Sci-Fi | Matadouro Cinco
Uma mensagem antibélica em meio à tragédia histórica
Em 1969, o mundo sofria diversas mudanças culturais, principalmente nos Estados Unidos. A participação desastrosa do país na Guerra do Vietnã criou um clima de desesperança nos americanos, assim como também gerou diversas obras-primas, seja na música, literatura e cinema. Foi no final dos anos 1960, e na década seguinte, que vimos o surgimento da Nova Hollywood e muitos diretores que se tornariam verdadeiros autores, como Martin Scorsese, Steven Spielberg, Francis Ford Coppola, dentre outros.
Essa época fez com que o escritor Kurt Vonnegut Jr. escrevesse o livro Matadouro-Cinco e fez um enorme sucesso, tornando-se uma obra essencial para quem quer conhecer a história da ficção-científica na literatura. Não demorou para que, em 1972, o excelente diretor George Roy Hill, do maravilhoso Butch Cassidy, e que um ano depois dirigiria Golpe de Mestre, resolvesse adaptar o livro de Kurt. O resultado é que Matadouro Cinco é uma ótima sci-fi, com boas sacadas no roteiro escrito por Stephen Geller e uma narrativa não-convencional.
Inventividade na narração cinematográfica
Não eram tão comuns filmes com narrativas não-lineares nos anos 1970 e o longa é um triunfo nesse aspecto. Acompanhamos a história de Billy Pilgrim no passado, presente e futuro; e um simples momento que o protagonista esteja absorto em seus pensamentos, ele pode não estar ali naquele exato momento. Pode muito bem estar em uma de suas “viagens” particulares. Com o desenrolar da trama, aprendemos os motivos para ele ter essa habilidade temporal e os eventos históricos que ele presenciou em sua vida. A montagem do indicado três vezes ao Oscar, Dede Allen, é soberba, fator primordial para que prenda a atenção do espectador nesse vaivém temporal.
O ator Michael Sacks, em sua primeira performance cinematográfica, é o “viajado” protagonista. Carregado por pesadas maquiagens que indicam a passagem do tempo, o ator dá vida a um aparente homem ingênuo que passa a perceber a habilidade que possui em viajar cronologicamente, num piscar de olhos. Acompanhamos ele no futuro diante de esposa e filhos, mais jovem na Segunda Guerra Mundial, capturado por alemães na cidade de Dresden, e num planeta chamado Tralfamadore, mais precisamente um quarto cercado por uma redoma nos confins da galáxia. Como o personagem transita por esses ambientes e épocas é o que motiva o espectador a decifrar a trama.
A fotografia de Miroslav Ondrícek é magnífica, principalmente no segmento que se passa em Dresden. A transição entre as maravilhas arquitetônicas da cidade alemã, e os escombros resultados de sua destruição, são captadas com maestria pelo fotógrafo tcheco. A trilha sonora composta por Glenn Gould é música clássica de primeiríssima linha e também é responsável por prender a atenção de quem assiste a obra.
Humor nem sempre conveniente
O principal motivo do filme não levar nota máxima é o terço final, cujo desfecho é datado e bobo, em comparação com o que vinha sendo apresentado, até então. Alusões à Segunda Guerra e à Guerra do Vietnã, pai e filho com o mesmo destino bélico, assim como as inventivas viagens no tempo do protagonista, são questionamentos que são apresentados de maneira inteligente pelo diretor e roteirista. E a forma como o filme termina é como se fosse um “banho de água fria”, um desfecho preguiçoso diante de toda ousadia demonstrada.
Alguns outros personagens são apresentados de maneira desinteressante: como a esposa de Billy e seus filhos, sem nenhum peso dramático. Há momentos de humor no filme, alguns bem-vindos, outros não, principalmente os contidos no arco final, mas no geral, nada que atrapalhe o andamento do filme.
Matadouro Cinco merece ser visto e lido. O livro foi lançado em 2019 em nova versão pela editora Intrínseca, facilmente encontrado, e o filme é uma ousada história de viagem no tempo, assim como um libelo anti-guerra. Uma pérola da ficção-científica.
Nota: ★★★★✰
Ficha Técnica:
Matadouro Cinco (Slaughterhouse-five)
Ano: 1972
Direção: George Roy Hill
Elenco: Michael Sacks, Ron Leibman, Eugene Roche, Valerie Perrine, Holly Near, Perry King.
Roteiro: Stephen Geller, adaptado da obra de Kurt Vonnegut Jr.
Trilha Sonora: Glenn Gould
Fotografia: Miroslav Ondrícek
Montagem: Dede Allen
Como faço para conseguir um vídeo/C De, do Filme Matadouro 5? Eu assisti o filme em meados dos anos 70/80, na T V, na Band, e Gostaria de Rever o Filme, Nota 1.000 Para Ele-Abracos,Marco