Listão do Clube | Essa cena de terror me arrepiou!

Todo mundo tem na memória aquela cena de filme que nos fez arregalar os olhos – ou quem sabe fechá-los -, prender a respiração, gritar de horror, exclamar um palavrão, ou nos traumatizar para sempre.

Sequências como essas, é claro, são feitas pensadas exatamente para nos causar uma sensação de desconforto e completo terror. E é sobre algumas das mais brilhantes que nos debruçaremos neste post. Em pleno Dia das Bruxas, o Clube da Poltrona intimou seus membros a relembrar de algumas das cenas de terror mais arrepiantes da história do cinema.

E você confere o resultado, rolando a página:

A TV em O Chamado (2004)

Se você nunca desligou a televisão e saiu correndo do cômodo com medo de que ela ligasse novamente, provavelmente nunca assistiu O Chamado. A adaptação do filme japonês Ringu tem uma das cenas mais assustadoras do cinema: aquela em que Noah, personagem de Martin Henderson, está tomando um café e percebe que sua TV ligou sozinha. Ele vai até a sala e a desliga. Porém, assim que vira de costas, o aparelho volta a ligar exibindo o famoso vídeo com Samara, interpretada por Daveigh Chase, saindo do poço. Seu telefone começa a tocar sem parar, mas ele parece hipnotizado pelo vídeo. Logo, ela não está mais dentro da televisão, mas em sua sala indo a sua direção. Aí não adianta correr, gritar ou pedir ajuda! Se já passaram os sete dias, ela vai pegar o que quer. Se isso não te deixa apavorado, eu não sei o que pode deixar!

 

Por Naty Lippo

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O chuveiro em Psicose (1960)

Um dos momentos mais clássicos não só do gênero como de toda a história do cinema é aquele em que Marion está calmamente tomando um banho em sua suíte do Motel Bates e, de repente, uma sombra aparece na cortina no box: alguém com uma faca. A trilha de notas bruscas com instrumentos de cordas marca cada estocada dada no corpo da moça, que grita apavorada. O assassino some sem que vejamos seu rosto, revelando apenas uma silhueta com roupas femininas ao deixar a cena do crime. O que garante a “poesia” da cena (além de alguns arrepios extras) é a forma como Alfred Hitchcock filma a vítima escorregando vagarosamente pelos azulejos e puxando a cortina de plástico. A trilha some e ficamos apenas com o barulho do chuveiro sobre o corpo ensanguentado de Marion.  Uma aula de cinema e de como causar calafrios no espectador.

 

O piano em Os Outros (2001)

Um piano tocando do nada, portas se abrindo e fechando sozinhas, uma casa antiga, escura e isolada: esses são os elementos que dão o tom a uma das cenas mais tensas de Os Outros. Grace, personagem de Nicole Kidman, chora sozinha em seu quarto quando ouve o som de música.  Com seu rifle em mãos, ela resolve checar o que está acontecendo na sala de música no andar de baixo. Mas, ao abrir a porta, a música para e não há ninguém perto do instrumento. Daí pra frente de desenrola uma sequência que rende sustos, deixa o espectador confuso e muito possivelmente – para os corações mais fracos como o meu – com vontade de ficar encolhido em posição fetal na poltrona. A trilha bem pontual acaba destacando os momentos de silêncio absoluto e o ranger da porta. Depois disso, ao ver uma porta batendo sozinha em casa você nem vai pensar em culpar o vento.

 

Por Roseana Marinho

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A primeira vítima de Michael Myers em Halloween: A Noite do Terror (1978)

Logo em sua primeira cena, John Carpenter nos coloca no ponto de vista de Michael Myers na noite de Halloween. Ele adentra pela casa pela porta dos fundos, passando pela cozinha, onde pega uma faca. O acompanhamos até o quarto de sua irmã, sem ter muita pressa; o diretor faz de tudo para nos sentirmos na pele de Michael, até que finalmente o mesmo mata sua irmã a facadas. E só após ele descer as escadas e chegar na rua onde seus pais o veem coberto de sangue e com uma máscara, que vemos o seu rosto em choque. O fato de Carpenter conseguir criar uma tensão tão forte em uma cena simples, é o trunfo do conhecimento da técnica cinematográfica e sua importância. Pelo brilhantismo em cima da simplicidade, esta cena entra em nossa lista.

 

A decapitação em Hereditário (2018)

Essa é uma sequência bem curta, mas que me deixa apavorado toda vez que lembro dela, pois tudo aqui é feito para te fazer não acreditar no que aconteceu e passar pelo mesmo estado de choque que Peter. A fotografia é escura, completamente um breu na estrada; enxergamos apenas dentro do veículo e poucos metros à frente, por conta da iluminação do farol do carro. Tudo isso é potencializado com a crise respiratória de Charlie, e o desespero de seu irmão querer chegar o quanto antes em casa. O exato momento em que a garota põe metade do corpo para fora do veículo em busca de ar, é quando o diretor praticamente nos avisa que algo horrível vai acontecer. O diretor não cortar no momento do impacto de Charlie com o poste torna a situação mais natural, fazendo com que nós mesmos fiquemos incrédulos. E todo nosso sentimento é reproduzido por Peter, que não consegue largar o volante e, mesmo lutando, não tem forças para olhar para trás. É desesperador nos colocar na pele do personagem.

https://www.youtube.com/watch?v=vMVfyrEb4wM

 

Por Ítalo Passos

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O prego em Um Lugar Silencioso (2018)

Poucas cenas são tão agonizantes quanto o momento em que a personagem de Emily Blunt pisa acidentalmente em um prego enquanto tenta escapar dos monstros assassinos de Um Lugar Silencioso. É praticamente impossível não sentir a dor lancinante da mulher, que não pode fazer barulho e precisa conter o choro em silêncio para não ser farejada pela criatura, que mata a qualquer indício de som.

https://www.youtube.com/watch?v=0dMOSS21WtM

 

 

 

A casa em A Bruxa de Blair (1999)

O “pai” dos filmes de terror found footage, A Bruxa de Blair nos faz testemunhar, em seu ato final, uma cena verdadeiramente aterrorizante. Heather e Michael ouvem os gritos agoniados de Josh, seu amigo desaparecido, e o seguem até uma casa abandonada no meio da floresta. O local é cheio de símbolos inscritos e marcas sangrentas nas paredes.

Lá, os dois passam a percorrer o ambiente, desesperados enquanto ouvem os gritos de Josh, até que de repente uma força invisível ataca Mike, o fazendo derrubar a câmera e ficar completamente imóvel e silencioso. É quando Heather, tomada pela histeria e desespero, filma um Mike de frente para a parede, estático e assombroso. Por fim, ouvimos os gritos de Heather, sua câmera cai, ela fica em silêncio e a filmagem é interrompida.

O que aconteceu? Não sabemos. E talvez seja esse o grande trunfo da sequência.

 

Por Evandro Lira

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O ritual satânico em O Bebê De Rosemary (1968)

Ao utilizar uma trilha sonora incômoda (o constante barulho do ponteiro do relógio é certeiro) e nunca recorrer a sustos gratuitos, tudo que envolve o ritual, cuja intenção é a de engravidar a protagonista, é filmado e montado de maneira que mescla o que de fato está ocorrendo com o onírico para “amarrar” toda a essência da narrativa. Até esse ponto, a obra de Roman Polanski convida a plateia a questionar o que está presenciando: tudo isso é fruto da mente da protagonista (interpretada por uma frágil Mia Farrow) ou isso está acontecendo de verdade?

Repleto de simbolismos (a cor vermelha da roupa; o anel de casamento sendo retirado de sua mão pelo próprio marido para representar a quebra de confiança; Jackie Kennedy ao lado da cama), a cena é a prova viva de um diretor inteligente que sabe usar o gênero para provocar seu público da forma mais perturbadora possível.

 

O restaurante em Cidade Dos Sonhos (2001)

Uma das obras-primas do século XXI. O segmento em questão envolve dois personagens dentro de um restaurante e um deles começa a falar que sonhou exatamente estar no local, onde há um homem atrás que pode enxergar seu rosto por trás das paredes e que, fora desse sonho, espera nunca mais ver. Depois da conversa, ambos saem do recinto com o intuito de comprovar a realidade e retirar a péssima sensação que consome tal personagem, porém, o que vemos talvez seja um dos grandes jump scares da história da sétima arte.

Apenas diretores geniais como David Lynch são capazes de criar uma atmosfera sufocante dentro de um ambiente comum em plena luz do dia. E ao colocar o susto logo no início, o objetivo de tornar o espectador mais receoso com os acontecimentos no restante da duração fica claro, onde várias outras cenas parecem forjadas para tal função, mas o fato de sempre recusar o propósito chega a ser quase sádico ao estender a sensação agonizante do público.

 

Por Jonatas Rueda

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A mulher suicida em O Sexto Sentido (1999)

Aquele meme do medo de ir à cozinha de madrugada nunca fez tanto sentido quanto nessa cena de O Sexto Sentido. É um mito que nos segue durante todas as fases da vida, talvez pelo fato de estarmos vulneráveis, recém acordados, andando no escuro ou na meia luz. Quando Cole (Haley Joel Osment) vai ao banheiro no meio da noite e ouve barulhos na cozinha, ele pensa ser sua mãe, mas logo se depara com o fantasma de uma mulher suicida (possivelmente a moradora anterior do apartamento), que vive uma ilusão pós-morte esperando pela vingança ao marido abusador. O trecho é curto, mas, desde o momento em que o garoto se mostra apreensivo, como se estivesse pressentindo a entidade, a tensão já se cria e cresce até o ápice assustador. É nessa cena também que descobrimos o motivo das gavetas e portas dos armários estarem sempre abertas e de forma inesperada.

 

A senhora fantasma em Corrente do Mal (2014)

Esse é o tipo de cena assustadora que não precisa de um susto ou jump scare para causar medo. Numa sequência irretocável, câmera, fotografia, atuações e trilha sonora causam uma tensão que cresce junto à reação da protagonista Jay (Maika Monroe). Uma idosa com olhar psicótico caminha na direção da garota e nós, espectadores, não sabemos ao certo o que ela quer fazer, mas seu ímpeto é carregado de insanidade e esse desconhecimento acerca de tudo é o despertar da aflição (nossa e da personagem). Claramente inspirado em John Carpenter e Stanley Kubrick, o diretor David Robert Mitchel sabe como conduzir o trecho de uma maneira a segurar o temor já instalado e transformá-lo em pavor ao passo que tudo acontece diante de nossos olhos. Até o poema de T.S. Eliot narrado pela professora durante a aula parece se conectar de forma crescente com o movimento da sinistra entidade que se aproxima. Nunca uma senhora com trajes médicos causou tanto medo quanto nessa sequência apavorante de Corrente do Mal.

https://www.youtube.com/watch?v=BRGZbILssWo

 

Por Elaine Timm

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O exorcismo em O Exorcista (1973)

William Friedkin concebeu uma das mais inspiradas cenas de horror da história do cinema. O trabalho de câmera do diretor é muito simples: Um plano próximo ao padre, outro próximo ao demônio para capturar suas reações, um do outro padre, mais distante deste, e um plano aberto de toda a ação. De acordo com o prosseguimento da cena, Friedkin brinca cada vez mais com a insolência, a nojeira e o poder do demônio.

O diretor quase revela a forma do demônio com luzes que piscam incessantemente e a forma do ser maligno saltando aos olhos rapidamente. Quanto mais intenso o embate entre luz e trevas se torna, mais o ser revela seu poder. O demônio, liberto, chega próximo à janela e mostra completamente sua forma, se movimentando bruscamente, quase como se estivesse em uma dança deliberada. Com esse conjunto, William Friedkin constrói um momento tenso, assustador e, ao mesmo tempo, simbólico e épico.

 

O ritual das bruxas em A Bruxa (2015)

A cena final de A Bruxa revela os desejos mais profundos da protagonista Thomasin, o de ser uma pessoa livre, de viver de acordo com os seus próprios anseios e sem julgamentos. O filme de Robert Eggers se pauta nesse tema, o da libertação feminina, com a bruxaria sendo uma opção à hipocrisia do cristianismo, ao modelo tradicional de rebaixar as mulheres à meros acessórios e praticar a castidade de maneira doentia.

O diretor se atém a mostrar um plano aproximado de Thomasin e de expor a voz de Black Phillip, aterrorizante, enquanto este seduz a garota e promete a tão sonhada liberdade. Momentos depois, vemos as bruxas no ar, metáfora à liberdade alcançada por elas por se rebelarem contra o sistema. A cena termina com Thomasin flutuando alto, de forma poética e lírica. Assim o filme se encerra e não existia uma maneira mais perfeita de encerrar um grande filme.

 

Por Tiago Araújo

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Evandro Lira

Evandro gosta tanto de filmes que escolheu a opção Cinema e Audiovisual no vestibular, e hoje cursa na UFPE. Em constante contato com a cultura pop, se divide entre as salas de cinema, as aulas sobre Eiseinsten, xingar muito no Twitter e a colaborar com o Clube da Poltrona.

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