Na Netflix | #AnneFrank – Vidas Paralelas

Com o avanço das tropas nazistas na Holanda durante a Segunda Guerra Mundial, a jovem de origem judaica Anne Frank, na época com 13 anos, se escondeu com a família num espaço no andar de cima de uma fábrica de temperos, conhecido como Anexo Secreto. Além de Anne, se juntaram a ela sua irmã mais velha Margot, a mãe Edith, o pai Otto Frank, os três componentes da família van Pels (referidos como van Daan) e o dentista Fritz Pfeffer. Durante mais de 2 anos, os pequenos cômodos do local eram tudo o que aquelas 8 pessoas tinham; foi a experiência de todo esse período que Anne registrou em seu diário, mais tarde entregue a Otto, o único que sobreviveria e que, seguindo a vontade da filha, publicou as páginas escritas por sua caçula. Nascia ali “O Diário de Anne Frank”, que se tornou um dos relatos mais tocantes daquele tempo sombrio.

Apesar de confinada em um pequeno espaço do qual não podia sair, Anne era uma adolescente vivaz, de personalidade forte e espírito livre o que muitas vezes causou atritos no Anexo. Vivendo uma fase que é marcada por descobertas e mudanças no corpo e na mente, ela escrevia para Kitty (o apelido do seu diário, como se fosse uma amiga imaginária) despejando todos os seus sonhos, desejos e sentimentos mais íntimos. São questionamentos e reflexões normais de uma garota daquela idade, mas também relatos estarrecedores do horror psicológico do confinamento e da guerra, que pairavam sempre como sombras à espreita em cada canto do esconderijo.

#AnneFrank

Em 04 de agosto de 1944, o Anexo foi descoberto e todos os seus ocupantes levados para campos de concentração. Como dito anteriormente, apenas Otto sobreviveu; Anne Frank morreu em fevereiro de 1945 no campo de Bergen-Belsen, por conta de uma epidemia de tifo.

Para quem leu “O Diário de Anne Frank” é impossível não se fazer dois questionamentos: como Anne viveu seus últimos meses nos campos de concentração (Westerbork, Auschwitz e Bergen-Belsen); e como seria a mulher que ela teria se tornado caso tivesse sobrevivido. É partindo dessa premissa que o documentário #AnneFrank – Vidas Paralelas, disponível na Netflix, se desenvolve, mostrando a experiência de sobreviventes que, assim como a garota holandesa (apesar de nascida na Alemanha, Anne viveu quase toda sua vida em Amsterdã), também passaram ainda na infância ou adolescência pelo tormento físico e psicológico dos campos com suas famílias. Mulheres da mesma geração que, ao contrário de Anne e de tantas outras jovens vidas perdidas no Holocausto, puderam se reinventar e tiveram a oportunidade de contar suas histórias, numa tentativa de que nada seja esquecido para que tragédias assim não se repitam.

É claro que os dois questionamentos feitos acima são impossíveis de serem respondidos em sua totalidade, em especial o segundo. Mas, ao mostrar os relatos dessas mulheres, as documentaristas Sabina Fedeli e Anna Migotto buscam não só entender pelo quê Anne passou, como também mostrar as marcas deixadas pelo Holocausto em suas vítimas sobreviventes, fazendo um paralelo entre elas e um dos nomes mais icônicos do período.

A ligação entre tudo vem na narração de Helen Mirren, que, sentada em um quarto que reconstitui o cômodo onde Anne dormia no Anexo, conta partes das histórias e também lê trechos do diário (eu poderia ouvi-la ler o diário inteiro, na verdade, e nem piscaria). Mirren consegue nos fazer viajar no tempo e visualizar toda a doçura e personalidade daquela garotinha já tão madura por conta da situação que passava.

#AnneFrank – Vidas Paralelas foi claramente feito para uma nova geração do século XXI, algo que fica nítido ao vermos uma jovem, pouco mais velha que Anne na época de sua morte, visitando memoriais do Holocausto pela Europa e escrevendo questionamentos sobre o tema no que seria o equivalente moderno do diário nos tempos atuais: redes sociais. O detalhe precioso está no fato dela aparentemente se chamar Katarina e escrever como se estivesse falando com Anne, assim como Anne escrevia para Kitty (que é um dos apelidos possíveis para Katarina).

#AnneFrank

O vai e vem do estilo narrativo, que não se decide se quer contar a história por tema, cronologia ou personagem, pode deixar o espectador com pouco conhecimento sobre o assunto levemente confuso com a ordem dos acontecimentos. Porém, #AnneFrank – Vidas Paralelas tem mais virtudes do que defeitos, sendo um documentário importante para antigas e novas gerações no entendimento de um período histórico sombrio que tem uma adolescente de 15 anos como um de seus maiores mártires.

Assista #AnneFrank – Vidas Paralelas na Netflix clicando aqui.

Nota: ★★★★✰

 

Saiba mais sobre o tema:

  • Assista ao documentário de 1988 “The Last Seven Months of Anne Frank“, de Willy Lindwer, clicando aqui.

 

Ficha Técnica

#AnneFrank

 

Título Original: #AnneFrank – Parallel Stories

Ano: 2019

Direção: Sabina Fedeli & Anna Migotto

Elenco: Helen Mirren, Arianna Szörényi, Sarah Lichtsztejn-Montard, Helga Weiss, Andra Bucci, Tatiana Bucci

Trilha Sonora: Lele Marchitelli

 

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Roseana Marinho

Roseana é publicitária e acha que os dias deveriam ter pelo menos 30h para trabalhar e ainda poder ver todos os filmes e séries que deseja. Não consegue parar de comprar livros ou largar o chocolate. Tem um lado meio nerd e outro meio bailarina.

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