Fotogramas | O retorno de Lestat – Entrevista com o Vampiro

Adaptado do livro homônimo, Entrevista com o Vampiro chegou aos cinemas em 1994. O roteiro foi feito pela própria Anne Rice, com direção de Neil Jordan. Um dos trabalhos mais memoráveis sobre o universo dos “bebedores de sangue”.

A cena em questão exibe o retorno de Lestat (Tom Cruise), após ser quase assassinado pelas mãos de Louis (Brad Pitt) e Claudia (Kirsten Dunst), sua pupila.

“Escute, Louis, há vida nessas velhas mãos…”

O take desta análise começa exibindo o vampiro sentado ao piano, sob uma cortina que o circunda, ocultando sua aparência. Lestat toca uma canção instrumental, enquanto a câmera delicadamente acentua um zoom in.

Um corte e vemos um plano-detalhe das suas mãos. A ideia é mostrar ao público a aparência mórbida deste vampiro, mas sem apresentar de cara o seu estado. Então, vemos a mão de Lestat dedilhar as teclas do piano. Novamente, um novo corte, a câmera se aproxima da figura deste personagem enquanto a cortina se abre, revelando a sua condição física.

“Como pode ser?”

Claudia indaga, com parte do rosto atrás do ombro de Louis, enquanto a cena ganha maior atmosfera de horror. Então, para mostrar a sensação de medo e passividade da sequência, um novo take exibe a expressão atônita de Louis. Eis um vampiro também com receio de perder a sua imortalidade, afinal Lestat veio para exterminá-lo.

“Pergunte ao crocodilo, o sangue dele ajudou”

A câmera segue e se aproxima de Lestat. Agora, em plano-médio, vemos não só seu rosto, como também o aspecto que se encontra a sua roupa e cabelo. O take segue rápido, fechando um close maior que recorta, apenas, seu rosto. É quando o vampiro explica como sobreviveu, através do alimento do sangue de animais que habitavam o rio Mississipi, do qual permaneceu dado como morto, até então.

O close exibe a face mórbida de uma vingança.

“Claudia, você tem sido uma garotinha muito, muito malcriada!”

Neil Jordan fecha a cena em close extremo na expressão de Cruise, seus olhos azulados e frios, a face quase em estado de putrefação. Lestat para de tocar e o silêncio se sobressai. A sensação de tensão se estabelece, um olhar amedrontador é visível. Ele está imerso na fúria e quer vingar-se dos dois vampiros que tentaram tirar sua chance de imortalidade.

Um rápido corte mostra a movimentação de Lestat quando corre para capturar Louis e Claudia, que se encontram à sua frente. A direção cria uma forma de termos a sensação de que o vampiro tem a habilidade de correr à uma velocidade mais alta; então, enquanto a câmera se move da posição onde se encontrava o personagem ao piano, o vemos surgir do lado extremo oposto. É como se Lestat fosse mais veloz que a própria direção de movimentação de câmera.

Lestat parte para cima de Louis e o confronto se estabelece. Louis cai ao chão.

Em um novo corte, a câmera se posta atrás de Lestat, enquanto vemos Claudia mais ao centro da cena, à frente, do outro lado do móvel coberto por um lençol branco. Ambos criam uma espécie de jogo de “gato e rato”, indo para um lado ao outro, em movimentos rápidos. Lestat tenta caçar a sua pupila. Dunst demonstra o medo com gritos breves.

Cortes se mesclam a outros, dando a ideia da aflição e nervosismo da cena. A montagem é dinâmica neste ponto.

Um novo corte e vemos Lestat derrubar o móvel para o lado e partir para agarrar Claudia. Ela grita de medo. A ação transcorre, vemos Louis atirar um candeeiro contra Lestat, num ato de valentia – um vampiro disposto a proteger a bebedora de sangue, a sua pupila amada.

Em outro take, a câmera corre dos pés à cabeça do ator, exibindo ele se incendiar integralmente. Cruise começa a gritar efusivamente: Lestat se queima! Um rápido corte mostra um close do seu rosto em chamas, totalmente em pânico.

Seria o fim do vampiro mais astuto criado por Anne Rice?

Confira a cena:

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Cristiano Contreiras

Publicitário baiano. Resmungão e sentimental em excesso. Cresceu entre discos de Legião Urbana e Rita Lee. Define-se como notívago e tem a sinceridade como parte de seu caráter. Tem como religião o cinema de Ingmar Bergman. Acredita que a literatura de Clarice Lispector seja a própria bíblia enquanto tenta escrever versos soltos sobre os filmes que rumina.

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