Festival de Veneza | Performance de Willem Dafoe em At Eternity’s Gate entusiasma a crítica
O filme que retrata os últimos anos da vida de Vincent Van Gogh parece ter encontrado em Julian Schnabel um olhar ideal. O próprio diretor tem background no mundo da pintura e utiliza isso a seu favor em At Eternity’s Gate, segundo a crítica internacional. De acordo com Leonardo Goi, do The Film Stage, o longa de Schnabel está “menos preocupado com um pintor, mais com a maneira como um pintor via o mundo”.
Era de se esperar um visual deslumbrante em um filme sobre um dos artistas mais importantes da história. E, pelo que as publicações especializadas relatam, não há decepção nesse ponto por aqui. “É na excelente cinematografia de Delhomme que as experiências visuais atingem o pico. Confiar em um jogo de pontos de vista recorrentes pode parecer um mecanismo banal para fazer com que o público ‘veja como’ Van Gogh, mas Delhomme acrescenta perceptivelmente uma dioptria dividida à lente, dando lugar a um efeito vertiginoso que cria duas profundidades de campo, obscurecendo a metade inferior da estrutura e imitando as telas de óleo oníricas do próprio Van Gogh”, afirma Goi.
Mas, o grande trunfo do filme parece estar mesmo em seu ator protagonista, Willem Dafoe, que estaria “perturbadoramente estranho”, no melhor sentido da expressão, segundo Goi. Vivendo os períodos mais difíceis de sua vida, com a saúde física e mental se debilitando, o Van Gogh de Dafoe é “habitado com a lucidez acida da loucura”. São essas as palavras de David Rooney, do The Hollywood Reporter, que diz ainda que o ator traz uma “intensidade febril” ao personagem: “com seus traços ásperos e olhos azuis penetrantes espreitando debaixo de um chapéu de palha maltratado, ele evoca completamente o Van Gogh que conhecemos tão intimamente de autorretratos. A urgência perigosa do desempenho de Dafoe revela um gênio artístico cuja doença mental incapacitante parece alimentar, ao invés de impedir, sua capacidade de criar trabalhos surpreendentes de originalidade e sensibilidade impressionantes”.
Enquanto a narração em off pode ter incomodado alguns críticos, assim como os encaixes de frases em francês em alguns diálogos, o panorama geral para At Eternity’s Gate em Veneza foi bem positivo. Apesar do grande destaque do elenco ser mesmo Dafoe, até pela maneira como o diretor conduziu a narrativa, há várias notas positivas sobre a breve participação de Mads Mikkelsen — como um padre que não aprova a arte do pintor holandês —, assim como elogios à química de Dafoe com Oscar Isaac (que interpreta Paul Gauguin). Rooney afirma que “Isaac traz uma arrogância divertida para Gaugin, que funciona muito bem contra os humores mais sombrios de Dafoe. A companhia claramente nutre Vincent”.
Michael Nordine, do IndieWire, destaca a ousadia de Schnabel, lembrando da animação Com Amor, Van Gogh, que foi indicada ao Oscar na última premiação, e dos filmes de Maurie Pialat e Robert Altman no início dos anos 1990: “Ele dificilmente é o primeiro a fazer um filme sobre o pintor de uma só orelha […], mas nenhum de seus antecessores foi tão ousado”.