Séries | La Casa de Papel – 4ª Temporada
Esse texto contém spoilers
Se a massa tinha desandado na terceira temporada de La Casa de Papel nessa ela solou. Mas apenas para a equipe do Professor. Fazendo uso da mesma fórmula das temporadas anteriores os episódios são compostos por dramas, romances, baixas e reviravoltas.
Os planos de resgate da equipe de Sérgio são cada vez mais atrapalhados pelas ações internas e externas. A detetive Alicia desestrutura a dinâmica do grupo ao forjar a morte de Lisboa/Raquel ao fim da terceira temporada. Além disso, em uma tentativa de negociação visando a invasão ao Banco Central de Madri, a integrante Nairobi é baleada.
A quarta temporada já é iniciada com esse clima de tensão em torno da sobrevivência da ladra. E, assim como a primeira temporada, o ritmo das ações e de suas consequências é crescente. Não diferente do esperado temos as ações impulsivas de Tóquio, o jogo duplo e desestruturando de Palermo, o desgaste do Professor diante da viuvez e o elemento central dos problemas deste capítulo: Gandía (Felipe Nájera), o chefe de segurança do governador.
Esse personagem vem para ser a cereja do bolo na desestabilização do plano inicial. O segurança é um mercenário, conhecedor de práticas de ataque e fuga. Ao se livrar de seu confinamento, ele passa a ser uma peça extra nos ataques ao grupo e é, também, o responsável pelo ponto alto da temporada.
Quem acompanha La Casa de Papel sabe que toda a amarração dos planos se baseiam no ideal do crime perfeito. Sendo assim, por mais que torçamos contra, sempre descerá dos céus o deus ex machina – como o “Plano Paris”, previamente combinado entre o casal que insere Raquel dentro do banco no final dessa temporada.
Contudo, a produção da série tomou uma decisão um tanto corajosa ao eliminar uma das personagens mais carismáticas, Nairobi. E isso bem em meio à crise. Por ser salva pela cirurgia de alto risco no primário episódio, esse caminho foi um pouco inusitado. Porém, a medida em que Gandía ataca o time, ele reforçava o tempo inteiro que a mataria. Então, de certo modo, não era algo tão inesperado assim. Precisamos lembrar também que diante da morte de Berlim, no fim de segunda temporada, uma solução para sua presença foi encontrada pelos roteiristas. A partir da terceira temporada, Berlim é inserido nas memórias que traçam o planejamento dos crimes. Acredito que Nairobi também se faça presente por meio dos flashbacks.
Outro aspecto que continua sendo abordado na série são as relações marcadas por assédios contra as mulheres. Alicia está no lugar de Raquel e como esta passa por situações de constrangimento moral em um ambiente majoritariamente masculino, essa relação descartável que ela prova ao ver seus planos darem errado é o gatilho para sua vingança.
E ao falar em assédio, não há como ignorar o pulha do Arturito. Após seu resgate na segunda temporada, ele se torna coach de qualquer coisa e decide se entranhar no banco ao saber de sua invasão. Tudo isso porque tem o ego ferido e quer resgatar seu poder sobre Mônica e ter contato com o filho dos dois. Se não bastasse ser insuportável por sua postura ao longo da série, em um dos capítulos recentes ele assedia outra mulher.
Outra pauta inserida de maneira sutil e superficial é a inserção da personagem Julia/Manilla (Belen Cuesta), que em certo episódio dá uma breve aula sobre transexualidade. Esses assuntos continuam sendo complementos às relações formadas entre as personagens abordadas brevemente.
Ainda que a tensão seja elevada nesses novos capítulos, a trama já está desgastada. A solução encontrada ao fim para que mais uma temporada seja feita, além de óbvia é preguiçosa. Com o encontro de Alicia – preparada para se vingar – e do Professor, já sabemos que os próximos argumentos girarão em torno de finalizar o plano dentro do banco e sair a salvo sem a ajuda do mestre. Isso já aconteceu um pouco em cada um dos volumes anteriores.
Afinal, gostamos dos personagens, nos apegamos a eles, mas não deixamos de saber que nem tudo ali dará certo. As circunstâncias não permitem e toda instabilidade progressiva aponta para a decadência daquelas pessoas. O mínimo que podemos esperar é que “a casa caia para eles”.
Nota: ★★★★✰
Ficha Técnica
Título Original: La Casa de Papel – Parte 4
Ano: 2019
País: Espanha
Elenco: Úrsula Corberó, Itziar Ituño, Álvaro Morte, Pedro Alonso, Alba Flores, Miguel Hérran, Jaime Lorente, Esther Acebo, Enrique Arce
Fotografia: Miguel Amoedo
Montagem: Luis Miguel González Bedmar
Canal: Netflix