Love, Club | Um Dia Especial

Um Dia Especial é o tipo de filme despretensioso que acaba agradando por sua simplicidade. Com ares de Sessão da Tarde, Michelle Pfeiffer e George Clooney encarnam personagens estereotipados no formato do par que tem tudo, exceto amor.

Sem intenção de fugir do clichê, Melanie e Jack não suportam um ao outro; mas, conforme o filme avança, eles acabam se apaixonando (ah!). Apesar de tão genérico, não é apenas a química entre Clooney e Pfeiffer que o diferencia dos demais, mas seus filhos. As crianças tornam as situações frustrantes da trama do “lugar errado, hora errada” mais do que suportáveis, sem contar que adicionam muita fofura cômica.

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As pressões das responsabilidades paralelas dos adultos proporcionam incidentes e dinâmica proporcional para o senso de atração crescente entre os protagonistas. É compreensível que Jack se sinta atraído por Melanie imediatamente — Pfeiffer, em um desempenho excelente, enxerga o rapaz como um workaholic desagradável e egoísta que, inicialmente, acredita que ela pode permanecer imune a qualquer coisa que ele possa oferecer. O que sobra de opostos, causa atração entre os dois; enquanto Jack é um homem de meia idade imaturo, Melanie é uma mulher autossuficiente e durona. Um oferece ao outro aquilo que lhes falta.

O diretor Michael Hoffman mantém os elementos em uma perspectiva adequada e, apesar de uma qualidade duvidosa em alguns trechos, integra muito bem a ação do primeiro plano à agitação geral de Manhattan, criando uma imagem vibrante da vida urbana contemporânea. A trilha envolvente, entre outros ritmos, apresenta a canção One Fine Day, de Gerry Goffin-Carole King (inspiração para o título), abrindo o filme e passeando com outras versões da mesma durante o dia chuvoso na cidade grande que não para de correr.

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Clooney cumpre bem o papel que lhe é incumbido; o tipo que desperta a atenção das mulheres com seu charme despretensioso. É uma atuação convincente e a química com Pfeiffer é estimulante, mesmo quando os dois não estão juntos em cena. Nesse contexto, as crianças funcionam como um alívio entre os desencontros do casal. A cena em que Jack está no terapeuta e precisa usar de codinomes como “biscoito” e “peixes” para falar de seus dilemas pessoais é especialmente divertida, pois sua filha Molly parece saber exatamente do que ele está falando, enquanto constrói um castelinho com as cartas do Teste de Rorschach.

O filme não se encaixa no quesito “romance água com açúcar” porque há poucas cenas diretamente românticas nesse dia especial, mas o que o torna especialmente bonito é perceber o despertar do sentimento em momentos sutis e aleatórios. Um deles é quando Melanie aprecia, através da janela do táxi, o barco da excursão que seu filho acabou perdendo — fato que desencadeou os encontros e desencontros do casal. Em outra cena, Jack a chama de Mel, quando ela pensa que ele não lembra de seu nome. As camadas desses dois workaholics vão surgindo, mostrando fragilidades que abrem brechas para o amor se revelar.

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Nessas idas e vindas de flerte, o filme acaba se tornando agradável de assistir por sua sinceridade. Pessoas em busca do equilíbrio entre relacionamento, filhos e carreira é algo tão forte hoje quanto na época em que o longa foi filmado. Quando o dia acaba, eles têm a oportunidade de ficar juntos; mas, há crianças no quarto ao lado assistindo O Mágico de Oz e, ambos estão exaustos demais para qualquer tipo de interação. Por isso, o desfecho é verdadeiro e fofo. Na fita infantil que toca ao fundo, Judy Garland canta Optimistc Voices em sua busca pela Cidade das Esmeraldas, e a cena faz questão de dar ênfase ao momento do “open” para mostrar que o casal, finalmente, se encontrou; mesmo que adormecidos no sofá, o sentimento está consumado.

Ainda que tenha várias falhas, a experiência de assisti-lo é agradável, quase como um guilty pleasure; a química entre os atores é ótima e as crianças dão um toque especial. É clichê e previsível, mas uma ótima pedida para assistir debaixo do cobertor, sozinho ou acompanhado (melhor ainda num dia chuvoso), e apreciar ícones dos anos 1990 procurando o amor em Manhattan.

Nota: ★★★

Ficha Técnica

Nome original: One Fine Day

Ano: 1996

Direção: Michael Hoffman

Roteiro: Ellen Simon, Terrel Seltzer

Elenco: Michelle Pfeiffer, George Clooney, Mae Whitman, Sammy Parker, Amanda Peet

 

 

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Elaine Timm

Elaine é gaúcha, formada em Jornalismo, atua como social media e curte freelas. Blogueira de várzea, arrisca escritas diversas. Cinéfila, amante dos livros, musical e nerd desde criança, quer ser Jedi, mas ainda é Padawan. Save Ferris.

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