Festival de Veneza | Suspiria não consegue ser unanimidade entre a crítica
Remake do filme de 1977 de Dario Argento, Suspiria é muito aguardado principalmente por ser dirigido por Luca Guadagnino, responsável por filmes como Me Chame Pelo Seu Nome e Um Mergulho no Passado. Com Dakota Johnson vivendo a bailarina Susie, o elenco traz ainda Tilda Swinton e Chloë Grace Moretz. Apesar da maioria das impressões terem sido positivas, o filme ficou longe de passar como uma unanimidade pelo Festival de Veneza.
Peter Bradshaw, do The Guardian, diz que o filme tem momentos que geram medo e inquietação e que a direção de Guadagnino é inteligente, mas que “este é um filme estranhamente sem paixão. A centelha da loucura diabólica pura de Argento desapareceu, junto com sua veia impetuosa de humor negro, e em seu lugar está algo decididamente mais sofisticado, com indigestas novas camadas de significado histórico adicionadas”.
Ele comenta que até mesmo uma atriz do calibre de Tilda Swinton é mal utilizada por conta do roteiro: “seu personagem é anticlimaticamente escrito para que ela não entregue nem uma carga de maldade, nem um resgate moral redentor, nem nada de interessante entre os dois”.
No entanto, Bradshaw também tece alguns elogios ao filme e à protagonista: “Há muitas ideias pertinentes neste filme, e a própria Dakota Johnson está muito bem — embora estranhamente ela não esteja no filme tanto quanto ela poderia”. Ele conclui dizendo que “Suspiria é, sem dúvida, um trabalho de amor para Guadagnino, uma variação interessante de um tema, um ato cerebral de conhecimento”.
Uma das impressões positivas veio de Emily Yoshida, da Vulture, que disse que o filme se torna uma “algo mais impressionista sobre a violência absurda de ser mulher”, contando que o roteirista David Kajganich “cava mais fundo em quase todos os aspectos do original de Argento”.
“O caminho de Susie não é uma jornada de herói; ela não está ali para nada patriarcal como conquistar um inimigo ou ‘encontrar a si mesma’. A visão de Guadagnino não permite nada tão sedutor ou reconfortante assim. Suspiria é um filme deslumbrante, hediondo e intransigente, e enquanto procura fazer muitas coisas, provocar um posicionamento em nossas mentes sobre a brutalidade do passado e da natureza humana não é uma delas”, reflete Yoshida.
Bem menos impressionado ficou Alonso Duralde, do The Wrap. “Há uma discussão constante na TV sobre o terrorismo e o grupo Baader-Meinhof, e um dos pontos da trama gira em torno da persistente culpa dos sobreviventes na era pós-nazista. O que essas ideias têm a ver com uma academia de dança que serve de fachada para um grupo de bruxas? O novo Suspiria não parece saber”.
Duralde criticou duramente até a parte de coreografias do filme, classificando a cena da performance de “Volk”, a peça principal da companhia de dança, como “uma das peças de coreografia mais intencionalmente hilárias das telas”. Nem Guadagnino escapou: “Os sustos não são assustadores, o subtexto político nunca se conecta com o resto do filme, e até mesmo o senso visual geralmente infalível de Guadagnino não é suficiente”.