Cine Ceará | Anjos de Ipanema; Senhora Maria, a Saia da Montanha

Dia 06

Anjos De Ipanema

Esse documentário se inicia dando uma ideia do que iria abordar; logo me animei, já que parecia querer falar sobre como os jovens enfrentaram a ditadura. Infelizmente, eu estava bem errado. Ao invés disso, nos é entregue quase um registro de amigos que não querem deixar as lembranças morrerem, o que obviamente não tinha como sair algo bom, pois não temos nem um pouco de empatia com aquelas pessoas; não as conhecemos, e suas histórias são ridiculamente desinteressantes.

Em um certo momento, parece que entramos em um looping: o filme se torna bastante redundante, abordando os mesmos assuntos por mais de uma vez e isso cansa o público. Colocar filhos ou sobrinhos dos personagens que contam suas histórias para dar depoimentos e achar que está sendo efetivo em expor a diferença das gerações é um erro fatal. Não é interessante acompanhar por 90 minutos pessoas aleatórias falarem sobre suas vidas na praia durante a ditadura.

A obra chega ao ridículo quando um dos personagens afirma que passar o dia na praia, fumando maconha, aplaudindo o sol e surfando era fazer parte efetivamente de uma guerrilha contra a ditadura. É absurdo logo depois outro personagem rir porque uma colega guardava armas para a luta armada contra a opressão.

Pessoas de classe alta que dizem ter lutado pela liberdade, fazendo topless, ou deixando os cabelos das axilas crescerem e achando que o amor irá mudar o mundo como mágica chega a ser ofensivo para qualquer pessoa que realmente deu a vida durante essa terrível época do nosso país. Esta obra vai além de ser uma péssima obra cinematográfica, é um desserviço para a história e a arte.

Senhorita Maria, a Saia da Montanha

Logo nos primeiros minutos, a obra já nos chama a atenção por nos imergir através de sons diegéticos e uma câmera que explora todo o ambiente daquela floresta entre as montanhas colombianas. Ao conhecermos Maria, vemos que sua história é uma luta diária contra o preconceito e pela aceitação, em meio a uma comunidade isolada, extremamente católica e conservadora. Maria nasceu como homem, mas se sente uma mulher, vivendo como uma, batendo de frente com preconceito, se negando a baixar a cabeça para qualquer um que negue o que ela realmente sente ser.

Acompanhamos um pouco de sua rotina, plantando e colhendo milho, aguardando a chuva para que a próxima colheita seja farta. Um dos pontos mais interessantes é entender a sua fé — mesmo com quase todos ao seu redor a julgando, ela se mantém fiel, rezando e acreditando que Deus a ama como a todos e não a vendo como uma abominação, ou uma pessoa doente. Maria tem a fé mais poderosa de todas, aquela que não se deixa ser derrubada com ódio; seu sorriso só é interrompido quando o desabafo é feito, notamos seu coração doce quando em meio a palavras mais fortes, ela pede perdão a deus por aquilo.

Em um certo momento, descobrimos que Maria tem problemas epilépticos, sofrendo algumas convulsões desde a infância e, por certa ignorância, não vai atrás de ajuda e nem faz o tratamento devido. Estamos tão fascinados pela persona que esquecemos de olhar em volta — a nossa protagonista é pobre e vive de acordo com que a natureza permite. Crescendo sem uma formação escolar e uma família para ajudá-la, ela sobrevive, poderosa, se permitindo ser feliz como acha melhor e com sua fé inabalável.

No final do documentário, vemos a tão esperada chuva que banha aquela comunidade e, sem nenhuma interrupção, a câmera acompanha os céus desabando com água e raios cortando as nuvens, anunciando que Maria terá sua plantação cheia de vida, assim como ela mesma.

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Ítalo Passos

Cearense, estudante de marketing digital e crítico de cinema. Apaixonado por cinema oriental, Tolkien e ficção científica. Um samurai de Akira Kurosawa que venera o Kubrick. E eu não estou aqui pra contrariar o The Rock.

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