Poltrona Pipoca | Crônicas de Natal

 

Praticamente todo ano, temos algum filme produzido e lançado no final do calendário com a tão famosa temática natalina num viés infantil, sendo que muitos também revisitam clássicos modernos como Esqueceram de Mim e Um Duende em Nova York. E com o sucesso do streaming, a Netflix (mais uma vez) produz o seu filme de época de Natal com Crônicas de Natal — aquele tipo de obra que não se arrisca muito; pelo contrário, fica em sua zona de conforto para conseguir agradar seu público-alvo: as crianças.

A singela trama se inicia quando os irmãos (Darby Camp e Judah Lewis) conseguem ver Papai Noel (interpretado por nada menos que Kurt Russell) trabalhando na véspera do tão esperado dia. A partir daí, com a confusão gerada com o encontro desses três personagens, eles unem suas forças para salvar o Natal do completo desastre.

O roteiro acerta ao não explicar com todos detalhes a estrutura de trabalho ou explorar a imagem sacra e mítica do personagem principal; muito menos entrar em detalhes desse mundo que vão além da imaginação humana, consequentemente, gerando uma espécie de aura misteriosa que todas as crianças (não importa a geração) costumam idolatrar.

Contudo, se David Guggenheim e Matt Lieberman são eficazes nesse ponto de que, às vezes, menos é mais, por outro lado, não conseguem aprofundar o drama daquele núcleo familiar, servindo apenas como pobre artifício para tentar humanizar e desenvolver os irmãos, além de serem “obrigados” a colocarem a típica e batida mensagem da importância da família na vida das pessoas.

Como se não bastasse, os clichês, incoerências (desde os policiais lidarem com normalidade o extraordinário, até Papai Noel solucionar a problemática que permeia a narrativa com extrema facilidade) e obviedades visuais (o carro furtado ser vermelho, por exemplo) serão notados, sem dúvida alguma, por olhos cinematográficos mais experientes.

O elemento que torna essa produção da Netflix em algo mais atraente é a presença do lendário Kurt Russell. Com sua majestosa barba e fugindo dos estereótipos (ser gordo e falar “ho ho ho”), o ator consegue lidar bem com esse personagem que, apesar de ser unidimensional, possui uma imensa empatia e carisma — já que, mesmo enfrentando obstáculos que atrapalham a função de entregar os presentes, nunca sai de sua postura amigável e, logicamente, paterna.

natal

Além disso, o final (com menções a clássicos natalinos como A Felicidade Não se Compra) guarda uma pequena surpresa com a aparição de Goldie Hawn vivendo Mamãe Noel — uma espécie de “piada interna” para cinéfilos mais velhos, já que ambos atuaram juntos algumas vezes e são casados há décadas.

O uso de efeitos visuais (que nem sempre convence), a partir do segundo ato, para retratar os duendes e “arrancar” algumas risadas, é uma ferramenta vista cada vez mais nesses tipos de filme. Entretanto, diferente de Minions, o diretor Clay Kaytis (do fraco Angry Birds: O Filme) faz a correta escolha de não exagerar nesse aspecto, uma vez que colocá-los em todos os momentos poderia irritar até mesmo a menos exigente das plateias.

Porém, não se deve analisar uma obra pelo o que queremos que ela fosse, mas sim pelo que ela, em essência, é. Então, ainda com seus problemas e não podendo ser tão atrativo assim para o público adulto (a pequena gag que liga a chaminé num contexto sexual, apesar de ser tornar óbvia com um diálogo ridiculamente expositivo, é a única fora desse âmbito infantil), Crônicas de Natal funciona como mero entretenimento escapista de fim de ano, não querendo ser nada mais do que uma aventura pontuada por um humor inocente.

Nota:  ★★★✰✰

 

 

Ficha técnica

natalNome Original: The Christmas Chronicles

Direção: Clay Curtis

Roteiro: David Guggenheim e Matt Lieberman

Elenco: Kurt Russell, Darby Camp, Judah Lewis, Kimberly Williams-Paisley, Goldie Hawn, Martin Roach, Lamorne Morris, Oliver Hudson, Vella Lovell, Jameson Kraemer,

Montagem: Dan Zimmerman

Fotografia: Don Burgess

Figurino: Luis Sequeira

 

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Jonatas Rueda

Capixaba, formado em Direito e cinéfilo desde pequeno. Ama literatura e apenas vê séries quando acha que vale muito a pena. Além do cinema, também é movido à música, sendo que em suas playlists nunca podem faltar The Beatles, Bob Dylan, Eric Clapton e Led Zeppelin.

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