O Menino que Descobriu o Vento | Análise
Histórias de superação são constantes no cinema e a escolha de Chiwetel Ejiofor para estrear por trás das câmeras em longa-metragem foi o livro autobiográfico escrito por William Kamkwamba. O resultado é O Menino que Descobriu o Vento, filme que estreou no último Festival de Sundance e está na programação da Netflix.
A escolha dessa história pelo indicado ao Oscar Ejiofor tem muitos vínculos com o ator, já que, apesar de ter nascido em Londres, seus pais são africanos, mais precisamente provenientes da Nigéria. A triste jornada de Kamkwamba (Maxwell Simba), em busca de sobrevivência diante da seca que afligiu a região de Malauí, em 2001 e ajudar a comunidade a obter comida é daquelas narrativas que encantam o espectador — um local com tanta miséria e desprezo dos governantes pelo povo, onde um jovem dedicado praticamente tirou “leite de pedra” e a esperança brotou novamente.
Ejiofor — com exceção de si mesmo que é o único conhecido do elenco — escolheu atores não-profissionais e dá mais veracidade à trama. O garoto Maxwell Simba é um achado: sua performance externa toda a dor, curiosidade e perseverança que Kamkwamba demonstrou ter para salvar a comunidade. A felicidade em seus olhos ao receber a farda colegial social é espontânea, assim como o esforço que os pais tiveram para tirar o filho do campo e dar uma oportunidade melhor através dos estudos.
A chegada das enchentes e posterior seca que assola a região é tratada de maneira irresponsável pelo governo e logo a busca por alimentação e sobrevivência fica cada vez mais frequente, com solos áridos impróprios para plantio, saques e todo tipo de dissabores. Com a dificuldade financeira, as mensalidades do colégio não são pagas e William tenta a todo custo estudar com a ajuda do professor de física, que tem um romance secreto com sua irmã.
O conhecimento de eletrônica e curiosidade inata possibilitaram a William ganhar habilidades a fim de construir um moinho de vento simples, mas funcional. Através dos consertos de rádios e leitura de livros de física na biblioteca da escola, as adversidades não foram suficientes para impedir o garoto a criar um engenho que salvasse a família — possibilitando, assim, que continuasse seus estudos que tanto queria. Peças catadas em ferro-velho, de bicicleta e ajuda de locais ocasionaram o triunfo diante da miséria.
Ejiofor tem uma atuação correta no papel do pai de William, um personagem que sente angústia ao querer mudança para o filho, mas que imaginava que o ele era sonhador demais diante da barbárie; que simples peças ou “brinquedos” não ajudariam os habitantes a superar a dificuldade.
O diretor opta em dividir o filme em capítulos, cada um nomeado com base em etapas de atividades do campo, como plantio, seca, etc. A fotografia ficou a cargo de Dick Pope, indicado a dois Oscar e principal colaborador do diretor Mike Leigh. As imagens extraem beleza da seca, das inundações de outrora e do posterior renascer, de maneira bastante verossímil e realista.
O Menino que Descobriu o Vento é um bom debut de Ejiofor na direção, que tem um roteiro escrito com base na cartilha de filmes motivacionais do estilo: não busca inventar muito e emociona o espectador de maneira eficiente, sem apressar o andamento da história ou cadenciar muito. Nesse quesito, o filme não vai muito além de um bom exemplar dramático — como ponto de partida na direção mostra que Ejiofor não possui apenas talento nas atuações. Tem sensibilidade, apuro estético e verossimilhança com a realidade.
Nota: ★★★★✰
Ficha Técnica:
O Menino que Descobriu o Vento (The Boy Who Harassed the Wind)
Ano: 2019
Direção: Chiwetel Ejiofor
Elenco: Chiwetel Ejiofor, Maxwell Simba, Aïssa Maïga, Joseph Marcell
Fotografia: Dick Pope
Roteiro: Chiwetel Ejiofor, baseado em livro de William Kamkwamba