Cine Ceará | Maria Cachoeira; O Evangelho Segundo Tauba e Primal; Eu Sou O Super-Homem; Nomes Que Importam; Petra

Dia 03

Maria Cachoeira

Ao querer abordar um assunto como arrependimentos do passado, é preciso estar ciente do que você quer extrair de seu público, o que não parece ser o caso de Maria Cachoeira. Logo de início, já impõe uma música pesada, tentando extrair emoções sem ao menos apresentar a personagem principal — o primeiro erro, que ressoa por todo o curta.

O diretor Pedro Carcereri parece querer se aprofundar nas memórias, ao ponto de transformar a obra quase onírica com visões do passado por parte da protagonista. Mas, no fim, tudo soa bem vago, é o velho “tentar atirar para todos os lados” e não saber a dosagem certa de dramaticidade. Sem conhecermos e nos apegarmos a nenhum personagem, poderia ser um filme de até 5 horas, mas que nada extrairíamos da obra.

O Evangelho Segundo Tauba e Primal

Com uma animação feita 100% a mão, Márcia Deretti e Márcio Júnior nos colocam em um mundo caótico, com violência, poluição sonora e sem cores. Essa ausência de coloração transforma a obra quase em algo morto, como se tudo aquilo que estava acontecendo fosse uma máquina que se alimenta do caos. Em contraponto, vemos como na zona rural é diferente, todo colorido, cheio de vida, com sons da natureza ressoando.

As diferenças entre os dois ambientes representam o que todo brasileiro já sabe, que para sobreviver na selva de pedras é uma guerra diária. Após entendermos aquele mundo, temos uma “surra” de imagens e estrondos vindo da tela, literalmente uma guerra entre dois indivíduos que representam as duas áreas. A mensagem é clara: quem sobreviver fica com os melhores recursos. A intenção é boa, mas não tão bem aplicada, a estética rasurada e as cores conseguem passar muito melhor a ideia do que o roteiro em si. Ainda assim, uma bela animação.

Eu Sou o Super-Homem

Falar sobre racismo e bullying é sempre algo pesado, porém necessário, mas ter a coragem de abordar isso utilizando personagens infantis é de uma responsabilidade precisa. Logo de início, uma quebra de padrões: uma família negra em um carro de luxo, e quando entendemos que a mãe leva o filho a uma festa de aniversário à fantasia, o motivo da criança utilizar uma roupa do Super-Homem. O destaque do personagem se dá totalmente quando chega a festa, sendo a sua cor é totalmente diferente de todos.

Rodrigo Batista, de forma inteligente, trabalha o racismo de um modo mais “descarado”. Quando o aniversariante afirma que o garoto negro não poderia ser o super-herói, fica claro ao público o real motivo, mesmo o pai afirmando que era pela ausência da capa. Durante todo o curta, vários sinais de que a criança branca aplicava bullying com vários garotos e isso intensifica ao longo da projeção.

A obra ainda passeia sobre a imaginação potente de uma criança, pincelando um pouco daquele mundo fantástico que todos já viveram, e isso é importante para entendermos que apesar de tudo, ainda temos nossa imaginação para nos libertar. Todos esses são assuntos sérios que precisam ser debatidos.

Nomes Que Importam

Este documentário foi importantíssimo por abrir meus olhos a um assunto que, por erro meu, não me era muito entendido. A importância da sociedade aceitar e dar liberdade para as transexuais de escolherem e registrarem seus nomes.

Os idealizadores Angela Donini e Muriel Alves montam um documentário em um formato mais padrão, com as personagens falando de frente para a câmera. O interessante, aqui, é ir descobrindo as histórias e significados de cada um dos motivos de cada nome.

É importante entender porque todas elas fazem questão disso, seja por eventos positivos em suas vidas, ou perdas, até mesmo para subverter um bullying que tenham sofrido. É algo que poderia facilmente ser mostrado em escolas por todo o Brasil, para que tenhamos mais respeito e liberdade para todos.

Petra

Este filme segue uma linha bastante ousada, de trabalhar uma narrativa em capítulos não lineares. Quando se é feito com cuidado, pode-se sair algo grandioso, mas infelizmente não é o caso de Petra. Quando certos eventos, considerados de peso e cruciais para a trama, começam a acontecer sem o público saber realmente os motivos daquilo estar se passando, é preciso ter todo um trabalho de desenvolvimento de personagens bem elaborados.

A impressão que se tem é que Jaime Rosales simplesmente tinha feito um filme de forma linear e resolveu mudar e transformá-lo em capítulos. Talvez se a obra tivesse sido montada cronologicamente correta, teríamos um bom resultado. A bagunça é tanta que, por várias vezes, me vi prevendo o que ocorreria na cena seguinte; e isso é uma tragédia para qualquer obra, já que toda sequência é feita para construção da próxima, assim segue até o fechamento.

Nunca gostei de sair da sala de cinema em meio a um filme, por mais ruim que seja, sempre quero ver sua conclusão. Mas, aqui, a pobreza do roteiro era tamanha que em menos de uma hora de filme eu quase me retirei. O pior é a sensação de que em algum canto ali no meio de toda essa bagunça, tinha realmente algo realmente bom.

Gostou? Siga e compartilhe!

Ítalo Passos

Cearense, estudante de marketing digital e crítico de cinema. Apaixonado por cinema oriental, Tolkien e ficção científica. Um samurai de Akira Kurosawa que venera o Kubrick. E eu não estou aqui pra contrariar o The Rock.

italopassos99 has 109 posts and counting.See all posts by italopassos99

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *