Poltrona Pipoca | Sicário: Dia do Soldado

 

Em 2015, Sicario: Terra de Ninguém chegava aos cinemas pelas mãos de Denis Villeneuve, em sua fiel parceria com o diretor de fotografia, Roger Deakins e o compositor Jóhann Jóhannsson. Criaram uma obra intensa. Três anos depois, chega a continuação direta dessa obra, só que, dessa vez, com Stefano Sollima no comando e sem Roger e o já falecido Jóhann no projeto. Nunca é fácil fazer uma continuação de um filme tão coeso; o roteiro estava mais uma vez nas mãos de Taylor Sheridan, que também escreveu o do longa original.

Durante o primeiro ato, a essência do filme anterior permanece firme, o roteiro expande sua crítica ao governo, mas plot é implantado com uma ideia que quer parecer maior do que ela realmente é. Novamente cartéis de drogas são o principal foco e, depois de um ataque terrorista a um supermercado, o governo descobre que os próprios cartéis estão ajudando terroristas a entrar pela fronteira.

Estamos familiarizados com a presença de boa parte dos personagens originais. Diferente do filme de 2015, já os entendemos, sabemos suas motivações, mas não os seus segredos pessoais. Josh Brolin e Benicio Del Toro, antes coadjuvantes, agora têm papéis de maior destaque aqui. O que nos leva a notar o primeiro problema do roteiro são as construções desses personagens. Como ambos protagonistas já tinham suas convicções e personalidades definidas, mexer nisso foi um grande erro, transformando cada um em uma persona completamente diferente da que nos foi apresentada há três anos. Isso causa um efeito dominó, várias cenas totalmente descartáveis que arrastam o filme em um ritmo incômodo.

A música de Hildur Guðnadóttir consegue emitir toda a intensidade que o filme precisa. Junto com a fotografia meio acinzentada, cria-se um clima pesado, com pitadas de agressividade. Ao observar algumas cenas, notamos que a intenção do diretor era chamar a atenção do público através da cinematografia, já que o roteiro falha ao criar uma história consistente.

Sollima dirige muito bem as cenas de ação. Ele as coloca em momentos pontuais, sempre quando o público está perdendo o interesse. Este artifício pode funcionar quando é utilizado para tapar algum buraco de um roteiro mais fechado. Aqui, infelizmente, temos uma oscilação, já que com o roteiro fraco, algumas funcionam e outras são totalmente desinteressantes. Um bom exemplo de como o ele se perde é quando temos o arco com Alejandro (Del Toro) e Isabel Reyes (Isabela Moner). São 20 minutos arrastados, que não se vê motivos para terem sidos mantidos no corte final, e ainda tiram uma boa parte do mistério que existia por trás de Alejandro. Claramente, o roteiro tenta abrir brechas para que o personagem se molde a possíveis continuações.

Além de ter 1/4 do filme em um arco que não leva a lugar algum, todo o plot com os terroristas é ignorado. Sendo quase um destrato do roteiro com o público, já que foi criada uma boa expectativa para o final do filme, sobre os ataques ao supermercado. Isso se repete algumas vezes durante o longa, trazendo soluções ridículas para arcos dos quais se esperava bastante.

Sicario: Dia do Soldado começa bem e constrói boas cenas de ação, com uma surpreendente boa direção e música que cria um bom clima de apreensão. Infelizmente, nada disso é o suficiente para suprir o roteiro frágil, que abre caminhos e os fecha da maneira mais boba possível. Não é um filme ruim, dá para se prender com boa parte do enredo; mas o fato de deixarem um gancho para a continuação da franquia não me anima.

Nota: ★★★✰✰

Ficha Técnica

soldadoDireção: Stefano Sollima

Roteiro: Taylor Sheridan

Elenco: Benicio Del Toro, Josh Brolin, Isabela Moner, Jeffrey Donovan, Catherine Keener, Manuel Garcia-Rulfo, Matthew Modine, Shea Whigham, Elijah Rodriguez, Howard Ferguson Jr., David Castañeda, Jacqueline Torres

Fotografia: Dariusz Wolski

Trilha Sonora: Hildur Guðnadóttir

Montagem: Matthew Newman

Direção de Arte: Marisa Frantz, Carlos Y. Jacques

Gostou? Siga e compartilhe!

Ítalo Passos

Cearense, estudante de marketing digital e crítico de cinema. Apaixonado por cinema oriental, Tolkien e ficção científica. Um samurai de Akira Kurosawa que venera o Kubrick. E eu não estou aqui pra contrariar o The Rock.

italopassos99 has 109 posts and counting.See all posts by italopassos99

One thought on “Poltrona Pipoca | Sicário: Dia do Soldado

  • 6 de fevereiro de 2019 at 13:10
    Permalink

    Da mesma forma que Guðnadóttir chega com despretensão e recicla parte da música do primeiro filme, Sicario 2 no geral assume sua vocação para a derivação. Na minha opinião, este foi um dos melhores filmes de ação que foi lançado. O ritmo é bom e consegue nos prender desde o princípio, em Sicario Dia Do Soldado, eu recomendo muito no caso de que ainda não viram. Não tem dúvida de que Benicio del Toro foi perfeito para o papel de protagonista, falar do ator significa falar de uma grande atuação garantida, ele se compromete com os seus personagens e sempre deixa uma grande sensação ao espectador.

    Reply

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *