, com uma narrativa bem consistente, passando entre assuntos pessoais e uma abordagem política extremamente importante. Às vezes, o vilão que enxergamos de longe é um grito de liberdade pelos que sofrem na pele o que é a miséria e a desigualdade. Sem dúvidas, um dos melhores filmes nacionais de 2017.

Nota: ★★★★✰

Ficha Técnica

irmãsDireção: Breno Silveira

Roteiro: Patrícia Andrade, Nina Crintzs

Elenco: Nanda Costa, Marjorie Estiano, Cyria Coentro, Letícia Colin, Ângelo Antônio, Rita Assemany, Rômulo Estrela, Lívia Falcão, Claudio Jaborandy, Julio Machado

Fotografia: Leo Resende Ferreira

Trilha Sonora: Gabriel Ferreira

Montagem: Carlos Pinheiro

Direção de Arte: Clara Machado

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Ítalo Passos

Cearense, estudante de marketing digital e crítico de cinema. Apaixonado por cinema oriental, Tolkien e ficção científica. Um samurai de Akira Kurosawa que venera o Kubrick. E eu não estou aqui pra contrariar o The Rock.

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