Nos cinemas | O Rei Leão
Desde que foi anunciado, o live action de O Rei Leão causou bastante comoção. Não é para menos: a história do leãozinho que foge de casa após a morte do pai e volta para assumir suas responsabilidades é um clássico da Disney, um dos maiores sucessos de público e crítica já produzidos pelo estúdio. Se essa expectativa atrapalha a experiência ao assistir ao novo filme de Jon Favreau é uma opinião que tem variado bastante entre o público.
Com um início emocionante que reproduz praticamente um quadro a quadro da icônica cena de “Circle of Life” (ou “Ciclo Sem Fim”, na versão brasileira), o novo O Rei Leão é um deslumbre visual. Mostrando diferentes paisagens do continente africano, o longa não fica devendo muito — se é que fica devendo alguma coisa — no quesito fotografia. No entanto, a ideia de aproximar os animais o máximo possível da realidade vem rendendo comentários de que eles estão sem expressão. É fato que, em algumas ocasiões, como quando Simba descobre o corpo do pai sem vida no desfiladeiro ou em alguns dos momentos mais vis de Scar, faz falta uma emoção mais nítida na expressão dos personagens. Porém, na maior parte do filme, essa carência é sanada pelo excelente trabalho de voz dos dubladores (pelo menos no caso do elenco original americano).
Os destaques desse elenco, aliás, são Billy Eichner e Seth Rogen, dando voz à dupla Timão e Pumba, assim como o apresentador John Oliver, que faz um ótimo Zazu. Chiwetel Ejiofor defende Scar, um dos maiores vilões da Disney — e, ouso dizer, da história do cinema —, com dignidade, enquanto Donald Glover traz todo o seu carisma habitual para Simba na fase adulta (e eu não vou comentar sobre a Beyoncé porque, sinceramente, embora concorde que ela tem um vozeirão, não acho que combine com a Nala. Mas aí é gosto e percepção pessoal).
Vinte e cinco anos após encantar com a animação, a impressão é de que o “live action” (aspas, já que ainda se trata de computação gráfica) veio para inundar de nostalgia os corações dessa mesma geração, que cresceu assistindo as aventuras de Simba, sua amizade com Timão e Pumba e seu amadurecimento que o levou ao embate com o tio, Scar. Ou seja, é um filme que cativa mais os adultos saudosos do que as crianças da nova geração. Ainda que o roteiro seja o mesmo, a proximidade com a realidade também parece ter trazido um pouco mais de maturidade à narrativa, mantendo a mensagem de comunidade, responsabilidade e família, mas comunicando mais diretamente com um público mais crescidinho.
As sequências de ação são muito bem trabalhadas: a cena da debandada dos gnus que deixa Simba em apuros e culmina na morte de Mufasa é eletrizante, assim como a cena em que o leãozinho e Nala fogem das hienas famintas no cemitério de elefantes. Porém, nada causa tanto arrepio quanto causava no filme original animado, seja pela falta de surpresas ou pela diminuição de possibilidades de expressões e movimentos dos bichos.
Favreau conseguiu um resultado bonito e divertido ao recontar a história de Simba; é uma pena que a magia da animação não tenha acompanhado todo esse deslumbre visual no pacote. Ainda assim, vale a pena conferir.
NOTA: ★★★
Ficha Técnica:
The Lion King
Ano: 2019
Direção: John Favreau
Roteiro: Jeff Nathanson
Vozes originais de: Donald Glover, Beyoncé, Seth Rogen, Billy Eichner, Chiwetel Ejiofor, James Earl Jones, Alfre Woodard, John Oliver, Keegan-Michael Key
Fotografia: Caleb Deschanel
Trilha sonora: Hans Zimmer