Listão do Clube | Os pais mais interessantes do cinema
Depois do nosso listão das Mães do Cinema, chegou a hora de listar alguns dos pais mais marcantes da sétima arte! Relações das mais variadas entre pais e filhos compuseram os cenários de muitos filmes clássicos e contemporâneos, e abaixo você confere algumas dessas figuras paternas, lembradas pelos membros do Clube da Poltrona. Boa leitura!
Moses Pray, de Lua de Papel
Nessa deliciosa comédia de Peter Bogdanovich, Ryan O’ Neal interpreta Moses Pray, um vigarista que conhece a órfã Addie (Tatum O’ Neal, filha do ator na vida real e vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por esse filme) e se oferece a levar a garota até encontrar sua tia em outra cidade. Apesar de não ser pai da jovem no filme, Moses exerce o seu lado paterno, mesmo que de um modo errado, ao ensinar a criança alguns dos seus truques sujos de trapaceiro. É interessante notar pai e filha atuarem juntos, de uma maneira que é visível o amor que Moses sente por Addie em determinados momentos do filme.
George Bailey, de A Felicidade Não Se Compra
O clássico natalino de Frank Capra é um dos maiores filmes de todos os tempos e a saga de George Bailey após descobrir como seria a vida sem ele existir no plano terreno é uma história maravilhosa de se acompanhar. A vida da família modificaria muito com a ausência do pai e um anjo mostra a ele como a vida é maravilhosa em alusão ao título original, além da valorização da família ser muito importante. Uma eterna lição de vida em forma de cinema.
Atticus Finch, de O Sol é Para Todos
Papel que lhe rendeu seu único e merecido Oscar, Gregory Peck interpreta Atticus Finch: um pai advogado detentor de qualidades notórias. Calmo, justo, atencioso, compreensivo e lecionador, sua relação com seus filhos é de uma beleza irretocável por tratá-los como se fossem adultos, principalmente por estarmos presenciando os fatos (que abordam a intolerância racial e o próprio sistema judiciário) e analisando os personagens através da visão de sua filha Scout.
Logo, é nada mais que natural que a figura paterna adquira características que o tornem herói e figura importante na pacata cidade do sul do Estados Unidos.
Por Jonatas Rueda
Ted Kramer, de Kramer vs. Kramer
“Que lei diz que uma mulher é uma mãe melhor simplesmente em virtude de seu sexo?” Dustin Hoffman é Ted Kramer, um jovem workaholic que trabalha como publicitário em Nova York. Quando sua esposa Joanna (Meryl Streep) abandona a família para encontrar uma vida além da maternidade, ele se vê sozinho no processo de criar o filho de seis anos. O desempenho de Dustin Hoffman transmite o florescer da capacidade de ternura e seu crescimento em direção à paternidade. Quando a mãe reaparece e pede a custódia do menino, já é tarde demais. O vínculo fora estabelecido através da bonita descoberta entre pai e filho.
Por Elaine Timm
Ben, de Capitão Fantástico
Em uma casinha nas montanhas do estado de Washington, Ben (Viggo Mortensen) vive com seus seis filhos longe de tudo o que considera danoso na sociedade: a indústria, o capitalismo, as religiões, etc. Ele cria seus rebentos cercado de livros (especialmente sobre filosofia e política), os ensina a tocar instrumentos e a viver em harmonia com a natureza, os preparando para serem fortes e se virarem bem sozinhos; porém, quando o assunto é o resto da civilização, Ben se torna extremamente superprotetor. Obrigados por um triste evento a sair de sua bolha e encarar o “mundo real”, a família inicia uma jornada de descobertas e crescimento, liderada por um pai que só quer o melhor para os seus filhos, seja lá o que isso signifique.
Daniel Hillard, de Uma Babá Quase Perfeita
Casamentos acabam, separações acontecem. Mas, para Daniel (Robin Williams), além de ver sua ex-esposa, Miranda (Sally Field) reconstruindo a vida, é insuportável a ideia de estar longe dos três filhos. Para acabar com a distância e ainda provar que é capaz de cuidar muito bem deles, Daniel se transforma em Sra. Doubtfire, uma babá meio atrapalhada, mas cheia de amor. Aliás, esse sentimento é o que não lhe falta em relação aos filhos. Se a ideia era apenas poder estar perto deles, a personagem da babá também promove crescimento pessoal para aquele pai de coração mole e alma de garoto.
Por Roseana Marinho
Marlin, de Procurando Nemo
O peixe-palhaço Marlin tem um dos arcos mais emocionantes dos filmes da Pixar. Depois de perder sua esposa e sua ninhada num ataque de barracuda, Marlin precisou assumir uma postura cautelosa e superprotetora com o filho. Por essa razão, Nemo se rebela contra o pai em seu primeiro dia de aula e é capturado por um mergulhador, fazendo com que Marlin embarque numa perigosa jornada de descobertas a fim de trazer seu filho de volta.
Tubarões, águas vivas ou até mesmo uma baleia-azul não são o bastante para impedir Marlin de querer reencontrar Nemo. E cada um desses obstáculo não são colocados ali como uma simples distração, eles têm resultados que não só avançam a trama como significam alguma mudança no psicológico e nas relações dos personagens. O misto de doçura e pessimismo do pai contrastam com a personalidade forte e ingenuidade do filho que, separados, amadurecem diante dos desafios do oceano e de um aquário no consultório de um dentista.
Antonio Ricci, de Ladrões de Bicicleta
A história do homem que tem sua bicicleta roubada durante o trabalho e sua jornada para recuperá-la é um marco na história do cinema. Antonio, pai de família na Itália despedaçada pós Segunda Guerra, se vê obrigado, junto ao seu pequeno filho Bruno, a rodar as ruas de Roma a fim de recuperar o veículo que é essencial para manter seu emprego. Uma busca que passa ser muito mais pela sobrevivência e dignidade que lhe foi tirada do que por qualquer outra coisa.
Se Bruno observa o pai com uma admiração quase divina, a medida em que o desespero começa a tomar conta de Antonio, o garoto vai aos poucos enxergando o homem com mais humanidade e certa tristeza. Nada coopera para o sucesso da missão daquele pai em pânico pelo seu futuro e o da sua família. Pode-se dizer que tamanha cumplicidade entre pai e filho foi poucas vezes retratada de forma tão forte, realista e singela quanto nesta obra-prima de Vittorio de Sica.
Por Evandro Lira
Alfred Pennyworth, da trilogia Batman
Durante os três filmes da trilogia de Christopher Nolan, temos um desenvolvimento de uma relação de pai e filho entre Bruce e Alfred. Mesmo não tendo nenhuma ligação de sangue, é inegável que ambos têm uma química que vemos apenas em uma relação paternal.
Ao perder os pais, o mordomo se tornou algo mais próximo de um familiar que o homem morcego tem, lhe dando conselhos, confortando-o quando necessário e, o mais importante, passando os ensinamentos do pai biológico. Alfred não está ali para tomar o lugar de Thomas; o seu papel é fazer com que Bruce se torne uma pessoa forte, que consiga levar o legado de seu pai. Bom, não podemos negar que ele se tornou alguém forte, né?
Quando no terceiro filme temos o rompimento dos dois, sentimos bastante, pois tudo foi cuidadosamente bem desenvolvido nos dois filmes anteriores. E se não fosse isso, a satisfação e carinho com que Alfred olha no final de Cavaleiro das Trevas Ressurge, ao vê-lo vivo e com uma companheira, não teria a força de um pai que vê finalmente seu filho crescer feliz.
Por Ítalo Passos
Woody Grant, de Nebraska
O reencontro com a melancolia. Alexander Payne cria o diálogo entre pai e filho, através do conto sobre a velhice. Em Nebraska, as lentes fotográficas monocromáticas simbolizam os cabelos brancos do amargo Woody Grant (Bruce Dern, indicado ao Oscar por essa atuação). O idoso alcóolatra crê ter ganho US$ 1 milhão, após receber pelo correio uma mensagem de propaganda. Assim, resolve ir a pé até a cidade de Lincoln, em Nebraska, para receber a quantia.
Payne coloca a figura do filho (um Will Forte emocional em cena) como complacente e disposto a amparar as decisões do pai, uma forma de acompanhá-lo na jornada de reaproximação e descobertas familiares. Nesta intimidade que ambos vivenciam, um carinho mútuo é despertado.
Um filme sobre o aflorar da amizade aparentemente perdida entre duas pessoas.
Daniel Plainview, de Sangue Negro
Daniel Day Lewis levou seu segundo Oscar de melhor ator por personificar a índole da maldade. Tendo em vista as nuances deste personagem, Paul Thomas Anderson constrói a odisseia entre Plainview e H.W. (Dillon Freasier) — o menino que ele adota ainda bebê —, após um acidente laboral que mata seu pai.
Em Sangue Negro, a chave enigmática dessa relação intriga o público. O amor paternal se enraíza na aproximação de interesses, em poços de petróleo que explodem, através da interação dúbia de dependências e afetos.
Plainview tem no filho um trunfo, uma forma de conveniência social, já que pode posar de homem de família nas mesas de negociação. Só que na sua expansão e sede incondicional por mais poder, o próprio significado de pai, para ele, tem mais lógica comercial que afetiva. E isso, faz com que o filme nos promova uma sensação de estranhamento acerca da natureza do sentido da paternidade humana.