Especial | 20 anos de X-Men: O Filme
No dia de hoje há vinte anos atrás, estreava aquele que seria o responsável por abrir caminho para o surgimento de diversos outros filmes baseados em histórias em quadrinhos e por mudar a visão de Hollywood sobre o subgênero de super-heróis. Estamos falando de X-Men: O Filme.
Mas antes, é importante compreender o caminho que levou a equipe mais famosa da Marvel aos cinemas do mundo todo.
Criados por Stan Lee e Jack Kirby, X-Men foi publicado pela primeira vez em 1963, e centrava sua narrativa em um grupo de mutantes liderados pelo Professor X, com habilidades super-humanas e que precisavam combater aqueles que usavam seus poderes de forma maligna, tais como Magneto, ao mesmo tempo em que tinham que lidar com o ódio e discriminação da sociedade humana, obrigando-os a viver de forma marginalizada/escondida.
Reflexo de seu tempo, marcado pela luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, os quadrinhos dos X-Men abordavam — e ainda abordam — temas como preconceito, diversidade e minorias em suas histórias, sendo consideradas entre as com maior número de personagens vindos das mais diversas origens dentro da Marvel.
As primeiras tentativas de levar a equipe de mutantes para os cinemas vieram ainda nos anos 1980. A primeira, através da Orion Pictures (produtora de filmes como O Exterminador do Futuro e O Silêncio dos Inocentes), que teve que abandonar o projeto após sucessivos fracassos de bilheteria; e a segunda, sob produção de James Cameron (que estava em alta após Aliens, O Resgate) e direção de Kathryn Bigelow, também não rendendo frutos.
Sendo assim, como os direitos dos X-Men chegaram até a Fox?
Face ao grande número de vendas de quadrinhos no mercado, a Marvel atraiu a atenção de Ron Perelman, proprietário da MacAndrews & Forbes Holdings e conhecido como “pirata corporativo”. Em 1989, o empresário comprou a Marvel Entertainment Group, que fazia parte da New World Pictures, pelo preço de 82,5 milhões de dólares.
Sob comando de Perelman, a Marvel entrou na bolsa de valores e, visando a promoção da marca, ele investiu em quatro grandes empresas de ramos distintos: a Fleer e a SkyBox International, ambas companhias de cards colecionáveis; a Panini, famosa fabricante de álbuns de figurinhas; parte importante (46%) da ToyBiz, para assim produzir os próprios bonecos da Marvel; a Heroes World Distribution, para distribuição de quadrinhos; além de criar novas divisões do Marvel Entertainment Group (MEG) para cuidar de todas essas propriedades.
Aproveitando a bolha especulativa do mercado de quadrinhos (graças principalmente ao valor de edições raras de revistas clássicas ou com tiragem limitada), eles passaram a lançar edições especiais de revistas nas mais diversas versões, com capas douradas, platinadas, espelhadas, 3D etc. Esse plano deu certo por algum tempo, vendendo milhões de exemplares de títulos dos X-Men, do Homem-Aranha e do recém-lançado X-Force.
No entanto, existia um problema nessa estratégia: para que esses quadrinhos tivessem valor no futuro, eles precisavam ser raros, logo, após perceber o mercado inundado com essas edições especiais, os compradores perceberam que as edições outrora valiosas que possuíam perderam seu valor e não trariam lucro algum. A partir desse momento, a bolha estourou.
Somado a isso, a baixa qualidade das histórias lançadas pela Marvel, o cansaço dos leitores pelo excesso de crossovers (quando heróis e vilões de diferentes histórias se unem para lutar entre si em uma edição só), a greve da Major League de Baseball em 1994 — impedindo a produção de cards colecionáveis — ter feito os lucros da Fleer despencarem, e a Panini ter perdido a maior parte de sua receita devido ao mau desempenho dos filmes da Disney nos cinemas — reduzindo o interesse pelos seus álbuns de figurinhas —, contribuíram para a Marvel declarar falência em 1996.
Como uma das soluções encontradas para amenizar as dívidas, a empresa se viu sem opções e acabou por vender os direitos cinematográficos de seus principais personagens, como o Homem-Aranha para a Sony, pelo valor de 10 milhões de dólares, e os X-Men e o Quarteto Fantástico para a Fox. Era o fundo do poço para a empresa, que nos acordos com os estúdios perdia o controle sobre o licenciamento de suas próprias criações.
E a partir daí a história de X-Men: O Filme tem seu início…
Com exceção dos dois primeiros filmes do Superman e os dois filmes do Batman dirigidos por Tim Burton, os longas de super-heróis não tinham um histórico muito positivo em Hollywood, com muitos deles se tornando sinônimo de piada. No entanto, impressionada com o sucesso do desenho animado dos X-Men na TV, a Fox decide adquirir os direitos cinematográficos dos mutantes, e rapidamente começa a desenvolver o projeto.
Diversos roteiros foram escritos e rejeitados pelo estúdio, ao mesmo tempo em que o nome de diversos diretores foram considerados, como o de Brett Ratner, Robert Rodriguez e Paul W. S. Anderson. Colhendo os frutos de seu premiado filme Os Suspeitos, Bryan Singer estava interessado em fazer um filme de ficção científica, sendo oferecido a ele pela Fox a direção de Alien, A Ressurreição. No entanto, o produtor executivo de X-Men: O Filme, Tom DeSanto, acreditava que ele se encaixaria mais no comando do filme dos mutantes. Além disso, os temas abordados nos quadrinhos como o preconceito ressoaram em Singer, o levando a aceitar a proposta em 1996.
Apesar de ter seu lançamento marcado para o Natal de 1998 e de contar com um orçamento previsto de 60 milhões de dólares, os problemas com o roteiro permaneceram, e vendo isso, uma das mentes por trás da criação de diversos personagens dos X-Men que acabara de retornar para a Marvel, Chris Claremont, enviou para a Fox um memorando de quatro páginas onde explicava os principais conceitos dos X-Men e os motivos que os diferenciavam de outros super-heróis. Partindo daí, em 1998 Singer e DeSanto enviaram para o estúdio um novo roteiro, que foi recusado por ultrapassar em 5 milhões dólares o novo orçamento, projetado em 75 milhões de dólares.
Para corrigir os excessos exigidos pela Fox, a dupla chamou Christopher McQuarrie para reescrever o texto. Simultaneamente, David Hayter também reescreveu o roteiro, recebendo créditos solo do Writers Guild of America, enquanto Singer e DeSanto receberam crédito pela história. O WGA ofereceu um crédito a McQuarrie, mas ele voluntariamente retirou seu nome quando a versão final estava mais de acordo com o roteiro de Hayter do que com o dele.
Roteiro pronto, mas e o elenco?
A produção encontrou problemas para escolher o ator que iria interpretar o Wolverine. A princípio Singer queria Russel Crowe para o papel, que recusou a oferta, mas indicou seu amigo Hugh Jackman, um nome desconhecido em Hollywood na época. Atores como Keanu Reeves, Gary Sinise, Mel Gibson, Aaron Eckhart, Jean-Claude Van Damme, Viggo Mortensen, Edward Norton e Bob Hoskins, também foram considerados. Jim Caviezel foi originalmente escalado para interpretar o personagem Ciclope, mas desistiu por conflitos de agenda, dando lugar a James Marsden, que não estava familiarizado com o papel, mas logo se habituou após ler os quadrinhos.
Para o papel de Tempestade, o estúdio queria Angela Bassett, mas seu salário era muito alto na época, deixando para Halle Berry o papel. Janet Jackson e Mariah Carrey também foram cogitadas. Drew Barrymore, Sarah Michelle Gellar, Jennifer Love Hewitt, Katie Holmes, Christina Ricci, Alicia Silverstone, Katharine Isabelle e Natalie Portman foram cogitadas para interpretar a personagem Vampira, que acabou nas mãos de Anna Paquin. Selma Blair, Renee O’Connor, Lucy Lawless, Maria Bello, Peta Wilson e Helen Hunt foram consideradas para o papel de Jean Grey, que acabou ficando com Famke Janssen.
Para o personagem Magneto, David Hemblen (a voz do Magneto no desenho animado dos X-Men), Christopher Lee e Terence Stamp foram cogitados para o papel antes de Singer escalar Ian McKellen, que trabalhara com o diretor em seu filme anterior. Patrick Stewart foi convidado por Singer para interpretar o personagem Professor Xavier, vindo a aceitar o papel.
Tendo seu lançamento remarcado para o Natal de 2000, o estúdio teve que mudar novamente a data, adiantando-a para junho do mesmo ano, pois surgira um espaço no calendário após Steven Spielberg ter preferido filmar A.I. – Inteligência Artificial para a Warner, antes de Minority Report – A Nova Lei, projeto da Fox. Com isso, a produção de X-Men: O Filme teria que finalizar o projeto seis meses antes do esperado. Face a essa situação, o estúdio decidiu lançar o filme nos Estados Unidos um mês depois, no dia 14 de julho.
Recebendo críticas positivas e arrecadando quase 300 milhões de dólares em bilheteria, o filme foi um grande sucesso, se tornando a oitava maior bilheteria doméstica do ano e a nona mundialmente. O êxito do filme foi responsável por causar o ressurgimento de filmes de super-heróis no cinema. Após seu lançamento, surgiram longas do Homem-Aranha, Demolidor, Elektra, Hulk, Quarteto Fantástico, Mulher-Gato, Superman: O Retorno, a trilogia do Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan, e o Universo Cinematográfico da Marvel.
Os X-Men seriam vistos em uma série de sequências, prequels e spin-offs, são eles: X-Men 2, X-Men 3: O Confronto Final, X-Men Origens: Wolverine, X-Men: Primeira Classe, Wolverine: Imortal, X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, Deadpool, X-Men: Apocalipse, Logan, Deadpool 2, X-Men: Fênix Negra e Os Novos Mutantes.
Sem dúvida alguma, o lançamento de X-Men: O Filme abriu o caminho para que os filmes de super-herói, que hoje são campeões de bilheteria arrecadando bilhões no mundo todo, pudessem renascer e superar todos os seus estigmas negativos do passado. A Marvel que se encontrava em situação de falência nos anos 90, hoje é um império do entretenimento sob o guarda-chuva da Disney e, tendo comprado a Fox em 2019, hoje tem de volta os direitos dos X-Men. Sendo assim, é de se esperar que os mutantes apareçam no MCU muito em breve. Portanto, ainda teremos a companhia desses personagens por ainda muito, muito tempo…
Para assistir o filme, disponível no Telecine Play, é só clicar aqui.