Clube Cartoon | WALL·E

 

WALL-E é uma obra totalmente diferente de qualquer obra da Pixar, em diversos aspectos. Trabalhar uma animação desse gênero não é comum para obras hollywoodianas. E para isso funcionar, o diretor Andrew Stanton teve que liderar esse desafio com a maior cautela; todos os envolvidos tiveram que analisar e dar o seu melhor em cada detalhe, para que tudo fosse o mais natural possível.

Aquele mundo nos é apresentado de forma leve: com uma música tranquila de fundo, a câmera vai mostrando cada detalhe daquelas infinitas pilhas de lixo. Isso faz com que o público entenda o que possivelmente teria acontecido, desenvolvendo uma parte da trama. E toda essa leveza, com a ausência de diálogos durante boa parte do filme, é um acerto pontual para atrair a atenção de seu público. Ao conhecermos nosso protagonista (o robozinho que dá nome ao filme), entendemos o seu trabalho, sua rotina de recolher todo aquele lixo e tirar dele várias coisas que alimentam seus sonhos e sua aprendizagem.

Em uma certa cena, WALL-E está tirando a poeira de dentro do contêiner que ele utiliza como casa e, ao observar o céu, vê que um pequeno espaço entre as densas nuvens se abre e as estrelas se destacam. Fica claro, apenas com o olhar do personagem, que é a primeira vez que ele avista aquela imagem; por um pequeno instante, as rígidas e agressivas nuvens poluídas dão lugar a estrelas brilhantes — mesmo sendo questão de segundos, nosso robozinho viveu a eternidade em um olhar.

Ao conhecermos EVA, que chega em uma nave, temos o primeiro contato entre dois personagens — isso se ignorarmos a baratinha que sempre acompanha WALL-E. A partir desse ponto, a obra ousa ainda mais e começa a construção de um uma paixão instantânea por parte do protagonista. Fica claro ao público que ela veio em busca de algo, mas o filme não entendemos o que seria no primeiro momento. O longa nunca perde o tom mais cômico, intercalando entre a busca de EVA e as tentativas de WALL-E em conquistá-la.

A construção é tão perfeita que acreditamos veemente naquele sentimento, a naturalidade em que EVA aceita sua amizade, se divertindo quando WALL-E mostra suas coleções aleatórias de coisas que encontra ao meio do lixo. Até entendermos que a robozinha veio com a missão de achar flora crescente. Ao entrar em estado de alerta — quase como se fosse um transe — EVA acaba nos revelando que a humanidade ainda tem esperanças de retornar a terra, dando um bom gancho para levar a trama para o espaço.

O fascínio de nosso protagonista quando vê o céu infinito pela primeira vez é contagiante — é como se nós estivéssemos passando pela aquela experiência realmente. A imersão é ponto fundamental para acompanhar WALL-E em sua jornada; é o ponto em que o filme bate mais forte desde seu primeiro momento. A atenção do público é necessária para que tudo funcione.

Quando entendemos que a humanidade vive no espaço em naves, limitando-se a sobreviver suspensos em cadeiras, não precisando nem se mexer para trocar de roupa, entendemos finalmente onde o filme quer chegar. Mostrando relações humanas parciais, se falando apenas por telas, perdendo a noção completamente do que se passa em volta. O ser humano deixou a vida na terra se acabar, e nunca mais voltou a viver quando saíram da terra.

Nesse ponto, entendemos que a ficção científica serve como plano de fundo para críticas sociais que são importantíssimas para o nosso presente. Pontos como destruição de recursos naturais, consumismo exagerado, limitação de interações humanas. Todas essas alegorias são abordadas aqui, sem firulas, e ainda se entrelaçando com um belo romance bastante improvável entre dois robôs.

Só após os humanos verem WALL-E, que fugia dos padrões “certinhos” daquele mundo onde viviam, é que notam que estavam se limitando a enxergar o próprio umbigo. O egoísmo, que já estava começando a se enraizar, é cortado e a humanidade começa a entender que é preciso viver e não apenas sobreviver. É uma obra muito rica, muito bonita esteticamente e com vários assuntos a serem debatidos. Isso tudo torna WALL-E uma das animações mais importantes da última década.

Nota: ★★★★★

 

Ficha Técnica

Direção: Andrew Stanton

Ano: 2008

Roteiro: Andrew Stanton, Jim Reardon

Elenco: Ben Burtt. Elissa Knight, Jeff Garlin, Fred Willard, MacInTalk, John Ratzenberger, Kathy Najimy, Sigourney Weaver

Fotografia: Jeremy Lasky

Trilha Sonora: Thomas Newman

Montagem: Stephen Schaffer

 

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Ítalo Passos

Cearense, estudante de marketing digital e crítico de cinema. Apaixonado por cinema oriental, Tolkien e ficção científica. Um samurai de Akira Kurosawa que venera o Kubrick. E eu não estou aqui pra contrariar o The Rock.

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