Horrorscópio | Halloween (2018)

 

A franquia Halloween chega ao seu 11º filme em meio à continuações desastrosas, e um reboot.  Os filmes do Michael Mayers se tornaram uma verdadeira bagunça sem sentido, John Carpenter retorna como produtor para tentar “consertar” toda a cronologia.

A obra se passa 40 anos depois do filme original, ignorando todos os outros anteriores, sendo uma sequência direta da obra de Carpenter. Mayers está preso em um manicômio e será transferido para uma prisão — já que, apesar dos assassinatos, não fala uma palavra desde a infância, e para as autoridades não mostra sinal de psicopatia.

A direção de David Gordon Green, que é bem versátil, com trabalhos dramáticos e de comédia — aqui vai além e se aprofunda no horror psicológico e violência, já mostrando que entende os caminhos que fazem Michael Mayers tão assustador. Esse talvez tenha sido o principal motivo para que tantos filmes com o personagem tenham dado tão errado. É preciso entendê-lo, não procurando suas motivações, mas saber que ele age por pura maldade.

Green aplica boas ideias no filme, um plano sequência que mostra Mayers entrando em duas casas e matando seus habitantes, pega sua primeira arma, um martelo, até chegar à clássica faca. Mostra o ponto de vista do assassino em vários momentos, nos deixando ainda mais apreensivos.

Em várias cenas, o diretor desafia seu público ao mostrar a ação de um personagem em foco e Mayers desfocado, agir ao fundo. Durante o plano sequência, isso fica bem evidente quando uma mulher observa a rua e Michael vai se aproxima, aos poucos, até agarra-la. Isso se repete, algumas vezes, e é uma técnica bem inteligente do diretor, já que ajuda no desenvolvimento da narrativa; criando mais tensão e traz o público para dentro do filme, nos fazendo observar tudo que está em cena.

O modo como o diretor utiliza a iluminação, junto ao diretor de fotografia Michael Simmonds ajuda na tensão; trabalha bem no escuro, ou quando uma cor mais marcante toma conta de uma cena mais escura. A silhueta do Mayers em diversas cenas também ajuda no crescimento daquela ameaça, utilizando de uma licença poética, iluminando apenas o rosto de certos personagens em momentos de reviravolta.

 

É inegável que a fotografia é uma das coisas mais interessantes do filme, tudo é feito para o crescimento de Mayers na história, os enquadramentos são pensados para atrair o máximo de atenção. A cena em que ele coloca a máscara, pela primeira vez, é um conjunto dessas decisões acertadas para tornar aquele momento poético.

A música marcante está de volta, mas dessa vez atualizada, com arranjos de guitarra complementando a obra original composta pelo próprio Carpenter, para que o tema do personagem seja aplicado apenas nos momentos certos. A trilha é totalmente parte do Mayers, ajudando em sua imponência e crueldade.

Mesmo ampliando a música tema e a deixando mais arrepiante, os idealizadores não abusam, utilizam de sons diegéticos para causar certos sustos ao público; deixando de lado uma provável musicalidade “subindo” para assustar e aplicando na sonoridade ambiente. Green poderia até se perder ao utilizar demais desse artificio, mas não cai nessa armadilha e utiliza pontualmente.

O elenco, talvez, seja o maior trunfo, traz Jamie Lee Curtis de volta ao papel de Laurie Strode e Nick Castle para vestir a temida máscara de Mayers. Mesmo após todo esse tempo, a sincronia entre os dois é perfeita; entendemos que mesmo quando não estão contracenando juntos, a história dos dois irá se cruzar novamente.

Laurie se mantém completamente afetada, cheia de traumas que a tornaram praticamente preparada para uma guerra, morando isolada, numa casa cheia de cercas, armas, armadilhas e câmeras. Isso tudo afetou seu relacionamento com a filha, que é o seu ponto fraco, tanto que sua fragilidade só é exposta além da presença dela quando remetida a se livrar de todo seu passado de medo e ligação à Mayers.

 

Essa conexão entre os personagens é muito bem feita, — Mayers sendo movido pelo mal e Laurie pelo medo. Sabemos que em algum ponto eles irão se encontrar, mas a partir do momento que ele está solto, a tensão só aumenta, principalmente agora que Laurie tem muito mais a perder.

Em um certo momento, no terceiro ato, o roteiro dá uma derrapada — o filme vinha bem coeso até a entrada dessa cena. Onde Michael é atropelado por uma viatura e o médico, que cuidava de seu caso no manicômio, aparece para salva-lo, quase uma síndrome de Estocolmo ao contrário. Felizmente, após essa sequência tudo se resolve,  uma daquelas cenas que se tivessem cortado, não faria falta alguma ao filme.

Mesmo com essa derrapada, o último ato é o maior exemplo de como se fechar uma continuação de um clássico, onde o universo daquela obra é expandido e seus personagens trazem coisas novas. Green homenageia o filme original com algumas soluções visuais e ainda inverte todo o jogo de “gato e rato” entre Mayers e Laurie.

Halloween não é apenas uma continuação, ele consegue entregar muito mais de seus personagens que já eram fascinantes, os colocando em posições que não estão acostumados e extraindo tudo o que poderiam; mostrando como Michael Mayers é a personificação do mal e Laurie como a única pessoa possível a superar seus medos e bater de frente com esse horror.

 

Nota: ★★★★✰

Confira também a nosso Miss In Scene sobre a Laurie Strode

Ficha Técnica

Direção: David Gordon Green

Roteiro: David Gordon Green, Danny McBride, Jeff Fradley

Elenco: Jamie Lee Curtis, Judy Greer, Andi Matichak, James Jude Courtney, Nick Castle, Haluk Bilginer, Will Patton, Rhian Rees, Jefferson Hall, Toby Huss, Virginia Gardner

Fotografia: Michael Simmonds

Trilha Sonora: Cody Carpenter, John Carpenter, Daniel A. Davies

Montagem: Timothy Alverson

Direção de Arte: Sean White

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Ítalo Passos

Cearense, estudante de marketing digital e crítico de cinema. Apaixonado por cinema oriental, Tolkien e ficção científica. Um samurai de Akira Kurosawa que venera o Kubrick. E eu não estou aqui pra contrariar o The Rock.

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