Clube Cartoon | Coraline e o Mundo Secreto

 

Às vezes, o mundo real pode não parecer lá essas coisas. Mas até uma realidade paralela aparentemente perfeita que criamos na nossa mente pode esconder detalhes tenebrosos. É aí que se abre a porta para o desconhecido e inimaginável. E é por esse caminho que Coraline e o Mundo Secreto nos leva.

A família Jones se muda de Michigan para Ashland, Oregon. A única filha do casal, Coraline, é uma pré-adolescente curiosa e aventureira, com uma pitada de rebeldia típica da idade — o que na verdade é apenas uma manifestação da sua carência de atenção dos pais.

Entediada na nova morada nos Apartamentos Pink Palace e frustrada não somente com os pais que só pensam em trabalho, como também com seus novos vizinhos (que incluem duas ex-atrizes que empalham cachorros, um artista circense que treina ratos, e um garoto, Wybie, da sua faixa etária, mas que fala demais), Coraline passa a sonhar com uma realidade diferente.

Neste “mundo secreto”, os arredores cinzentos da casa, cheios de pedras e árvores secas, dão lugar a um jardim florido e bem cuidado, com flores que parecem animais e animais que interagem como gente. Seus vizinhos artistas são fascinantes e ela não tem problemas com o falatório de Wybie. Porém, sem dúvidas, o que mais impressiona a garota são o Outro Pai e a Outra Mãe, versões mais leves, carinhosas e atenciosas de seus pais reais. O esquisito, no entanto, é que todos têm botões costurados no lugar dos olhos — um detalhe que, se pararmos para pensar, causa aflição.

Na verdade, Coraline é uma animação em stop-motion baseada na obra de Neil Gaiman e que brinca com elementos sombrios já bastante familiares para o diretor e roteirista Henry Selick, responsável também por O Estranho Mundo de Jack. Gato preto, círculos no chão (onde na verdade fica o poço), uma casa antiga com ar soturno, criaturas bizarras (algumas inspiradas em bichos que causam fobia em muita gente, como aranhas), almas vagando no submundo, bonecos de pano que mais parecem vodus: está tudo lá, em uma trama de “fantasia dark”, adornada pela trilha de Danny Elfman e Bruno Coulais.

O filme acaba por ser, de certa forma, uma representação de expectativa versus realidade, com Coraline acordando sempre frustrada em sua cama real e tendo que lidar com um dia normal que ela percebe sempre como tedioso e solitário.

O mundo dos desejos de Coraline ou a realidade paralela que ela descobre passa a se revelar perigoso e mais real do que se poderia imaginar. É neste ato que estão algumas das cenas mais pesadas e sombrias — o que fez com que o longa não fosse considerado apropriado para todas as idades (no Brasil, a classificação é 10 anos). Não só algumas figuras que se apresentam na tela se tornam esteticamente bizarras, como também a própria narrativa fica mais densa, até mesmo com alusões macabras aqui e ali.

No fim das contas, Coraline é mais que um filme sobre família ou sobre uma garotinha corajosa. É um banquete visual, ao mesmo tempo colorido e sombrio; e um lembrete de que uma vida “normal” não precisa significar “sem graça” — basta abrir a porta certa: a da aceitação e valorização da própria realidade.

 

Nota: ★★★★☆

Ficha Técnica:

 

Coraline

Ano: 2009

Direção e roteiro: Henry Salick

Fotografia: Pete Cozachik

Trilha sonora: Bruno Coulais e Danny Elfman

 

 

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Roseana Marinho

Roseana é publicitária e acha que os dias deveriam ter pelo menos 30h para trabalhar e ainda poder ver todos os filmes e séries que deseja. Não consegue parar de comprar livros ou largar o chocolate. Tem um lado meio nerd e outro meio bailarina.

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