Persona | Mark Zuckerberg (A Rede Social)

 

A internet não é escrita à lápis, Mark. É escrita à tinta.


David Fincher, após dirigir O Curioso Caso de Benjamin Button, volta a focar suas atenções numa narrativa fria que fala sobre uma nova maneira de interação, como também sobre a essência tradicionalista dessas relações, apesar da contextualização contemporânea da história.

O roteiro de Aron Sorkin (vencedor do Oscar pelo extraordinário trabalho) retrata Mark Zuckerberg (interpretado por Jesse Eisenberg) como um indivíduo repleto de defeitos que, por causa de todas as frustrações, resolve criar um ambiente em que possa ter controle total, uma vez que só depende de números e algoritmos para tal — fato que permeia a temática através da espetacular trilha sonora (composta por Trent Reznor e Atticus Ross) com os sintetizadores pra gerar esse viés moderno e calculado, mas também estranhamente incômodo.

Desde a primeira cena, já estabelece-se a essência do personagem principal: ao conversar com sua namorada dentro de um bar (a frase “porque estamos namorando” até choca um pouco o espectador porque os assuntos debatidos e o ritmo frenético dos diálogos não dão a sensação que aqueles dois estão numa relação amorosa), a fotografia de Jeff Cronenweth usa uma profundidade de campo bem reduzida pra retratar essa falta de conectividade de Mark com o mundo.

A Rede Social

Além da óbvia ironia que isso possui dentro do contexto da criação do maior site de interação do planeta, várias vezes vemos personagens importantes desfocados para intensificar o egoísmo e falta de empatia do protagonista.

A Rede Social

Contudo, é só depois do abrupto término contido na primeira cena que visualizamos os créditos iniciais. Assim, a direção de Fincher, mais uma vez, capta com maestria quem é aquele estudante de Harvard ao colocá-lo atravessando toda a extensão do campus universitário sozinho e angustiado com os acontecimentos que se passaram naquele bar — sendo que tudo isso é bem reforçado ao ter a faixa instrumental “Hand Covers Bruise” para dar essa iminente sensação de melancolia e de que algo importante está prestes a ocorrer.

Como se não bastasse, uma das características mais marcantes do personagem é seu egocentrismo. Mesmo solitário e não tendo conexão alguma com o mundo, ele quer ser aceito e reconhecido. Para tal, a figura que reflete tudo o que o protagonista gostaria de ser é a de Sean Parker (vivido por Justin Timberlake).

A verdade é que Parker nunca se importou com o projeto em si e sim somente com as implicações e possibilidades financeiras de se envolver nesse negócio que futuramente valeria bilhões de dólares, além da vingança contra aqueles que o renegaram — e isso é provado no segmento em que ele coloca duas cervejas em cima de um notebook e sai para atender a porta.

Muito popular e com um discurso sedutor, Mark é facilmente encantado pelas facilidades e o reconhecimento desse indivíduo cofundador da Napster, um dos programas mais usados no começo do século. Isso fica claro desde o momento em que ele aparece (atrasado) no restaurante até a sugestão da mudança do nome para Facebook ao invés de The Facebook por ser mais “limpo”. Para ele, imagem é absolutamente tudo; e é justamente isso que Zuckerberg tanto almeja.

A outra imensa ironia reside também nesse aspecto. Podemos visualizar a diferença abismal de como ele e seu melhor amigo Eduardo Saverin (Andrew Garfield) lidam com o site por meio dos figurinos. Se o brasileiro traja roupas formais para adquirir patrocínios e criar essa imagem mais confiável para a empresa, o anti-herói dessa jornada é mais descuidado por, quase sempre, estar usando pijamas, moletons, roupões, sandálias e até mesmo demonstrar um evidente tédio nessas primordiais reuniões.

O roteiro jamais coloca uma espécie de juiz/moderador nas audiências porque não subestima a inteligência do espectador; na verdade, a intenção é fazer com que tire suas próprias conclusões com os vários depoimentos e flashbacks.

E, apesar da derrota judicial ao aceitar os acordos (algo irrelevante se observado seu patrimônio num todo), no final, o que resta é um ser amargurado e arrependido dentro de sua própria bolha. Ele tem tudo, porém, ao mesmo tempo, não tem nada. A atualização na página virtual para ver se sua ex-namorada aceitou a solicitação de amizade não só diz muito sobre aquela pessoa em foco, mas sobre toda uma geração.

A obra de 2010, pra “fechar o caixão”, fica ainda mais cínica e sarcástica ao se encerrar com a canção “Baby You’re A Rich Man” dos Beatles. Não é apenas um dos grandes filmes do século XXI, mas também é o que melhor representa esse recorte temporal.

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Jonatas Rueda

Capixaba, formado em Direito e cinéfilo desde pequeno. Ama literatura e apenas vê séries quando acha que vale muito a pena. Além do cinema, também é movido à música, sendo que em suas playlists nunca podem faltar The Beatles, Bob Dylan, Eric Clapton e Led Zeppelin.

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