Horrorscópio | Psicose (1960)
O poderoso e complexo thriller psicológico de Alfred Hitchcock é o “pai” de todos os filmes modernos de suspense — ele sozinho introduziu uma era de slashers com muito sangue e assassinatos gráficos e chocantes, como Homicidal (1961) , O Massacre da Serra Elétrica (1974), Halloween (1978), Motel Diabólico (1980) e o clássico de Brian De Palma, Vestida para Matar (1980) — e não é à toa que Psicose é considerado uma das maiores obras realizadas pelo cinema, advento de uma mente genial que sabia como ninguém provocar o medo através de um roteiro afiado e plots desafiadores.
O mestre do suspense manipula habilmente e orienta o público a identificar-se com a personagem principal, Marion (Janet Leigh), e depois com o assassino da personagem — um taxidermista maluco e tímido chamado Norman (uma brilhante interpretação de Anthony Perkins). As técnicas de Hitchcock provocam o público de uma forma quase voyeurista com as forças e segredos malignos universais e obscuros presentes no filme.
Neste filme, o dispositivo enigmático de Hitchcock, chamado de “MacGuffin” (um elemento que motiva os personagens, ou impulsiona o enredo e a ação), são os $ 40.000 dólares roubados do escritório do corretor de imóveis. Nesse caso, Marion Crane se torna um “MacGuffin” secundário após seu assassinato.
O roteiro de Joseph Stefano foi adaptado de um romance de mesmo nome do autor Robert Bloch. Notavelmente, o romance de 1959 foi baseado no lendário assassino em série da vida real, Edward Gein, cujo personagem também inspirou o agricultor obcecado pela mãe em Confissões de um Necrófilo (1974), o Leatherface de O Massacre da Serra Elétrica e o psicótico Jame Gumb em O Silêncio dos Inocentes (1991).
Como muitos dos filmes de Hitchcock, Psicose é tão complexo e cheio de camadas que diferentes visões são necessárias para capturar toda a sua sutileza. Imagens simbólicas envolvendo pássaros empalhados e espelhos refletores estão sempre presentes, e embora seja um dos filmes mais assustadores já feitos, possui muitos elementos de comédia envoltos em um mistério sarcástico que desafia qualquer jovem diretor a entender os mecanismos de Alfred para criar tensão.
O filme sombrio e monocromático se torna ainda mais envolvente pela escassa, porém notável, trilha sonora de Bernard Herrmann, primeiramente reproduzida sob os créditos frenéticos, mostrados com linhas horizontais e verticais cinzentas e abstratas que ricocheteiam para frente e para trás, violentamente, separando as telas e fazendo com que elas desapareçam. Esses padrões entrecruzados, como imagens espelhadas, estão correlacionados com a personalidade esquizofrênica apresentada no filme.
Sempre que alguém fala sobre Psicose, as primeiras imagens que vêm à mente são as de Janet Leigh sendo esfaqueada até a morte no chuveiro; a cena é tão famosa que até as pessoas que não viram o filme estão cientes disso. A música estridente e discordante do violino de Herrmann foi usada em inúmeros outros filmes para denotar a personalidade de um “psicopata”, mas o brilho da cena está na edição.
Se analisarmos quadro a quadro, é possível notar o quanto a cena foi criativa em sua montagem: vemos uma faca, sangue (na verdade, calda de chocolate), água escorrendo, o corpo nu de uma mulher (com certas partes estrategicamente escondidas da câmera), e uma breve penetração da lâmina na carne molhada. O horror total do assassinato é apenas sugerido na tela. É preciso o poder da imaginação do espectador para preencher os espaços em branco.
Sabemos que Psicose sobreviveu ao tempo e continua sendo emblemático, por isso, suas sequências e remakes não obtiveram o mesmo êxito, tamanha a inteligência da obra. Poucos filmes do gênero terror/suspense dos últimos tempos foram capazes de gerar tantos arrepios e mexer com o psicológico como esse fez. Sua fotografia em preto e branco é perfeita para o tom e humor da narrativa — a intensidade de cores teria embaçado a qualidade do pesadelo. O cuidado meticuloso com que Hitchcock compôs cada cena é evidente na qualidade do produto e, embora esse feito não represente o auge da carreira do diretor, é o filme pelo qual ele é mais conhecido e seu legado é indiscutivelmente um dos mais abrangentes em comparação com muitas produções saídas Hollywood.
Nota: ★★★★★
Ficha técnica
Nome Original: Psycho
Ano: 1960
Direção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Joseph Stefano e Robert Bloch
Elenco: Anthony Perkins, Janet Leigh, Vera Miles, John Gavin, Martin Balsam, John McIntire
Fotografia:John L. Russell
Trilha sonora:Bernard Herrmann