Clube Cartoon | Wi-Fi Ralph: Quebrando a Internet

Durante mais de uma década, oferecer histórias originais em filmes de animação foi um papel do estúdio Pixar. Mas não é nenhuma polêmica admitir que, nos últimos anos, depois que a Disney adquiriu o estúdio, as coisas se misturaram de tal maneira, que a Disney Animation vem conseguido mais êxito nesse aspecto. 

E é algo que começou a ficar claro em 2012, com os lançamentos de Valente, da Pixar, e Detona Ralph, da Disney, onde o segundo se provou muito mais inventivo e surpreendente que o primeiro, nos remetendo muito ao marco inicial da Pixar, Toy Story, de 1995. E se a franquia dos brinquedos foi a única que conseguiu se manter fiel a sua proposta, ao mesmo tempo que original a cada filme, Wi-Fi Ralph: Quebrando a Internet parece que chega muito perto disso. 

Nessa nova aventura, encontramos os personagens do fliperama 6 anos após os eventos do primeiro filme. Agora, Ralph (John C. Reilly) e Vanellope (Sarah Silverman) já têm uma amizade muito bem estabelecida, e tudo está na mais perfeita ordem. No entanto, exatamente essa monotonia tem deixado Vanellope insatisfeita. Seu jogo, o Corrida Doce, não lhe apresenta mais nada novo e tudo que ela gostaria é de uma quebra na rotina. Após Ralph tentar atender ao desejo da amiga, uma peça importante do jogo é quebrada, e todos os personagens do Corrida Doce terminam sem lar. A partir daí, os dois amigos encontram a solução: adquirir a peça danificada num lugar completamente novo e desconhecido, a internet. 

O que impressiona em Wi-Fi Ralph é sua eficiência em expandir o universo criado no primeiro filme, coisa que boa parte das sequências das animações da Pixar nessa década não deram conta. Enquanto em Detona Ralph vemos todo o mundo vívido e criativo dos jogos, com personagens, referências e uma ordem muito bem estabelecida, neste filme a equipe criativa, liderada pelos diretores Phil Johnson e Rich Moore, criam um arsenal muito inteligente de novidades a partir dos hábitos de consumo da era digital. Seja personificando a barra de busca, o corretor automático, os pop-up ou os sites de vendas online, tudo é muito bem orquestrado e parece fazer parte do universo daqueles personagens. 

A apresentação da internet como uma grande e moderna metrópole, cheia de arranha-céus, trânsito e caos funciona perfeitamente em contraste com o mundo pequeno e pacato de Ralph e Vanellope. A maneira como o filme faz uso de algumas marcas do nosso dia a dia é sensacional, mas nada se compara ao que é feito com a própria Disney. As referências são inúmeras, passando por todas as empresas das quais a casa do Mickey possui os direitos, como Pixar, Marvel e LucasFilms. E as sequências com todas as princesas não poderia deixar de ser icônica, fazendo justiça às personagens vistas nos filmes de animação ao longo de quase um século. 

E além das tantas referências e piadas geniais, é claro que o filme consegue trazer algumas discussões atuais sobre nossos tempos, como a capacidade da internet de tornar famosa qualquer pessoa que faça alguma bobagem em frente a uma câmera, ou até mesmo acerca dos comentários maldosos que podem ser lidos em qualquer caixa de comentários por aí. Numa época onde cada vez mais tem se dado palco a pessoas estúpidas, e artistas têm abandonado suas redes sociais por causa de hate, um filme como esse é uma ótima maneira de trazer o tema para uma audiência jovem e cada vez mais conectada. 

Os acertos da nova animação, uma das fortes candidatas ao Oscar, são inúmeros, e o maior deles é, sem dúvidas, a construção dos personagens principais. Todos os seus interesses e desejos são transparentes em cada atitude tomada, em cada hesitação, em cada entonação dos atores. Enquanto Vanellope se encanta pela imprevisibilidade e o perigo do jogo online Corrida do Caos, chefiado pela poderosa Shank (Gal Gadot), Ralph ama a comodidade que a vida rotineira tem e qualquer grande mudança não é vista como menos que uma ameaça para o grandão.  

Esse conflito é talvez a grande força que move Wi-Fi Ralph. Toda a mensagem sobre amizade, suas manutenções e sacrifícios, é muito emocional e significativa na jornada dos personagens, desde o primeiro filme. O forte elo entre Ralph e Vanellope rende de momentos divertidíssimos — como a cena do leilão no Ebay — a momentos que certamente emocionarão crianças e adultos. 

E se até a chegada do clímax o espectador consegue prever boa parte dos acontecimentos, há uma boa surpresa na hora da resolução, e o final consegue ser satisfatório e lindo como toda e qualquer animação da Disney. É muito fácil se conectar a Wi-Fi: Quebrando a Internet! 

Obs.: Fique para a cena pós créditos.

Nota: ★★★★✰

Ficha Técnica:

Título original: Ralph Breaks the Internet

Ano: 2018

Direção: Rich Moore, Phil Johnston

Roteiro: Phil Johnston, Pamela Ribon

Elenco: John C. Reilly, Sarah Silverman, Gal Gadot, Taraji P. Henson, Jack McBrayer, Jane Lynch e Alan Tudyk

Fotografia: Nathan Warner

Trilha Sonora: Henry Jackman

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Evandro Lira

Evandro gosta tanto de filmes que escolheu a opção Cinema e Audiovisual no vestibular, e hoje cursa na UFPE. Em constante contato com a cultura pop, se divide entre as salas de cinema, as aulas sobre Eiseinsten, xingar muito no Twitter e a colaborar com o Clube da Poltrona.

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