Fotogramas | O Primeiro Homem – O pouso na lua
O diretor Damien Chazelle trabalhou para que todos os 140 minutos ajudassem a construir, da forma mais intimista possível, a chegada de Neil Armstrong à Lua. O diretor não quis mostrar a América ou “o americano”, mas sim o ser humano — o ser que, naquele ambiente, se torna algo tão frágil como papel na água.
A música é uma das primeiras coisas que notamos na cena. Ela muda, não de forma drástica, mas aos poucos; sai de algo mais épico e se torna algo mais pessoal, transmitindo uma sensação incômoda, como se a qualquer momento algo pudesse dar errado. A música talvez seja o artifício mais essencial para esta cena, pois todos nós já sabemos como tudo aquilo se concluirá, mas com esse toque principal, nos surge a incerteza.
Com violinos mais agitados e uma percussão mais presente, junto a instrumentos de sopro que sobem pontualmente, conseguimos quase ter a certeza que toda aquela beleza do desconhecido e o medo são os mesmos que Neil sentiu na hora em que pisou no terreno lunar.
Quando Armstrong abre a porta do módulo lunar, Chazelle decide nos colocar em primeira pessoa: nos faz imergir, nos coloca no lugar de Neil e amplia a experiência de sensações do astronauta que vinha sendo trabalhada com a música. A cada passo nos degraus abaixo, a aproximação do solo nos coloca cada vez mais próximos do maior isolamento possível de um ser humano — esse detalhe, foi trabalhado de forma perfeita durante todo o filme, para que aqui entendêssemos que o primeiro homem a pisar naquele lugar, não estava à procura de glória, e sim de um recomeço.
Ao tomar a decisão de colocar o áudio original de quando o homem chegou à Lua, com as vozes reais de Neil e Buzz, Chazelle consegue retirar todo o misticismo da situação e exalta a realidade. O medo e incerteza na voz, ao identificar que o solo é firme. Os segundos em silêncio que antecedem o primeiro passo, para que uma das frases mais marcantes da humanidade seja dita: “Este é um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade”. Com a voz do próprio Armstrong, aumenta o feito de um homem que contou com sua insistência e trabalho para estar ali.
Ao finalmente caminhar sob o pó fino e esbranquiçado da Lua, o foco é em mostrar a experiência mais completa possível, focados na solidão e vista ao infinito, mostrando que apesar de seu tamanho, comparado a nós, a Terra é apenas um ponto em nossa existência.
Quando Neil sobe a película de seu capacete e vemos seus olhos, ele observa aquele infinito, sem lágrimas, mas com uma solidão profunda, que entendemos que é seu luto se manifestando, que o seguia por toda a vida e que precisava ser encarado. Armstrong viu nessa situação a oportunidade de enfrentá-lo e seguir em frente. Ao soltar a pulseira de sua filha em uma cratera lunar rumo à escuridão, temos o renascer de um homem que se perdoou e aceitou finalmente dar o próximo passo.
Leia nossa análise completa do filme aqui: O Primeiro Homem