Clube Cartoon | O Rei Leão

 

O estúdio Disney, desde a década de 1970, não emplacava algum sucesso artístico ou financeiro até o lançamento de A Pequena Sereia. A partir daí, se inicia o que consideram a fase de renascimento, possuindo obras memoráveis como Aladdin (a análise você pode conferir aqui), A Bela e a Fera e, obviamente, o que muitos consideram o apogeu de tudo com o 32º longa de animação chamado O Rei Leão, conseguindo ser o filme mais visto no ano de sua estreia.

Com uma clara influência em Hamlet (uma das peças shakespearianas mais famosas), todos os temas abordados são realizados com extrema competência para que seu público-alvo consiga compreender. Mufasa (dublado pela marcante voz de James Earl Jones) é um pai exemplar que ensina sem punir, expressa respeito a tudo que o ronda e tem plena consciência de seus deveres por conta de sua posição de poder diante do meio em que habita.

O filme, por meio do tom infantil, sabe transmitir o conceito de família, responsabilidade e morte como poucos. Desde a imagem da pequena pata de Simba sobre a marca da pata de seu pai na terra até a frase “o sol vai se pôr para mim e se erguer para você”, o assunto principal, que é o ciclo da vida e a relação emocional com nossos pais, é cimentado.

lion king

Como várias animações do estúdio, o vilão tem características que o diferenciam de todo o resto. Scar é sarcástico, com uma coloração diferente, movimentos sofisticados, sotaque britânico (Jeremy Irons em um dos papéis mais marcantes da carreira) e bastante magro. A discrepância é tão grande que o leão é o único, entre todos de sua espécie, a mostrar as garras como maneira de exteriorizar essa personalidade maléfica.

Além disso, toda a lógica visual por trás dele é reforçada por um verde fluorescente (que pode ser constatado também nos olhos das hienas) e um amarelo pálido, atingindo seu ápice no momento (inspirado pelo nazismo) do recrutamento das hienas.

lion king

A trilha sonora vencedora do Oscar do alemão Hans Zimmer é um marco ao adicionar elementos africanos (instrumentos e vozes) para suas composições, provocando um genuíno sentimento de pertencimento — algo que pode ser visualizado também pelos coerentes cenários que exploram imensas savanas e campos abertos.

Como se não bastasse, ainda existem as músicas criadas por Elton John e Tim Rice que também ganharam uma estatueta dourada com “Can You Feel the Love Tonight”. Através de melodias poderosas e letras que traduzem com perfeição a essência da obra de 1994, tudo parece contagiar cada frame visto, principalmente por serem inseridas de modo orgânico na realidade da história, fazendo com que os próprios animais as cantem.

A cena mais marcante em toda sua duração é a debandada dos gnus (um dos poucos segmentos em que foi necessário a ajuda de computação gráfica, além do fato de ter durado mais de 2 anos para ser concluído) que culmina na icônica morte de Mufasa. Diferente da morte da mãe de Bambi, aqui a catástrofe é utilizada como catalisador para a evolução do personagem principal.

A divergência de filosofias de vida que aparecem na sua trajetória é uma grande lição para equilibrar ambos os pontos de vista. Se Timão e Pumba (dois dos coadjuvantes mais engraçados da Disney) lecionam a viver sem preocupações, seu pai e Rafiki demonstram que não há como escapar do papel que lhe foi designado.

A transformação de Simba é notória: quando criança acha que ser rei é fazer o que bem entender; depois foge das consequências do passado para, só então, perceber suas obrigações e que é possível aprender com esse mesmo passado.

Toda essa jornada é resumida de forma belíssima com a caminhada do protagonista a King’s Pride, reunindo a sensação de dúvida e receio no começo para, no fim, possuir um olhar de determinação por saber exatamente sua função como figura principal do reino.

lion king

Com pequenas referências no terceiro ato (Rafiki emula movimentos de combate de Bruce Lee e Pumba fala a famosa frase de Taxi Driver: Motorista de Táxi), O Rei Leão se encerra da mesma maneira que se inicia: com o nascimento do filho do rei ao som de “Circle of Life” — uma ferramenta narrativa e visual eficaz para encaixar o tema atemporal do filme que emocionou toda uma geração e ainda impacta novos espectadores.

Nota: ★★★★★

 

 

 

 

Ficha técnica

lion kingNome Original: The Lion King

Ano: 1994

Direção: Roger Allers e Rob Minkoff

Roteiro: Irene Mecchi, Jonathan Roberts e Linda Woolverton

Elenco: Matthew Broderick, Jeremy Irons, James Earl Jones, Rowan Atkinson, Whoopi Goldberg, Nathan Lane, Jim Cummings, Jonathan Taylor Thomas, Ernie Sabella, Moira Kelly, Robert Guillaume, Niketa Calame-Harris,

Trilha Sonora: Hans Zimmer

 

Gostou? Siga e compartilhe!

Jonatas Rueda

Capixaba, formado em Direito e cinéfilo desde pequeno. Ama literatura e apenas vê séries quando acha que vale muito a pena. Além do cinema, também é movido à música, sendo que em suas playlists nunca podem faltar The Beatles, Bob Dylan, Eric Clapton e Led Zeppelin.

jonatasrueda has 66 posts and counting.See all posts by jonatasrueda

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *