Fotogramas | Toy Story

Toy Story é um filme essencialmente sobre amigos e a força maior que vem à tona quando temos companheiros para todas as horas. Tanto que a animação, que iniciou a parceria entre a Disney e a Pixar, entrou para o Listão do Clube de amizades mais incríveis do cinema. No entanto, o fato é que as coisas nem sempre foram fáceis entre Woody e Buzz. Vamos relembrar como foi o primeiro contato dos dois?

Buzz Lightyear para Comando Estelar

Após o novo presente de aniversário de Andy ser deixado no quarto, Woody escala a cama para conhecer o novo colega. Ele mesmo se espanta com a imponência de Buzz. É interessante o trabalho de fotografia, o enquadramento levando o olhar do espectador de baixo para cima, o que dá ainda mais grandeza ao patrulheiro intergaláctico. Vemos Woody, o líder, o cowboy destemido, se sentindo intimidado — e quem não ficaria?

O patrulheiro espacial aperta insistentemente seus botões, tentando contato com o Comando Estelar. Nesse momento, é possível perceber o contraponto que está em formação; se a introdução do filme mostra Woody, Rex, Sr. Cabeça de Batata e os outros bem conscientes e felizes com a sua condição de brinquedos de Andy, Buzz Lightyear parece acreditar ser, de fato, um herói do Espaço. Isso fica ainda mais claro quando ele vê a sua “nave”, ou seja, sua embalagem, rasgada sobre a cama.

Ele começa seu relatório sobre o ambiente estranho, de terreno instável e ar respirável, onde foi parar. A trilha, que acompanhou seu susto ao ver a “nave” avariada, ajuda a fazer a transição do momento de grandeza para um tom mais cômico e lúdico, enquanto Buzz tenta se reportar a seus superiores procurando vida no local.

Esse lugar é meu

O cowboy, como líder dos brinquedos, resolve se apresentar e dar as boas-vindas ao quarto de Andy para aquele novo companheiro. Mas, a realidade é que não é bem a política da boa vizinhança que o faz ter esse gesto de receptividade. Aquela cama sempre foi o lugar dele. Woody se sente ameaçado e não é pelo laser que Buzz está mirando bem em sua testa.

Buzz, por sua vez, não dá muita atenção para o que o cowboy xerife tem a dizer sobre a cama ou o quarto, continuando em seu mundinho particular onde precisa consertar sua nave, encontrar combustível e dar o fora dali para salvar o Universo.

Como se as coisas não estivessem suficientemente complicadas para Woody, tentando lidar com o novo brinquedo — que parece meio lunático o perguntando sobre combustíveis fósseis —, e a situação de ter tido seu espaço invadido, os demais brinquedos resolvem dar uma espiada no que está acontecendo.

Que bom que você não é um dinossauro

O amigável Rex, o dinossauro, é o primeiro a ir até Buzz apertar sua mão. Sr. Cabeça de Batata, Slinky, Porquinho e Betty o acompanham. É possível ver uma certa satisfação em Buzz, um ar de importância. Assim como com Woody, parece haver uma insegurança geral com a chegada de novos brinquedos; não por desconfiança, mas por falta de autoestima, especialmente de Rex.

O comitê receptivo logo se mostra impressionado com a tecnologia do patrulheiro do Comando Estelar. Cheio de botões que acionam luzes e sons (de qualidade, como aponta Porquinho ao ver o cachorro Slinky dizendo que Woody também faz sons), aquele é um brinquedo como nenhum outro no quarto.

Então o contraponto entre os personagens, que começou a ser formado a partir de suas crenças — na condição de brinquedo ou de herói —, dá um salto ainda maior: o fato de Buzz ser um brinquedo tecnológico e um “herói do espaço” o põe em uma perspectiva de modernidade. Já Woody é um boneco antigo, com sua cordinha de puxar nas costas, e uma representação de um personagem que há muito já havia saído de moda. São essas diferenças entre os dois que se desdobrarão durante todo o filme.

Woody revira os olhos enquanto Buzz faz seu discurso aos amigos. Mesmo tendo consciência de que aquele é um brinquedo assim como ele, já é tarde: o bichinho do ciúme e da inveja já mordeu nosso xerife, que vê sua posição de favorito de Andy ameaçada. É mesmo difícil ver uma novidade chegar e achar que pode ser melhor do que aquilo que a gente tem a oferecer. Mesmo que isso nem seja verdade.

Veja a cena aqui (em inglês):

https://www.youtube.com/watch?v=HF70FZbW8rY

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