Festival de Veneza | A imprensa se delicia com as intrigas de The Favourite
The Favourite, novo longa do grego Yorgos Lanthimos, também causou ondas de empolgação em Veneza. O filme, que estreou na mostra competitiva do festival no último dia 30, conta com um trio feminino de peso no elenco, que parece ter encantado a imprensa: Olivia Colman, Emma Stone e Rachel Weisz.
O editor do Indie Wire, Michael Nordine, exaltou a carreira de Lanthimos, descrevendo-a como uma jornada para chegar no que seria a cereja do bolo. Ele destaca que The Favourite “é o primeiro filme que ele não teve uma mão na escrita: Deborah Davis e Tony McNamara são responsáveis pelo roteiro, que é tão consistente com o estilo de Lanthimos que deve ter sido escrito com ele em mente ou refinado pelo cineasta enquanto ele o trouxe para a tela”.
Nordine também ressaltou o elenco, em especial a intérprete da rainha, dizendo que “todos os três membros do trio principal estão no seu melhor, mas é Colman quem mais merece uma coroação”. Sobre a personagem de Stone, ele descreve: “Abigail é uma figura escorregadia, cuja natureza astuta está à vista desde o início, mas em quem Stone faz você querer confiar contra o seu melhor julgamento. Ela é especialmente magnética ao enfrentar Weisz”.
Ainda de acordo com a publicação, o filme tem mesmo o típico selo de seu diretor. “Sua intriga palaciana é ao mesmo tempo sedutora e repulsiva, e há uma espécie de catarse ao vê-la chegar à sua conclusão natural. Como é frequentemente no caso dos filmes de Lanthimos, há uma profunda tristeza por baixo da superfície humorística”.
David Rooney, do The Hollywood Reporter, descreveu o filme como uma “fabulosamente divertida tragicomédia”, completando que “The Favourite é um poderoso emaranhado de poder conectando três mulheres na corte real do início do século XVIII na Inglaterra, interpretada por um trio divino que se rebate com um óbvio prazer”.
Rooney também ressalta a performance de Olivia Colman, afirmando que “é um trabalho de camadas complexas. Ela lentamente descobre o patético capricho sob a maquiagem da dama louca […], o humor infantil e excentricidades ferozes”.
Para completar o grande trio, temos Stone e Weisz, cujas personagens, segundo ele, são “adversárias dignas” e “interpretadas com maestria”. “Stone inicialmente mantém uma centelha de inocência e vulnerabilidade por baixo do lado calculista de sua personagem. Mas a crueldade de Abigail se torna aparente quando ela percebe que Sarah ficará no seu caminho na reconquista da sua condição de dama”; “Weisz convence plenamente como uma mulher acostumada a ter a vantagem, mesmo com uma soberana que, obviamente, supera em muito ela, e as exibições de crueldade de Sarah são deliciosas”.
Além de ser um “banquete” para os olhos, o filme fica completo com “as escolhas ecléticas de música de Lanthimos” que “ajudam a moldar a mudança de tom — de peças clássicas de Handel, Bach, Purcell e Vivaldi a compositores modernistas, experimentais ou eletrônicos como Olivier Messiaen, Luc Ferrari e Anna Meredith, incluindo uso intermitente de cordas obsessivas e arranhadas”.
Muito se falou sobre se The Favourite seria anunciado como um drama LGBT+. Segundo Leonardo Goi, do The Film Stage, esse “é um rótulo que deve ser manuseado com cuidado. Mais do que uma reivindicação do direito de Lady Sarah e Abigail de expressar sua sexualidade, a ligação entre as duas mulheres e a Rainha aparece como um meio para um fim, um jogo calculado que permite que Abigail retorne às suas raízes aristocráticas e que Lady Sarah mantenha o governo e a família juntos — enquanto isso, a rainha afunda-se mais na loucura e na paranoia”.
Goi descreve o longa como “uma alegria para os olhos”: “a cinematografia de Robbie Ryan alterna giros de câmera e lentes olho de peixe, capturando alguns interiores assombrosos e a perspectiva distorcida da realeza solitária povoando-os — espelhando, até certo ponto, os experimentos visuais com que Lanthimos brincara em O Sacrifício do Cervo Sagrado”. Para ele, The Favourite é “um close-up piegas e tresloucado de três mulheres tão repletas de arrogância a ponto de reduzir suas contrapartes masculinas a extras descartáveis”.