Vice | Análise

 

O inicio do longa é extremamente cativante, Vice te ganha logo de cara por dois motivos: o primeiro é pelo seu protagonista, Christian Bale está mais uma vez fenomenal, não apenas pela sua transformação física — isso já era mais que esperado —, seus trejeitos também se destacam, vemos o verdadeiro Dick Cheney em tela.

O segundo ponto é a montagem do filme, a dinâmica é perfeita na primeira hora da obra, deixando o espectador imerso, uma cena interligando a outra, não nos deixando cansar, mesmo com muitos diálogos e nem todos sendo de fácil compreensão.

A narração em off ajuda nesse dinamismo da montagem, exatamente no ponto de difícil compreensão do público em certos assuntos. Também dá força para cada decisão que o protagonista toma, e o narrador não ser o personagem principal ajuda a distinguir pensamentos e história, deixando tudo mais fluido.

Como Adam McKay vem da comédia, é quase que inevitável que não tenha o humor tendo um peso a mais aqui — em certos momentos, o filme é realmente hilário. Um bom exemplo disso é quando o diretor começa a contar praticamente um final de história para o seu personagem principal e coloca créditos finais no meio do longa. Por ser algo tão inesperado, acaba sendo muito cômico.

Isso de o filme não se levar a sério, é um dos seus maiores trunfos, deixando o público menos mais acomodado de absorver todas as informações, sem exigir um apelo mais denso e dramático.

Os problemas do longa começam a aparecer quando ele passa a se levar mais a sério, no meio do segundo ato para o terceiro, ele resolve deixar de lado sua narrativa mais leve e foca na densidade — uma crítica mais pesada as atitudes do personagem. Isso torna a obra mais arrastada, cansando seu público e, consequentemente, desinteressando mais e mais.

Outro ponto no qual o filme se perde um pouco é quando não se decide qual a melhor hora de terminar. O longa tem pelo menos uns 3 finais, dos quais dois teriam sido finais mais interessantes. Ao adiar sua conclusão cena pós cena mais densa, criamos uma certa impaciência e desinteresse para o que vem a seguir.

Estes pontos não tornam o longa ruim, mas tiram muito do potencial que a obra tinha de ser um baita filme político que utiliza do humor para tirar sarro daqueles personagens que cometeram tantas atrocidades na vida real.

O elenco de apoio é bom, mas se ofusca bastante por conta de Christian Bale; a única que consegue chegar a um nível perto do dele é Amy Adams, que interpreta Lynne Cheney. Na verdade, boa parte do desenvolvimento de Dick, vem de sua esposa, ou seja, sem um o outro não existiria com tanta força em cena.

Vice não é uma obra para ser ignorada, tem duas atuações fora da curva que merecem todos os holofotes que estão recebendo, uma primeira hora que é absolutamente poderosa e hilária, mas que perde força por se levar a sério demais. Poderia ser um filme marcante para sua época se mantivesse a pegada mais leve, misturando com um tom mais documental que faz tão bem em seu início — mas, deixa isso de lado e se perde na seriedade que McKay não domina.

Nota: ★★★✰✰

Ficha Técnica

Direção: Adam McKay

Roteiro: Adam Mckay

Elenco: Christian Bale, Amy Adams, Steve Carell, Sam Rockwell, Alison Pill, Eddie Marsan, Justin Kirk, LisaGay Hamilton, Jesse Plemons, Lily Rabe

Fotografia: Greig Fraser

Trilha Sonora: Nicholas Britell

Montagem: Hank Corwin

Direção de Arte: David Meyer, Brad Ricker, Dean Wolcott

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Ítalo Passos

Cearense, estudante de marketing digital e crítico de cinema. Apaixonado por cinema oriental, Tolkien e ficção científica. Um samurai de Akira Kurosawa que venera o Kubrick. E eu não estou aqui pra contrariar o The Rock.

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