Green Book: O Guia | Análise

 

Sempre gostei de road movies, pois acabamos crescendo junto aos personagens através de cada locação que a história se passa. Existe também o fator de que esse tipo de filme quando tem uma narrativa bem construída, o ritmo soa mais fluido e a história passa a ser mais interessante.

Dito isso, Green Book funciona muito bem no quesito de construir seus dois personagens centrais. Viggo Mortensen e Mahershala Ali estão perfeitos em seus papéis, entregando muito bem o que a proposta de cada um pede.

Tony Lip (Viggo Mortensen) faz um típico italiano, que come muito, gosta de estar entre a família e trabalha bastante. Ele tem seus princípios e se recusa a se envolver com a máfia, o seu maior defeito é o racismo. Quando fica sem emprego, Tony se vê obrigado a aceitar a trabalhar com Don Shirley (Mahershala Ali), um musicista negro que está de partida para uma turnê pelos estados mais racistas dos Estados Unidos.

Todo filme gira em torno da relação entre os dois personagens, a história é simples e esse é o motivo que a faz funcionar; meio que um complementa o outro e aprendem com suas diferenças. Enquanto Tony começa a repensar seu preconceito, se sentindo cada vez mais desconfortável de ter aqueles pensamentos, Don tenta se encontrar em um mundo que parece ter dois extremos que não o completam.

Don se sente muito distante da cultura da própria raça, já que estudou música clássica em uma escola que não era de fácil acesso para negros; e, ao mesmo tempo quando estava for do palco, não era aceito pelos brancos. Isso coloca o personagem em um “buraco isolado”, tornando-o cada vez mais solitário.

Ali também impressiona por sua postura e trejeitos, acreditamos realmente que ele é um pianista e esquecemos um pouco que ali é um ator. Um dos fatores que tornam seu trabalho tão bom, é ele não precisar falar sobre seu passado — absorvemos tudo pelo modo como fala e anda, até o olhar ajuda nisso.

O grande problema da obra é a falta de ritmo. Como disse acima, road movies tendem a ser mais dinâmicos, mas aqui temos uma obra que se repete muito em seus diálogos e situações; o roteiro não se aprofunda nos problemas que Don passa em cada cidade, tudo é resolvido da forma mais simples possível, muitas delas com Tony utilizando apenas da força bruta. Isso deixa o filme mais pobre e o público cansado um pouco mais da metade da metragem.

Embora mostre um certo desenvolvimento por parte de Tony, deixando o seu preconceito de lado e aprendendo a respeitar as pessoas, não sentimos um verdadeiro impacto disso; não temos uma mudança realmente significativa da qual achemos que ele não tratará mal qualquer outro negro — fica claro apenas que ele respeita Don e só.

Green Book não é um filme ruim, longe disso, é apenas uma obra que se mantém na mediocridade e tem uma história interessante, mesmo que não seja tão bem contada, é algo bom para assistir e desopilar. Creio que essa temporada de premiações venha fazendo mais mal do que bem a uma obra que não vai ser tão lembrada daqui alguns meses.

Nota: ★★★✰✰

Ficha Técnica

Direção: Peter Farrelly

Roteiro: Nick Vallelonga, Brian Hayes Currie, Peter Farrelly

Elenco: Viggo Mortensen, Mahershala Ali, Linda Cardellini, Sebastian Maniscalco, Dimiter D. Marinov, Mike Hatton, P.J. Byrne

Fotografia: Sean Porter

Trilha Sonora: Kris Bowers

Montagem: Patrick J. Don Vito

Direção de Arte: Scott Plauche

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Ítalo Passos

Cearense, estudante de marketing digital e crítico de cinema. Apaixonado por cinema oriental, Tolkien e ficção científica. Um samurai de Akira Kurosawa que venera o Kubrick. E eu não estou aqui pra contrariar o The Rock.

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