Creed 2 | Análise

 

É fato que todos os filmes da franquia Rocky seguem um certo padrão na estrutura de seu roteiro e, mesmo se repetindo de certa forma, Creed é um filme bem competente em trazer coisas novas para o universo de Rocky Balboa. O que torna a franquia tão legal de se acompanhar é a variedade dos diretores que comandaram os projetos, mostrando novas formas de contar uma história e de nos colocar no ringue.

Chegamos em Creed II já conhecendo bem os personagens, o que abre espaço para explorar melhor os conflitos que surgem entre eles, principalmente quando Adonis Creed (Michael B. Jordan) passa por uma crise de identidade. O que acaba sendo a melhor coisa do filme é esse estudo sobre Adonis e seu luto tardio. Entendemos suas várias camadas, explorando o seu relacionamento com Rocky (Sylvester Stallone), o tamanho da culpa que o ex-lutador carrega em suas costas, o quanto aquilo lhe afeta no dia a dia.

O que torna o filme ainda mais interessante é que todos os coadjuvantes têm seu espaço e todos afetam a vida de Adonis de algum modo. Como cada personagem é desenvolvido através de diálogos com o próprio protagonista faz com que o filme se mantenha em um bom ritmo, sem cansar o espectador.

É, sim, um filme sobre Adonis e a sua busca por criar o próprio legado, mas não deixa de abrir seu leque e se tornar uma obra muito maior que apenas de um só personagem. Rocky também enfrenta alguns fantasmas do seu passado, ao ver que seu pupilo quer bater de frente com o adversário que arrancou parte de sua alma. A única troca de diálogos direta entre o “garanhão italiano” e Ivan Drago é tensa, mostrando que um feriu o outro de um modo que deixou uma cicatriz incurável.

A relação entre Ivan (Dolph Lundgren) e seu filho, Viktor Drago (Florian Munteanu) é complexa: dentre os abusos do pai e suas frustrações, Viktor tem que lidar com o abandono da mãe e de ser a única esperança de Ivan para reconquistar sua “honra”. O simples fato de durante a primeira sequência do filme a primeira interação dos dois é Ivan acordando o filho com um soco, já mostra muito sobre aquela relação, além de ser abusiva, entendemos que Viktor não é visto como um filho pelo seu pai, mas sim, como um meio de reconquistar sua “glória”. Não é preciso muitos diálogos; olhares e gestos já deixam claro como é o relacionamento dos dois.

A trilha sonora também se destaca positivamente, mesclando o tema clássico do Rocky com uma batida de rap, utilizando-o pontualmente para causar um impacto mais nostálgico no público. Não se prendendo a apenas isso, são várias músicas que acabam se tornando parte do personagem.

Bianca (Tessa Thompson) é uma parte bem importante no crescimento de Adonis, sempre trazendo-o para o chão, dando um choque de realidade e fazendo com que o personagem não se perca, principalmente após as derrotas. As cenas entre os dois são repletas de diálogos mais agressivos, não no sentido de ofensas, mas de preocupação e força, mostrando que aquele relacionamento também é um combustível para ambos seguirem em frente.

As lutas têm uma pegada diferente do anterior: Brian Coogler, nos colocava junto ao personagem no ringue, lado a lado para superar as dificuldades com ele. Já Steven Caple Jr., que comanda esta continuação, está mais interessado em nos fazer observar a luta de fora, como se realmente fossemos espectadores naquelas arenas, mostrando que Adonis já subiu um nível e que não conseguimos mais alcançá-lo, mas apenas observá-lo.

À primeira vista, pode ser mais um filme padrão sobre superação aos moldes da franquia Rocky, mas enxergo a obra como algo além, pois aqui não se trata apenas de uma superação física e psicológica para cada luta, mas sim para enfrentar as barreiras que cada personagem ignorou lá atrás e fazer com que sejam derrubadas e superadas. E quando Rocky senta em frente ao ringue após o último triunfo de Adonis, entendemos que aquilo também é um fechamento de um arco que se iniciou lá em 1976, e que tudo que Balboa poderia nos ensinar, já foi feito. Obrigado, Rocky!

Nota: ★★★★✰

 

Direção: Steven Caple Jr.

Roteiro: Cheo Hodari Coker, Ryan Coogler, Sascha Penn, Sylvester Stallone, Juel Taylor

Elenco: Michael B. Jordan, Sylvester Stallone, Tessa Thompson, Phylicia Rashad, Dolph Lundgren, Florian Munteanu, Russell Hornsby, Wood Harris, Milo Ventimiglia, Robbie Johns, Andre Ward

Fotografia: Kramer Morgenthau

Trilha Sonora: Ludwig Göransson

Montagem: Dana E. Glauberman, Saira Haider, Paul Harb

Direção de Arte: Franco-Giacomo Carbone

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Ítalo Passos

Cearense, estudante de marketing digital e crítico de cinema. Apaixonado por cinema oriental, Tolkien e ficção científica. Um samurai de Akira Kurosawa que venera o Kubrick. E eu não estou aqui pra contrariar o The Rock.

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