Poltrona Pipoca | Capitã Marvel

Quando você é a primeira mulher a fazer alguma coisa, eles dizem que tem que ser perfeito. Do contrário, você será inundada por diversos críticos tagarelando coisas como: “Eu avisei” ou “Eu disse que uma garota nunca poderia ser um super-herói épico”. Isso aconteceu em 2017, com o rompante de Mulher-Maravilha, a primeira protagonista feminina da DCU e dirigido por uma mulher (Patty Jenkins). Segundo a crítica especializada, havia vários problemas, como o fato de Diana ser ingênua e emocional demais.

Dois anos depois, o fato se repete com Capitã Marvel, primeiro filme dos estúdios Marvel protagonizado (Brie Larson) e dirigido por uma mulher (Anna Boden, em parceria com Ryan Fleck). Segundo boa parte da crítica especializada e alguns fãs mais fervorosos dos quadrinhos, a personagem Carol Danvers é séria e racional demais. Acontece que há muito mais a ser explorado dentro dessas “primeiras vezes”. Vamos focar na Capitã, que é o objetivo dessa análise.

capitã_marvel_2019

Uma das qualidades do filme está profundamente enraizada na questão da humanidade e na feminilidade da personagem que lhe dá o poder de salvar o mundo. A garota humana dentro dela diz que é preciso levantar todas as vezes que cair; a mulher que sabe o que significa ser energizada por homens que têm medo do que ela realmente é capaz. Ela declara: “Eu tenho lutado com uma mão nas costas. O que acontece se eu finalmente for libertada?”

É dentro desse contexto que a personagem trava uma batalha também interna para se redescobrir e entender suas aspirações de humana e super-heroína e o que é, de fato, ser poderosa. Como disse Maria Rambeau em um momento: “Eu te conheci antes de você ter superpoderes e te achava muito mais poderosa que agora.”

Já que citei Maria, vou falar do núcleo mais bacana do filme que desenha a relação entre Carol, Maria (Lashana Lynch), sua filha Mônica (Akira Akbar) — ambas heroínas do universo Marvel, mãe e filha —, Nick Fury (o sempre ótimo Samuel L. Jackson), e a gata Goose. O que é evidenciado aqui é a liderança das duas pilotas e a relevância, breve, mas importante, da pequena Mônica que entrega uma parcela de representatividade para garotinhas de dez anos empoderadas e inventivas.

capitã_marvel_2019

Juntas, Carol e Maria pilotam aviões de caça e salvam o planeta sem a interferência de um romance para adocicar a história. Na parceria, Nick Fury dá uns pitacos ali e uns tiros aqui, mas nunca se evidencia para além das personagens femininas. Por essas e outras que o filme passa com louvor no Teste de Bechdel, sem ressalvas. Uma Brie Larson muito centrada, entrega todas as características competentes à personalidade da persona de Carol, uma mulher racional (o que já é ótimo), mas ao mesmo tempo carismática e divertida nos momentos pertinentes.

Nesse ínterim, Capitã Marvel cumpre muito mais do que a proposta de apenas preencher a lacuna entre Vingadores – Guerra Infinita e Vingadores – O ultimato, que estreia em 26 de Abril. O que o filme faz é reafirmar a importância de abordar questões feministas no sentido mais abrangente da palavra. A luta feminina vai muito além de personalidades superficiais. A todo momento, travam-se batalhas internas acerca do autoconhecimento para resistir às pancadas brutais da sociedade. Coragem é um superpoder e tanto pra enfrentar alguns marmanjos por aí, sem que seja necessário provar nada a ninguém, como a própria Carol relata.

capitã_marvel_2019

O filme tem problemas? Sim. A primeira hora se move tão devagar que é possível um certo desânimo, mas depois que pega no tranco, é só diversão. Algumas falhas de edição e roteiro (se piscar, você perderá os flashbacks da infância de Carol que são ultrarrápidos) podem ser um empecilho na fluência da narrativa; mas, sinceramente, isso pouco importa. Carol Danvers é a Capitã Marvel, e ela é a única esperança que os Vingadores têm para consertar o estrago de Thanos. É a história de uma super-heroína com perrengues reais e altamente humanos e que se inspira/enfurece ao som de “I’m Just a Girl“, do No Doubt. A história de uma mulher na qual eu, você e uma porção de mulheres podem se enxergar e se sentirem devidamente representadas.

Nota: ★★★★

Ficha Técnica:

Título original: Captain Marvel

Ano: 2019

Direção: Anna Boden e Ryan Fleck

Roteiro: Anna Boden, Gene Colan, Liz Flahive, Ryan Fleck, Meg LeFauve, Carly Mensch, Nicole Perlman, Geneva Robertson-Dworet, Roy Thomas

Elenco: Brie Larson, Samuel L. Jackson,  Annette Bening, Jude Law, Ben Mendelsohn, Lashana LynchAkira Akbar

Trilha Sonora: Pinar Toprak

Gostou? Siga e compartilhe!

Elaine Timm

Elaine é gaúcha, formada em Jornalismo, atua como social media e curte freelas. Blogueira de várzea, arrisca escritas diversas. Cinéfila, amante dos livros, musical e nerd desde criança, quer ser Jedi, mas ainda é Padawan. Save Ferris.

timm-elaine has 52 posts and counting.See all posts by timm-elaine

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *