Fotogramas | Oldboy (2003)

Oldboy é um importante filme por diversos motivos. Embora seja o segundo longa da “Trilogia da Vingança”, dirigida por Chan-wook Park, muitos tiveram contato inicialmente apenas com a saga de Oh Dae-su e foram conferir Mr.Vingança e Lady Vingança apenas posteriormente. Baseado na série de mangás escrita por Nobuaki Minegishi, o filme impressionou muitos espectadores tanto pela trama com seu plot twist marcante, quanto pelas cenas de violência e interpretação impecável de Min-sik Choi. Uma dessas cenas será detalhada em pormenores nesse texto, a famosa luta no corredor, um único plano sequência que figura como uma das mais incríveis sequências de ação já filmadas.

O diretor é conhecido por se preocupar muito com a estética das imagens e tal característica sempre esteve presente em seus longas. Embora sejam permeados por cenas de brutalidade, são belas e elegantes. A sequência da luta no corredor levou 17 takes para ficar pronta e durou cerca de 3 dias para ser filmada, em pouco mais de 3 minutos de duração. Começa com Oh Dae-su com um refém dominado. Um pano encharcado de sangue na boca da vítima, resultado da extração do dente com o martelo um pouco antes no filme. Oh Dae-su então fala para várias pessoas no corredor: “Todos vocês que possuem sangue tipo AB, levantem a mão”.

A câmera então sobe por trás da cabeça do personagem e foca um corredor repleto de homens armados o encarando, com dois deles levantando as mãos como voluntários do tipo sanguíneo.  O refém, chamado Shoo, é então libertado e o protagonista diz: Vá, Shoo! Ele perdeu muito sangue”. O corredor humano se abre e o ferido passa entre os homens para ser socorrido. Diante da atenção voltada ao percurso de Shoo, Oh Dae-su solta a faca que estava na mão. O tilintar do metal da arma chama a atenção de volta dos homens e, quando percebem, o protagonista vai em direção a eles com o martelo em mãos.

A partir daí começa um plano-sequência em que Chan-wook Park deixa a câmera focada em um ângulo 2D, como se fosse um game beat’em up ao estilo Double Dragon ou Streets of Rage, embora o diretor tenha dito que não foi proposital. Oh Dae-su luta como pode, acerta seus oponentes com o martelo, é golpeado, até que é derrubado ao chão e pisoteado por todos os homens ali. Ele ainda se levanta de forma corajosa, distribui pancadas, mas logo volta ao chão novamente para ser pisoteado mais ainda.

Chamado de “pedaço de merda” por um deles, o protagonista para de se movimentar após um grito de dor. Então questionam se ele morreu. Quando um deles pega novamente em Dae-su, ele estava fingindo e então levanta-se e continua a “porradaria”. Interessante que quando o personagem está em pé notamos uma faca enfiada em suas costas, incluída depois, digitalmente.

Dae-su se afasta dos combatentes e enfrenta-os um a um, com pausas para demonstrar cansaço, apoiando-se na parede enquanto os outros também demonstram grande estafa. Sobrando apenas ele diante de um grupo de homens caídos, Dae-su se arrasta e pega seu valoroso martelo, enquanto foge do local. Toda a sequência é acompanhada pela trilha sonora composta por Yeong-wook Jo, que dá um tom maior de dramaticidade.

O plano-sequência termina e a câmera foca no rosto de Oh Dae-su, com suor na face e cansado. O fundo da imagem é um pouco desfocado e só enxergamos um amontoado de corpos cambaleantes, vítimas da curta, mas brutal batalha. Ele está diante de um elevador, quando um barulho anuncia que chegou ao andar. Um fio de sangue desce da cabeça do personagem e passa pelo pescoço. Diante da visão a sua frente, Dae-su esboça um sorriso.

A câmera então mostra o que está adiante: 7 homens armados na porta do elevador, o que mostra que a batalha do personagem não acabara. No entanto não assistiremos mais uma cena assim; corta e Chan-wook Park posiciona a câmera como se ele estivesse escondido por detrás de um pilar. Há um leve giro,  como se alguém tivesse saindo do esconderijo para analisar algo furtivamente e mostra a porta do elevador se abrindo. Os homens caem e sobra Oh Dae-su, que passa por cima deles mais ensanguentado ainda, soltando o martelo.

Em um plano final, o personagem sai da escuridão para um ambiente iluminado que indica a saída daquele inferno e retira a faca que estava em suas costas. Tal sequência foi tão elogiada que gerou muitas homenagens, como as impressionantes lutas da série Demolidor, em que aprimoraram ainda mais essa técnica, baseadas também no fenômeno Operação Invasão, dirigido por Gareth Evans em 2011. O olhar asiático ou suas artes marciais sempre presentes em filmes ocidentais. John Wick, Atômica e muitos outros têm muito a agradecer aos amigos asiáticos.

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Ibertson Medeiros

Graduado em Direito, sempre quis trabalhar de alguma forma com cinema, pois é uma paixão desde a infância. Cearense, fã dos anos 1970, curte o bom e velho Rock ‘n Roll e um cinema mais alternativo e underground, sem tirar os olhos das novidades cinematográficas.

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