Nos Cinemas | As Panteras

 

Em sua terceira geração, as meninas do Charlie voltam à tela dos cinemas sob a batuta de Elizabeth Banks. O novo filme sobre as agentes secretas conhecidas como As Panteras conta com Kristen Stewart,  Naomi Scott e Ella Balinska compondo o trio imortalizado nos anos 1970

A direção de Banks já ganha o espectador logo nas primeiras cenas ao mostrar mulheres de várias idades vivendo. Cada uma com suas características, etnias e idades realizam funções gerais como andar de bicicleta, estudar, brincar, trabalhar e caminha pelas ruas. Essa sequência já esclarece o quanto o filme está preocupado em mostrar os vários corpos femininos existentes no mundo. 

Consequentemente, todo o filme gira em torno desse valor: da mulher que ocupa o lugar que ela quer. O gatilho para o desenrolar da trama é Calisto, uma fonte de energia desenvolvida pela pesquisadora Elena (Scott). Seu patrão (Nat Faxon), um empresário ganancioso, ignora as falhas no aparelho e decide lançá-lo no mercado. Devido a uma inconsistência em sua programação, a fonte que deveria beneficiar as pessoas pode ser convertida em uma arma letal. Porém, esse ítem é roubado da empresa, o que pode anteceder uma catástrofe mundial. Em busca de ajuda a vida da cientista se cruza com a de Sabina (Stewart) e Jane (Ella), agentes da Townsend que, com a ajuda de Bosley (Elizabeth Banks), tentarão recuperar o item furtado.  

Ao longo de toda trama as relações de convivência entre mulheres é estabelecida e, de maneira efetiva, Banks desconstrói as relações de rivalidade e fortalece o companheirismo entre as moças. Outra sábia escolha da diretora é a de apresentar situações machistas cotidianas, como um alívio cômico que provoca constrangimento ao percebermos o quão injusto o patriarcado é. Em uma das principais cenas de apresentação do Calisto, a personagem de Faxon ignora tudo o que Elena diz, afirmando o tanto que ele sabe mais que ela das situações mesmo sem ter lido o relatório apresentado.

Além disso, há várias piadinhas feitas pelos homens que demarcam essa relação de poder e chacota ao qual as mulheres são submetidas. Essas posturas são contrapostas por afirmações das personagens femininas como no momento em que Sabina afirma que por ser bela demais ela não provoca suspeitas, já que esperam que ela não seja dotada de nenhuma inteligência. 

A roteirista-diretora consegue também apresentar em cena mulheres sensuais sem hipersexualizar seus corpos, diferente do que vimos nas gerações anteriores das Panteras. Ela brinca com os cabelos esvoaçantes, zomba dos gestos de luta e coloca as moças para questionar o quanto é realmente confortável e/ou possível correr e saltar de salto e roupas justas. 

Todas essas escolhas de Banks reforçam o que se vê desde a primeira cena: mulheres que cabem em vários lugares, cada uma com sua particularidade formando uma rede diversificada de pessoas. E quanto aos homens… ah, esses são os coadjuvantes, que complementam a trama e as subtramas, oferecendo elementos que deem suporte às meninas. 

O Bosley de  Patrick Stewart é um tipo de mentor da Bosley de Banks; já o de Djimon Honsou, o equivalente para Jade. Como principal vilão, Jonathan Tucker está tão estranho, psicopata e silencioso quanto Crispin Glover em As Panteras de 2000. E ainda temos Noah Centíneo, Chris Pang, Sam Claflin e Luis Gerard Méndez no elenco masculino. 

As Panteras apresenta sua maior falha em seus cortes excessivos que não agilizam as sequências, as tornando cansativas. Usar de Kristen Stewart como alívio cômico em alguns momentos é equivocado e em outros consegue reforçar a ideia de garota chata que tenta, mas não consegue ser divertida. As coreografias de luta também são um ponto negativo, afinal, ficamos mal acostumados com a potência das lutas desenvolvidas por Cheung-Yan Yue nos filmes de 2000 e 2003. 

Contudo, não há como dizer que o filme é desinteressante ou banal. Ao mostrar os dilemas cotidianos que nós, mulheres, enfrentamos ao tentar nos posicionarmos profissionalmente toda a trama em si já adquire valor. Não é de se esperar que todos abram seus olhos para isso, mas com certeza, qualquer uma que já passou por silenciamentos, julgamentos de incapacidade e frustrações vinculadas ao seu gênero, sentirão uma pontinha de acolhimento na proposta de Elizabeth Banks para essa nova geração d’As Panteras. 

Nota: ★★★✰✰

 

 

 

Ficha técnica

Nome Original: Charlie’s Angels

Direção: Elizabeth Banks

Roteiro: Elizabeth Banks

Elenco: Kristen Stewart, Naomi Scott, Ella Balinska, Djimon Honsou, Patrick Stewart, Sam Claflin, Jonathan Tucker, Noah Centineo, Nat Faxon, Chris Pang, Luis Gerard Méndez

Fotografia: Bill Pope

Montagem: Alan Baumgarten, Mary Jo Markey

Trilha Sonora: Brian Tyler

 

 

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Yasmine Evaristo

Artista visual, desenhista, eterna estudante. Feita de mau humor, memes e pelos de gatos, ama zumbis, filmes do Tarantino e bacon. Devota da santíssima Trindade Tarkovski-Kubrick-Lynch, sempre é corrompida por qualquer filme trash ou do Nicolas Cage.

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