Listão de Aniversário | 2 Anos de Clube da Poltrona

Em comemoração ao aniversário de 2 anos do Clube da Poltrona, decidimos dividir com vocês os filmes que nos fazem ser apaixonados pela Sétima Arte. Como prova da diversidade de gostos presente na nossa equipe, temos desde obras clássicas do cinema asiático, estadunidense, italiano e soviético, passando por clássicos contemporâneos e filmes que marcaram nossas infâncias, sem esquecer do cinema nacional que nos orgulha tanto. Cada um dos colaboradores ativos do site escolheu três filmes e explicou um pouco do porquê de amar cada obra. Então, puxe a poltrona e curta com a gente essa data tão especial nos conhecendo um pouco mais e assistindo aos nossos favoritos.

Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (2004)

Tinha o Jim Carey. Tinha a Kate Winslet. Tinha o Elijah Wood. E tinha algo de deliciosamente esquisito no trailer desse filme. Foram esses os fatores que me levaram a comprar o DVD assim que foi lançado, sem nem ter assistido antes para saber se ia gostar. O meu feeling estava certo: aqueles personagens ganharam o meu coração. Pode parecer apenas o romance improvável entre um cara caladão e uma moça espevitada, mas na verdade Joel e Clementine são dois seres complexos e cheios de nuances. E quem nunca sentiu uma dor tão forte com as lembranças de uma perda ou coração partido que desejou que existisse um jeito de apagar tudo aquilo da sua mente? Esse pezinho no sci-fi e mais drama, comédia e romance tornam Brilho Eterno um filme único e a cara de seus realizadores, Michel Gondry e Charlie Kaufman.

Não à toa, dois dos meus textos favoritos que escrevi aqui para o Clube são sobre esse filme: o Persona do Joel Barish e o Fotogramas da lindíssima cena da livraria.

A Malvada (1950)

Tenho gosto por filmes clássicos desde o final da adolescência, mas esse me despertou algo especial: uma admiração enorme pela Bette Davis. Foi o primeiro filme que vi com essa diva da era de ouro de Hollywood e me lembro de perceber que, em determinado momento, eu já estava na beira do sofá e com um sorriso molengo no rosto só de ouvir as falas maravilhosas despejadas com toda a classe e altivez do mundo por essa que se tornou uma das minhas atrizes favoritas de todos os tempos. Mas não é só Bette Davis que A Malvada tem de incrível. Todo o elenco é afiadíssimo (e temos até o vislumbre de uma jovem a ainda desconhecida Marilyn Monroe); os diálogos são vorazes, cortantes; e ainda rende uma boa discussão sobre inveja, poder e a união (ou a falta dela) entre mulheres — que, aliás, foi tema desse Miss in Scene.

Toy Story (1995)

Sendo eu filha única da minha mãe (e morando em cidade diferente dos meus irmãos por parte de pai) e tendo poucos amigos, cresci tendo os meus brinquedos como meus grandes companheiros de imaginação. Eles eram mesmo como amigos que topavam qualquer aventura comigo. Por isso, foi impossível não me identificar imediatamente com Andy e não me apaixonar por Woody, Buzz, Sr. Cabeça de Batata, Rex, Slinky, Porquinho, Betty… e toda aquela turma dos brinquedos mais humanos do que muita gente por aí. Porque assim é Toy Story: não só uma história de amizade, mas de aceitação, convivência com o diferente, respeito e autoestima. Tudo o que aquela garotinha de 8 anos em 1995 precisava entender para crescer rumo ‘ao infinito e além’ (e sim, eu tenho uma tatuagem com essa frase).

Os Sete Samurais (1954)

Uma das coisas que mais me fascinam em Os Sete Samurais é sua narrativa crua e direta, são mais de 3 horas de duração, mas nos imergimos tanto naquele mundo que mal percebemos o tempo passar. A obra de Kurosawa num primeiro momento exalta a figura dos samurais como grandes guerreiros destemidos e invencíveis, mas ao passar da história o diretor nos mostra outro lado dessas figuras lendárias; mostra que como qualquer um de nós, eles são imperfeitos, eles sangram, sentem medo, amam, se relacionam e também podem ser derrotados. É interessante notar como as criticas sociais de Kurosawa continuam mais atuais do que nunca, medidas as proporções, sobre como o povo mais humilde continua sendo explorado pelos mais poderosos, que buscam enriquecer mais e mais. Outro ponto que dificilmente vemos em grandes épicos é a não exaltação da vitória em meio ao mar de sangue de uma batalha. Kurosawa faz questão de nos mostrar o quanto a vitória pode custar caro, já que todos os lados perdem. Os Sete Samurais não me impressionou apenas por suas decisões que fez com que revolucionasse o gênero, mas por notar que depois de Kurosawa, o cinema ocidental nunca mais foi o mesmo.

Sobre Meninos e Lobos (2003)

Em toda filmografia de Clint Eastwood encontramos personagens quebrados, os quais o diretor explora até o mais profundo abismo até que os mesmos possam encontrar a luz. Bom, em Sobre Meninos e Lobos o que mais me impactou foi a forma como eles acabam ficando cegos por nunca mais conseguir enxergar um feixe de luz. É uma narrativa que vai nos abraçando aos poucos, nos apresenta cada um dos personagens principais, explora suas personalidades e os destroça sem dó. Desde a fotografia fria, cheia de cores mais densas como o marrom escuro, o cinza, até as migalhas de pistas que nos são deixadas. A obra faz de tudo para que o público não saiba mais do que os personagens, nos imergindo e angustiando cada vez mais e isso funciona, já que também descobrimos cada detalhe com cada um dos homens que acompanhamos. As escolhas, certas ou erradas de cada um deles vem com talvez a maior das consequências, que seja provavelmente a mais dolorosa, suas consciências. O que mais acho brilhante na obra é mostrar como o ser humano pode suportar a maior das dores para saciar seu desejo de se sentir vingado, mesmo que isso o siga para o resto de sua vida.

O Lamento (2016)

O que mais gosto no cinema oriental é a capacidade que eles têm de explorar as emoções humanas da forma mais pura possível. Sejam relações amorosas, familiares ou o horror que cada um de nós tem guardado. O Lamento tem dois elementos que me fascinam bastante: um é como ao passar da história, os personagens vão se perdendo dentro de si mesmos, estão sempre entre a razão e a loucura; o segundo é a mistura de elementos religiosos que são utilizados, como o Cristianismo, Budismo e Xinismo, mas tudo isso é desenvolvido nos detalhes, sem jump scares, focando na introspecção do protagonista que vai afundando na própria loucura, e nas imagens que levam a narrativa pra frente. Cada detalhe, seja de uma pequena flor que não esteja em destaque em tela, seja do figurino do Xamã, tudo isso conta para que no fim, o sutil sobrenatural seja apenas a cereja do bolo do horror criado através dos medos mais comuns do ser humano. O medo da perda, a facilidade de como nós, pessoas somos facilmente influenciáveis, para que nós mesmos sejamos destruídos pelo próprio ego, e pelas próprias escolhas. No fim, descobrimos que não passamos de iscas para que alguém consiga fisgar um peixe maior.

A Primeira Noite de um Homem (1967)

Grandes filmes não são simplesmente para se divertir. Grandes filmes expõem, articulam e recriam emoções que parecem, inicialmente, confusas demais para se expressar até o momento em que tudo isto é cuidadosamente posto em tela.

A Primeira Noite de um Homem é um dos maiores exemplos disso. O que se vê é um protagonista confuso em relação ao seu futuro, mas com tudo a sua volta (seus pais, principalmente) fazendo com que ele pense nisso — não sendo à toa que, logo em seus créditos iniciais, ele esteja imóvel, mas uma espécie de esteira faz com que o personagem continue se movendo.

O simbolismo não poderia ser mais certeiro porque é exatamente esta a essência do mesmo. Sua fuga emocional se tornou quase uma rotina. Os anseios, dúvidas e impulsos de um jovem que precisa se tornar um homem aos olhos de todos à volta são colocados em cena com maestria pelas mãos de Mike Nichols.

Doze Homens e uma Sentença (1957)

12 Homens e uma Sentença já tem mais de 60 anos de lançamento e continua atual e detentor de um poder social gigante.

Muitos diretores transformariam o filme em algo enfadonho em relação ao prisma visual, uma vez que se passa basicamente em apenas um cenário, porém, Lumet (com toda sua criatividade artística) consegue controlar o ambiente e realizar, de forma dinâmica, um estudo sobre vários assuntos, incluindo direito, dúvida, ódio e preconceito — possuindo o ato de despir as vestimentas como simbolismo máximo sobre esses temas.

O brilhantismo da obra-prima de Lumet se nota até na coesão de seus figurinos: enquanto o personagem de Henry Fonda é o único com um paletó da cor branca (evidenciando-se, assim, seu desejo de debater e compreender), o personagem vivido por Jack Warden possui um singular paletó listrado que mescla tanto o claro quanto o escuro, revelando sua indiferença (por causa de um jogo esportivo) em relação ao assunto tão complexo que é julgar uma vida — e não é à toa que o mesmo se posiciona justamente entre os dois lados da mesa. Atemporal!

A Estrada da Vida (1954)

Um filme típico do neorrealismo italiano, onde a exploração do decadente cenário sociopolítico pós-guerra europeu é a principal vertente, tendo (já nos minutos iniciais) a retirada da personagem principal de seu lar como símbolo máximo da pobreza e desespero.

Fellini dosa, de maneira econômica, os pequenos momentos de alegria da protagonista, dando lugar às suas tristezas e amarguras existenciais — o que chega a ser de uma ironia sem tamanho, uma vez que toda trama aborda dois personagens (o contraste entre ambos é abismal) que vivem numa espécie de circo ambulante para entreter o povo.

O título não poderia ser mais metafórico: em nossas vidas iremos encontrar dificuldades e obstáculos, porém, o mais relevante é a maneira que iremos lidar com elas — tendo o final pessimista como retrato não só do arrependimento das escolhas feitas, mas também da consequência direta da metade do século 20, cuja salvação moral era algo praticamente impossível de ser alcançada.

Apesar dos diálogos exteriorizarem essas sensações, os hipnotizantes olhos e a postura frágil e inocente de Giulietta Masina fazem com que o filme funcione puramente através das imagens.

Central do Brasil (1998)

Daquelas obras que a gente pode chamar de verdadeiro tesouro nacional, Central do Brasil nos levou longe, e isso não é uma simples constatação sobre seu reconhecimento internacional, mas sim sobre os inúmeros lugares para os quais fomos transportados cada vez que nos deixamos apaixonar por essa história tão nossa.

Enquanto Dora, professora aposentada que escreve cartas em uma das maiores estações do país, precisa deixar sua vida para trás a fim de percorrer uma jornada improvável no interior do Nordeste, nós apenas assistimos anestesiados a Walter Salles e Fernanda Montenegro brilharem sobre essa história, que é a prova mais que perfeita que a vida adquire novos sentidos quando se compartilha de uma experiência única a que Dora e Josué vivem juntos.

Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (2004)

Um dos maiores superpoderes do cinema, da literatura e de obras de arte como um todo, é a habilidade de tocar e unir pessoas de diferentes realidades, e eu sou capaz de afirmar que poucas obras foram tão bem sucedidas nisso quanto Harry Potter. Na medida em que os livros se tornavam responsáveis por criar uma geração de novos leitores, os filmes vinham divertindo famílias inteiras com sua vibe aventuresca, mas foi O Prisioneiro de Azkaban, terceiro filme da franquia, que mostrou o quão rico e ambicioso aquele universo poderia ser.

O nome por trás disso não poderia ser outro senão o mexicano Alfonso Cuarón, que trouxe um verdadeiro traço autoral para um filme de estúdio e renovou completamente a franquia para seu público, que crescia. O filme é, até hoje, considerado pela maioria dos fãs, o mais icônico e fantástico entre os oito longas da série.

Boyhood (2014)

Não cansado de nos presentear com uma das maiores trilogias do cinema, Richard Linklater nos ofereceu mais um olhar magnífico sobre a vida ao lançar o jovem clássico Boyhood. Inspirador e incomparável, o longa ampliou o conceito de cinema narrativo ao ser filmado em segredo por doze anos, no entanto, o sucesso de Boyhood vai para além do óbvio.

A jornada pessoal de Mason poderia ser a de qualquer um de nós: é simples, imperfeita, repletas de “vai e vem”, onde nem tudo tem um porquê. Os dramas mais triviais da infância e da adolescência aqui se tornam grandes, e para nós, um poço de nostalgia. No fim, Boyhood nos faz ver a vida passar como em um filme, mas sempre nos lembrando que ela precisa ser vivida.

Quatro Casamentos e Um Funeral (1994)

O senso comum diz que as meninas sempre têm seu conto de fadas. Apesar de ser apaixonada com algumas histórias de princesas, sempre senti falta do que acontecia após o “E viveram felizes para sempre!”.

1994, em meio aos trailers das VHS da Video Arte do Brasil (posteriormente Playarte), apareceu essa comédia romântica engraçadinha sobre casais, amigos e uma morte. Ele terminava com um noivo tomando um soco, o bastante para que eu passasse o próximo ano e meio esperando pelo lançamento.

Foi amor à primeira vista. Antes do filme, o vídeo clipe da música tema era exibido. O filme se passava em Londres. O sotaque das pessoas era encantador. Tinha uma mulher de cabelo vermelho e piercing. Pessoas que não eram casadas faziam – pasmem – sexo! Os amigos se apoiavam. Teve um casal homossexual! Descobri W. H. Auden. Eu tinha 11 anos.

Naquele momento escolhi meu conto de fadas e desde então espero meu príncipe de olho roxo, embaixo da chuva.

O Poderoso Chefão (1972)

Criada pela Sessão da Tarde, assisti exaustivamente trechos da terceira parte da trilogia de Coppola. Mais velha, funcionária de uma vídeo locadora, percebi que nada sabia dessa sequência. Em um fim de semana me debrucei sobre a série, para sanar a curiosidade.

Este é um dos filmes que mais me provocou a sensação de êxtase. Ao vê-lo sinto como se folheasse um livro de História da Arte, pois acho que todos os planos e cores são perfeitamente inseridos na mise en scene. Seus personagens e personalidades são únicos, marcantes. Sempre chorarei a morte de Sonny ou lamentarei as escolhas de Michael.

Após a leitura da obra de Puzzo, adquiri maior carinho pela obra. É uma adaptação perfeita. Um filme excitante!

O Espelho (1975)

Passei anos me recusando a assistir qualquer filme de Tarkovski. Achava seu público elitista. Já havia assistido Andrei Rublev na faculdade de Artes e Solaris ao descobrir suas semelhanças com 2001. Mas esse pensamento persistia.

Via do balcão da locadora pseudo intelectuais e sua verborragia sobre a genialidade dos filmes. Era enfadonho. Uma grande amiga, Dayanne Naessa, em uma conversa sobre cinema, me mostrou um livro com as polaroids de Andrei. Seus amigos, que estavam presentes, começaram a elogiar o diretor e, diferente das conversas antes ouvidas, o transformaram em uma pessoa muito interessante.

Entre janeiro e fevereiro de 2017, o Cine Humberto Mauro, espaço de cinema em Belo Horizonte, exibiu uma mostra com sua obra completa. Imergi em Tarkovski durante as 3 semanas da mostra: cursos, palestras, debates e exibições dos filmes.

O Espelho foi exibido em um domingo a noite, penúltimo dia da mostra. Sala lotada, público diverso, abraçados pela magia do cinema, pela pessoalidade que o filme trazia em si. Sem um tempo cronológico definido, mesclando sonhos e realidades, Andrei conta a história de Alexei e a sua história.

Ao fim da sessão havia o silêncio. Luzes acesas, mas o silêncio permanecia. Ninguém se movia em suas poltronas, mal se ouviam as respirações. Alguém respirou fundo, talvez tenha suspirado, contido um choro, não sei. Sei que a partir desse momento nos permitimos descer daquela viagem, por os pés em nossa realidade, porém, completamente transformados, pelo que vimos e pelo que não vimos.

Grease – Nos Tempos da Brilhantina (1978)

Este filme musical conta a história da doce Sandy Olson e do popular Danny Zuko, vividos por Olivia Newton John e John Travolta, respectivamente. Os dois se apaixonam nas férias de verão e, ao voltar para o seu último ano antes da faculdade, são obrigados a enfrentar a realidade completamente diferente das expectativas que tinham um com relação ao outro. Num cenário escolar do fim dos anos 50, temas como machismo, gravidez na adolescência, autoafirmação, pertencimento, personalidade e decisão do futuro são debatidos de forma leve. O curioso é ver que muitos dos comportamentos se repetem há quase 60 anos! Com coreografias incríveis, músicas que passam de geração para geração e um figurino maravilhoso, Grease é um clássico do cinema e um dos meus favoritos da vida. Se você acha que os passinhos do TikTok são complexos, experimente dançar Born To Hand Jive!

O Auto da Compadecida (2000)

Um dos melhores filmes brasileiros na minha humilde opinião, O Auto da Compadecida mostra o cotidiano de Chicó, interpretado por Selton Mello, e João Grilo, papel de Matheus Nachtergaele, em sua luta para sobreviver no sertão nordestino comandado pelos coronéis, pela Igreja e pelos cangaceiros. Devido a uma de suas traquinagens, João Grilo acaba frente a frente com Jesus e com o Diabo a fim de decidirem se, após sua morte, vai para o Céu ou para o Inferno. Por conta de sua fé inabalável em Maria, ele chama pela Compadecida para interceder por todos que foram vítimas do seu plano infeliz. O bom humor e a inteligência são as principais características desta produção que trata temas tão profundos com uma leveza impressionável.

Harry Potter e a Pedra Filosofal (2001)

Este é um dos meus filmes preferidos, pois foi onde a magia começou. É por meio dele que somos introduzidos ao universo de Harry Potter, um garoto órfão que descobre ser bruxo ao completar 11 anos. Aos poucos, vamos conhecendo seus amigos, seus inimigos, suas habilidades e até mesmo suas feridas. Temas como aceitação, amizade, coragem e a escolha dos seus caminhos são tratados de forma lúdica para que o público infanto-juvenil (e até adulto) possa assimilar sem grandes problemas. Quase 19 anos após seu lançamento nos cinemas, Harry Potter consegue manter e cativar novos fãs exibição após exibição por conta de sua história coesa, sua trilha sonora de arrepiar e um elenco apaixonante. Aos Potterheads, como eu, leva um pouco de mágica para os dias difíceis e alegrias para os comuns.

2001 – Uma Odisseia no Espaço (1968)

Eu lembro perfeitamente quando, deitado numa rede, vi 2001 no quarto da casa da minha avó. Tudo no filme me deixava inquieto, desde a abertura de sei lá quantos minutos de tela preta com uma música clássica, ao glorioso final em que um bebê gigante cósmico surge em tela, como um desfecho glorioso de um dos maiores atos finais da história do cinema. 2001 não é só tecnicamente brilhante e um filme cheio de imaginação. É também uma jornada poética pela evolução humana, um estudo entre o homem, como um deus, e sua criação, a máquina, uma reflexão sobre o isolamento e o controle e, por fim, uma ideia grandiosa de que o homem é somente um átomo diante do espaço hoje, mas se tornará parte dele, dobrará o tempo e o espaço e transcenderá tudo o que conhecemos.

A Origem (2010)

2009, o ano em que eu deixei a cinefilia despertar. Já conversei o suficiente com amantes do cinema ao meu redor para perceber que existe um ponto de virada em nossas vidas, aquele filme que te desperta uma paixão pelo olhar, pela descoberta. Esse filme para mim foi A Origem. Foi uma jornada narrativamente muito estranha, que me despertou uma sensação de êxtase que poucos filmes anteriores haviam despertado. Em um momento estávamos na realidade, no outro, estávamos explorando a mente humana, com ruas que se dobram verticalmente e uma lógica irremediável pra um adolescente de 12 anos. Três camadas de sonhos, roubos, trilha sonora que até hoje pisca na minha mente e me leva de volta àquela primeira vez. Posso criticar Christopher Nolan à vontade, mas jamais esquecerei o que ele fez por mim e por outros cinéfilos mundo afora.

A Forma da Água (2017)

Ok, confesso que iria colocar o brilhante O Sacrifício do Cervo Sagrado aqui (amo Yorgos Lanthimos e sua mente perturbada). Porém, seria leviano de minha parte não homenagear o cineasta que desperta a minha imaginação e criatividade, que me fez criar todo um universo de histórias inspirado em seus próprios universos. Falo de Guillermo Del Toro. Já amava Blade 2 quando criança e já fiquei impactado com o que o cineasta mexicano fez no seu melhor filme, O Labirinto do Fauno, mas foi o seu trabalho mais melódico, mais minimalista, mais sentimental, que me pegou de jeito. Uma reimaginação do Monstro da Lagoa Negra, que agora é um ser que merece amor e carinho. Dessa forma, Del Toro adapta sua fantasia para um incrível conto sobre minorias e como elas lutam contra os verdadeiros monstros, nós, os seres humanos. Não parece tão original e, de fato, não é. Contudo, não é sobre originalidade, mas sobre como, em termos de linguagem, um cineasta trabalha aquela realidade para atingir o espectador. Nisso, Del Toro é brilhante, e também em trabalhar esses simbolismos fantásticos de maneira a abordar questões essencialmente humanas.

Titanic (1997)

“It’s been 84 years…”

É difícil colocar em palavras o amor que você sente por algo, ainda mais o primeiro filme que você lembra de assistir e que está presente na sua vida desde então. Lembro do momento que comprei a clássica fita dupla e passei a ver Titanic pelos menos três vezes por dia (sim, é verdade) a ponto da minha mãe esconder e inventar uma história que tinha emprestado para um amigo que nunca devolveu.

Devo ter assistido mais de cem vezes, e mesmo sabendo que o navio vai afundar e o amor entre Jack e Rose terá um final trágico, a emoção está sempre ali, inclusive com a presença de lágrimas vez em quando.

Já são quase vinte e três anos de seu lançamento e Titanic ainda é considerado um dos filmes mais ambiciosos e grandiosos de todos os tempos. Seja pelas suas filmagens dos destroços reais da embarcação, ou pelo seu orçamento gigantesco para a época, ou até pela construção detalhista de uma réplica praticamente completa do navio. Ao longo de seus 194 minutos, é uma aula de como se fazer um épico em Hollywood, entrando para a História como um dos maiores filmes de todos os tempos e já nascendo com status de clássico. Obrigado, James Cameron!

Os Sonhadores (2003)

“Yes, I’m drunk. And you’re beautiful. And tomorrow morning, I’ll be sober but you’ll still be beautiful.”

Um americano recém-chegado à Paris, em meio a um protesto em defesa da Cinémathèque Française, conhece os irmãos gêmeos Théo e Isabelle. A partir desse encontro, o amor pelo Cinema será o ponto de partida para o início de um triângulo amoroso em meio ao turbulento período das revoltas estudantis de Maio de 1968 na capital francesa.

Dirigido por Bernardo Bertolucci, Os Sonhadores não tem medo de explorar o erotismo ao mesmo tempo em que aborda temas como sexo, paixão, amadurecimento e política, sem deixar de ser uma carta aberta de amor ao Cinema.

Laranja Mecânica (1971)

“I was cured, all right!”

Stanley Kubrick é um dos maiores diretores de todos os tempos. E em meio ao seu panteão de obras icônicas, nada se compara a Laranja Mecânica. Uma obra-prima sobre a banalização da violência em nossa sociedade e em como ela está enraizada e naturalizada em nós.

No fim, a verdadeira justiça é a retribuição, ao agir da mesma forma, ou pior, como vingança àqueles que nos fizeram sofrer. Não importa quem somos ou de onde viemos, afinal, de acordo com o filme, somos todos seres sádicos, egoístas e violentos.

E o final irônico… Perfeição!

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Vinicius Dias

Carioca graduado em Relações Internacionais, não sabe muito bem quando começou a sua paixão pela Sétima Arte, mas lembra de ter visto Tarzan (1999) no cinema três vezes e de ter sua fita dupla de Titanic (1997) confiscada pela sua mãe por assistir ao filme mais vezes do que deveria. Não gosta de chocolate, café e Coca-Cola, mas é apaixonado por Madonna, Kylie Minogue e Stanley Kubrick.

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