Poltrona Pipoca | Animais Fantásticos e os Crimes de Grindelwald
David Yates já abraçou os filmes do universo criado por J. K. Rowling quase como filhos, se sentindo confortável e criando obras que nos divertem e emocionam. Em Animais Fantásticos e Onde Habitam, o diretor conseguiu entregar o que propôs: um filme divertido, dando introdução à uma história curiosa e com uma reviravolta muito bem-feita. Mesmo contendo alguns problemas, o filme vai muito bem.
Já em Animais Fantásticos e os Crimes de Grindelwald, a parceria entre Yates e Rowling não funciona. O diretor parece que parou no tempo e começou a fazer filmes iguais, esteticamente falando e na direção de personagens. Em sua cena inicial, o filme se propõe a mostrar mais o que o vilão era capaz de fazer, como agiria nessa história e que provavelmente influenciariam as outras sequências, mas nada disso é cumprido. O longa já não entrega o que promete e a obra acaba soando sem personalidade, logo de cara.
O roteiro de J.K. Rowling não consegue desenvolver seus personagens; Newt Scamander (Eddie Redmayne) não evolui de nenhum modo, é o mesmo do começo do filme anterior — a sua presença não faz sentido, ele está mais para um acessório de roteiro e para seu nome vender ingressos. Pelo que entendemos de Newt, não tem um porquê de estar naquela jornada. Pra complementar, Redmayne está em mais uma atuação igual, repetindo os trejeitos de outros trabalhos, sempre de cabeça baixa. A atuação dele beira ao ridículo, sem carisma nenhum; toda vez que Scamander sai de cena é um alívio.
Diferente de Johnny Depp, que faz um Gellert Grindelwald decente — por mais que seu nome esteja no título do filme, ele não aparece muito, mas faz bem sua parte. Mesmo que, em alguns momentos, seus trejeitos de Jack Sparrow deem umas “piscadas”.
Outros dois grandes problemas no roteiro é ele querer se sustentar na base do fan service e não se preocupar em fazer a história seguir, criando problemas para os seus personagens e sendo o mais conveniente possível para resolvê-los. São cenas criadas para fazer os fãs gritarem, ficarem eufóricos, mas para quem quer ver uma nova história, é frustrante. A tentativa de plot twist no final é ridícula.
É tudo enrolado e torna a obra chata, com personagens que não tem importância nenhuma para estar ali e plots que não agregam em nada na narrativa. Um exemplo é o casal Jacob Kowalski (Dan Fogler) e Queenie Goldstein (Alison Sudol), eles tomam muito tempo em tela em cenas ridículas que não levam a lugar nenhum, é tosco pensar que a J.K. realmente ter achado que eles iriam fazer alguma diferença.
Outra “estratégia” da roteirista é apostar na nostalgia de seu público. Ela e David Yates criam cenas para simular uma sequência de emoções para disfarçar o grande desastre que se anunciava. Devo dizer que uma dessas cenas me pegou, quando aparece a escola de Hogwarts e sobe a música tema — realmente deu aquela arrepiada.
Em um certo momento do filme, durante um discurso do vilão, temos um flerte sobre fascismo, o que seria muito importante, principalmente nos tempos em que vivemos, mas é algo superficial sobre a ganância do homem e de sua tendência em se destruir; nada a mais do que todos nós já tenhamos ouvido por aí, nos últimos anos.
Um problema que um blockbuster desse tamanho não poderia ter é em sua mixagem de som, em certos momentos fica perceptível que algumas cenas foram dubladas. A mais visível surge nas cenas de Grindelwald: em alguns momentos, a sua boca começa a mexer segundos depois do áudio.
Os efeitos visuais funcionam na maior parte do tempo, nos fazendo acreditar que aquelas criaturas existem. Assim como no primeiro filme, quando o foco está nesses animais, o filme flui muito bem, até esquecemos que Eddie Redmayne é uma “porta atuando” — pois, o foco está totalmente distante dele.
Mas nem tudo é ruim: Jude Law faz um ótimo Dumbledore, toda aquela calma de falar, o ar misterioso e até uma semelhança na atuação do Michael Gambon. É um personagem que tem muito a entregar, uma pena que aparece tão pouco. Assim como Ezra Miller, que tem o personagem com mais potencial da franquia.
Animais Fantásticos e os Crimes de Grindelwald deixa claro que Rowling é uma ótima romancista, mas uma fraca roteirista e que seu diretor não consegue entregar nada de novo, justamente o que essa franquia precisava mais. Deixando bons personagens de lado e focando naqueles que não agregam em nada.
Nota: ★★✰✰✰
Ficha Técnica
Direção: David Yates
Roteiro: J.K. Rowling
Elenco: Eddie Redmayne, Katherine Waterston, Dan Fogler, Alison Sudol, Ezra Miller, Jude Law, Johnny Depp, Zoë Kravitz, Carmen Ejogo, Claudia Kim, Callum Turner
Fotografia: Philippe Rousselot
Trilha Sonora: James Newton Howard
Montagem: Mark Day
Direção de Arte: Martin Foley, Lydia Fry, Christian Huband, Samuel Leake, Hayley Easton Street, Helen Xenopoulos