Festival do Rio 2019 | Judy: Muito Além do Arco-Íris
Nascida Frances Ethel Gumm, Judy Garland sem dúvida alguma foi uma das maiores estrelas do cinema de todos os tempos. Protagonista de clássicos como O Mágico de Oz (1939) e Nasce Uma Estrela (1954), sua carreira se iniciou quando tinha apenas dois anos e meio, incentivada a subir no palco pela avó e cantar a canção natalina Jingle Bells. Ao longo de 45 anos de carreira, a atriz ganhou um Oscar Juvenil em 1939, um Globo de Ouro em 1955 e um Globo de Ouro Honorário pela carreira em 1962, além de dois Grammys também em 1962.
Contudo, por trás de tanto sucesso, a trajetória de Garland foi marcada por abusos por parte da sua mãe e dos executivos dos estúdios para os quais trabalhava, que a pressionavam de tal forma que sua saúde mental e física foram negativamente afetadas desde sua adolescência. Por momentos, ela chegou a trabalhar 18 horas por dia durante seis dias por semana, tendo sua aparência constantemente criticada e sua dieta controlada ao ponto de passar fome nos bastidores, sendo obrigada a tomar pílulas para perder o apetite, se manter acordada e para dormir. Durante sua vida adulta, a atriz teve que lidar com abuso de álcool e substâncias, além de instabilidade financeira e quatro separações conjugais.
Judy Garland faleceu aos 47 anos de idade, em Londres no ano de 1969.
Baseado na peça musical End of the Rainbow, de autoria de Peter Quilter, e dirigido por Rupert Goold (de A História Verdadeira), Judy: Muito Além do Arco-Íris relata o último ano de vida da atriz e cantora quando foi à Londres no inverno de 1968 para performar durante cinco semanas concertos esgotados na casa de shows Talk of the Town. Em meio a esse período, o filme abordará seu vício em bebidas e medicamentos, seu relacionamento com Mickey Deans, sua relação com seus dois filhos mais novos e o declínio de sua saúde.
A trajetória de Judy Garland é, certamente, um dos maiores exemplos da exploração e toxicidade presentes na indústria cinematográfica hollywoodiana. Para contar a vida de alguém com um histórico tão brilhante e marcante para o cinema e ao mesmo tempo tão dramático e doloroso, a obra aposta todas as suas fichas em Renée Zellweger. E Judy: Muito Além do Arco-Íris é Renée Zellweger.
Sua interpretação é o que move o longa, e isso fica claro em uma das apresentações da personagem que é filmada sem cortes, seguindo a protagonista performando como se fosse um holofote. E mesmo que Zellweger pese a mão nos maneirismos afetados (distraindo o espectador) e sua caracterização não lembre muito Judy Garland (lembra mais sua filha, Liza Minnelli), é inegável seu comprometimento tanto físico quanto emocional em tela. Sua indicação ao Oscar de Melhor Atriz é praticamente certa.
No entanto, ao focar e depender tanto de Zellweger para funcionar, todos aqueles personagens em volta de Judy são mal desenvolvidos ou utilizados de forma burocrática por seu roteiro esquemático. Por exemplo, o personagem Mickey Deans (Finn Wittrock) – quinto marido de Garland, e sua assistente, Rosalyn Wilder (Jessie Buckley); sem contar o desperdício de um ator como Michael Gambon num papel tão esquecível como o diretor da casa de shows Talk of the Town. Esse mau uso dos coadjuvantes vai impactar diretamente em suas relações com a protagonista. E isso fica claro em seu terceiro ato, quando a obra força uma amizade de Judy com sua assistente e seu pianista que jamais teve espaço para ser estabelecida de forma crível.
Judy: Muito Além do Arco-Íris, ainda que consiga eventualmente emocionar (principalmente em seu desfecho) graças à força de sua história, não oferece muito mais além da atuação de sua protagonista. Seu roteiro segue a mesma fórmula de tantas outras cinebiografias que já passaram pelos cinemas. O sentimento que fica é de já ter visto isso antes, e mais de uma vez.
Nota: ★★✰✰✰
Ficha técnica
Título Original: Judy
Ano de Lançamento: 2019
Direção: Rupert Goold
Roteiro: Tom Edge
Elenco: Renée Zellweger, Finn Wittrock, Jessie Buckley, Rufus Sewell, Michael Gambon
Fotografia: Ole Bratt Birkeland
Trilha Sonora: Gabriel Yared
Montagem: Melanie Ann Oliver