Brazuca | Castelo Rá-Tim-Bum: O Filme

 

No meio da selva de pedra, se ergue um castelo com toda a sua estrutura gótica. As crianças da vizinhança acreditam que por ali habitam bruxas más, provavelmente daquelas com verrugas, vassouras, e que detestam crianças. Elas estavam erradas, afinal, ainda que os moradores fossem feiticeiros, não há nada de malvados. Isso fica claro logo na primeira cena de Castelo Rá-Tim-Bum: O Filme, numa brilhante apresentação dos personagens, um trabalho de sombras e movimentação de câmera que mostra uma estranha porém simpática família Stradivarius, prestes a tomar seu banho de lua. 

O longa chegava em 1999, uma tarefa de adaptar a série que fez história na TV Cultura na década de 1990. O diretor Cao Hamburger (O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias) reuniu sua colega com quem já trabalhava na série, Anna Muylaert (Que Horas Ela Volta), e o roteirista José Carvalho (Faroeste Caboclo), para a missão de desenvolver uma nova história para Nino, seus tios e seus amigos. Assim, nascia o filme do Castelo Rá-Tim-Bum, um ótimo exemplar nacional de fantasia que não só agregaria crianças como adultos que compreendessem o contexto social-político da obra. 

Sim, ali no final da década de 1990, esse filme infantil já discutia, na medida do possível, coisas que Aquarius traria à tona, anos depois. Se naquela época, vários dos filmes infantis brasileiros que seriam lançados, manifestavam mensagens de cunho ambiental, como filmes da Xuxa, por exemplo; Castelo Rá-Tim-Bum chegava com esse olhar voltado para a cidade e alguns dos problemas que enfrentam, como o desinteresse da indústria imobiliária em proteger nossos espaços culturais. 

A vilã do filme é Losângela (uma Marieta Severo maléfica e divertida), a prima banida da tia Morgana (Rosi Campos), que se une à alguém que se aproxima muito mais dos nossos vilões da vida real: o Dr. Abobrinha (Pascoal da Conceição), um empresário que pretende derrubar o castelo para construir um grande prédio em seu lugar. Aliados e com a ajuda do patético Rato (Matheus Nachtergaele), eles tentam cada um atingir seus objetivos. Somente Antonino ”Nino” Stradivarius (Diegho Kozievitch), um jovem feiticeiro de 300 anos, consegue detê-los. Pode-se dizer que há aquele quê de A Família Addams misturado com Esqueceram de Mim em Castelo Rá-Tim-Bum. 

Além da seriedade — que não deve ser confundida com rigidez — com que esses temas são colocados, há todo um dilema pessoal que Nino precisa resolver. Ele se sente estranho diante das outras crianças; se sente solitário e pressionado sob a guarda dos tios, que são severos quando se trata da sua educação. É só após aprofundar essas questões do seu personagem principal que o roteiro parte para a ação. 

Faz todo sentido que Castelo Rá-Tim-Bum tenha analogias claras sobre a valorização do conhecimento e da cultura em sua narrativa, visto que a série original era um programa cheio de quadros educativos, que foram cortados sabiamente do projeto em prol de valorizar a linguagem cinematográfica. Linguagem esta que foi muito bem assimilada, desde o roteiro muito bem amarrado, até a fotografia que consegue ser sombria e aconchegante ao mesmo tempo — além da direção de arte que é criativa e fundamental para dar tal efeito. O longa ainda inclui ótimos efeitos especiais, que justifica o orçamento de 7 milhões, algo raro entre as nossas produções, mesmo hoje. 

Castelo Rá-Tim-Bum, sem dúvida, contribuiu para o nosso folclore, é parte do imaginário popular de uma geração inteira e O Filme conseguiu validar esse sucesso, trazendo ainda um público que não assistia a série de TV. Marcou presença nas tardes de várias crianças, ao longo dos anos, quando exibido na Sessão da Tarde, um dos filmes nacionais mais inspiradores e inteligentes dedicados ao público infantil. Desses aqui, praticamente não fazemos mais.

Nota: ★★★★✰

 

Ficha técnica

Ano: 1999

Direção: Cao Hamburguer

Roteiro: José Carvalho, Anna Muylaert

Elenco: Diegho Kozievitch, Rosi Campos, Sérgio Mamberti, Marieta Severo, Pascoal da Conceição, Matheus Nachtergaele

Fotografia: Marcelo Durst

Música: André Abujamra e Lulu Camargo

Montagem: Michael Ruman

Figurino: Verônica Julian

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Evandro Lira

Evandro gosta tanto de filmes que escolheu a opção Cinema e Audiovisual no vestibular, e hoje cursa na UFPE. Em constante contato com a cultura pop, se divide entre as salas de cinema, as aulas sobre Eiseinsten, xingar muito no Twitter e a colaborar com o Clube da Poltrona.

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