Nos Cinemas | Adoráveis Mulheres

 

Quando vi Lady Bird: A Hora de Voar (filme anterior da diretora e roteirista Greta Gerwig) fiquei impressionado em como ela conseguiu transmitir uma mistura de emoções numa história tão simples, trazendo não só uma profundidade para sua protagonista, mas mostrando um crescimento constante. Isso enriquece a obra e não importa o quão simples é sua história, ela vai nos prender e fazer com que fiquemos cada vez mais imersos naquele mundo. Bom, o que criei com a diretora foram expectativas para suas obras seguintes.

Um dos elementos que faz com que Adoráveis Mulheres não seja uma obra tão completa quanto o longa anterior de Gerwig é seu roteiro raso que não investe em seus conflitos, transformando a obra em um amontoado de situações que envolvem seus personagens, porém, são resolvidas com a mesma facilidade que aparecem.

O longa nunca dá a entender que algo realmente irá dar errado para qualquer uma das personagens e (o mais grave) quando algo de ruim de fato ocorre, não sentimos a profundidade daquilo; não ficamos tristes, nem completamente felizes, mas sim apenas mais uma história que estamos presenciando.

O fato de não nos apegarmos de uma forma mais intensa a nenhum personagem faz com que o filme mude para algo que serve somente como diversão passageira, o que definitivamente não era a intenção da Greta, já que a obra é cheia de importantes mensagens sobre a independência feminina, mas que, infelizmente, acaba não funcionando pela forma que são utilizadas. Falta naturalidade na hora de passar uma mensagem; algo que não soe robótico, que realmente pareça que a personagem está nos falando e não um artista por trás de tudo.

A obra, obviamente, não consiste apenas em coisas negativas. É um filme que, em diversos momentos, diverte por conta de cenas engraçadas, além de uma protagonista que, por mais que não seja bem desenvolvida e que falte uma certa naturalidade, nos traz momentos bem agradáveis. Um bom exemplo é quando a protagonista interpretada por Saoirse Ronan está no sótão com suas irmãs e todas estão imitando homens britânicos com cachimbos e chapéus. É uma cena hilária e, além disso, desenvolve a personalidade da personagem por exatamente soar natural.

Greta Gerwig fez tão bem certas coisas no seu filme de 2017, mas agora me parece um pouco perdida. O tom de sua história, por exemplo, em certos momentos, parece uma coletânea de contos, sendo que, em outros momentos, já está mais para um romance, não sabendo definir direito em qual direção seguir — algo que acaba se perdendo ao longo do caminho narrativo.

Adoráveis Mulheres é um filme que diverte, mas pela forma como foi idealizado, isso não basta. A ambição da Greta não era trazer apenas isso, mas sim algo mais profundo e cheio de camadas, com as quais seria possível transmitir uma mensagem — o que infelizmente não funciona, já que falta uma consistência maior na narrativa e no roteiro com conflitos mais bem elaborados.

É preciso fazer com que o público tenha a iminente sensação de que algo realmente pode dar errado e não tratar tudo com uma superficialidade que, quando de fato ocorre, acabamos não sentindo nada. Contudo, Gerwig não deixa de ser uma diretora nova e promissora sobre a qual ainda me mantenho curioso em relação às suas obras que estão por vir.

Nota: ★★

 

 

 

Ficha Técnica

Título Original: Little Women

Direção: Greta Gerwig

Roteiro: Greta Gerwig

Elenco: Saoirse Ronan, Emma Watson, Florence Pugh, Eliza Scanlen, Laura Dern, Timothée Chalamet, Bob Odenkirk, Louis Garrel, Meryl Streep

Fotografia: Yorick Le Saux

Música: Alexandre Desplat

Montagem: Nick Houy

Figurino: Jacqueline Durran

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Ítalo Passos

Cearense, estudante de marketing digital e crítico de cinema. Apaixonado por cinema oriental, Tolkien e ficção científica. Um samurai de Akira Kurosawa que venera o Kubrick. E eu não estou aqui pra contrariar o The Rock.

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