Poltrona Pipoca | O Retorno de Mary Poppins
É praticamente impossível sair de O Retorno de Mary Poppins sem um sorriso no rosto. O filme, nas mãos de Rob Marshall, é edificante e fascinante como qualquer sequência (impensável há alguns anos atrás) da história dos Banks e da babá mágica deveria ser.
Aqui, Emily Blunt encarna com perfeição a severa, porém encantadora, personagem que há mais de 50 anos foi vivida por Julie Andrews. Nessa nossa aventura, Mary Poppins volta para ajudar os hoje crescidos Michael (Ben Whishaw) e Jane (Emily Mortimer), que passam por dificuldades diante da crise financeira de 1929. É ficando de olho nas crianças da vez, Annabel, John e Georgie, que a babá consegue novamente converter as adversidades familiares em música, fantasia e lições inesquecíveis.
Os fãs do clássico certamente se sentirão muito bem representados, já que Rob Marshall, o roteirista David Magee e todo o time fazem questão de trazer de volta vários elementos do filme de Robert Stevenson. O Almirante Boom e o Sr. Binacle, que detonam um canhão de hora em hora, continuam na Rua das Cerejeiras; a empregada Ellen (Julie Walters) ainda toma conta da casa dos Banks; Lin-Manuel Miranda vive o simpático e prestativo acendedor de lâmpadas Jack, assumindo o lugar que outrora foi de Dick Van Dyke e seu Bert. Há ainda as subidas pelo corrimão, olhadas no espelho e a clássica descida pomposa dos céus, que entregam que se trata do verdadeiro retorno de Mary Poppins.
A mistura de atores com cenários e personagens animados em 2D também dão o ar da graça em diversas sequências do longa, com direito até aos pinguins amigos do primeiro filme retornando no número musical “A Cover is Not the Book”. Mas, é inegável que essas sequências soam estranhas num filme de hoje, já que a impressão que fica é de que eles quiseram repetir tanto o feeling do clássico, que os efeitos visuais parecem não ter evoluído muito dos anos 60 para cá.
É certo que essa semelhança toda com o primeiro longa, inclusive na estrutura, poderia lesar qualquer interesse da audiência pelo enredo, mas não é isso o que acontece. A nostalgia é, sim, um fator propositalmente trabalhado durante todo o filme, mas que funciona, provando que o charme daquela icônica personagem, criada por P. L. Travers na década de 30, é irresistível mesmo meio século depois do lançamento do filme pela Disney.
Ainda que não sejam tão memoráveis quanto as do clássico, as canções compostas por Marc Shaiman são eficientes em trazer desde verdadeiros momentos tocantes, como as lindas versões de “The Place Where Lost Things Go”, e grandes números inspirados com direito a muita coreografia e momentos de encher os olhos, como “Trip a Little Light Fantastic” .
E se são coadjuvantes de luxo que você quer, aqui temos. Colin Firth dá vida ao ambicioso William Wilkins, presidente do banco e chefe de Michael, e Meryl Streep, que nos últimos trabalhos parece ter tomado gosto por fazer ponta nos filmes, vive Topsy, a excêntrica prima cheia de sotaque de Mary Poppins, protagonista de um número divertidíssimo, que tem ainda mais graça por ser Meryl Streep rodopiando pra lá e pra cá.
O design de produção responsável por trazer uma Londres meio decadente no final da década de 20, povoada por muita neblina e escuridão, eleva o longa a outro patamar e ainda dá destaque aos figurinos simpáticos e coloridos de Sandy Powell.
O Retorno de Mary Poppins se coloca como aquele filme carinhoso, perfeito para acalentar os corações da família, que sem dúvida agradará a todas as gerações que já foram fisgadas pela babá ao longo de tantos anos. Se Mary Poppins está certa sobre como nós, enquanto adultos, acabamos sempre esquecendo, parece que esse longa veio nos lembrar e nos maravilhar outra vez.
Nota: ★★★★✰
Ficha Técnica
Direção: Rob Marshall
Roteiro: David Magee
Elenco: Emily Blunt, Lin-Manuel Miranda, Ben Whishaw, Julie Walters, Emily Mortimer, Colin Firth e Meryl Streep
Fotografia: Dion Beebe
Trilha Sonora: Marc Shaiman