Clube Cartoon | Os Incríveis 2
Depois de uma pausa de 10 anos do mundo das animações para se aventurar na direção de filmes em live-action — quando comandou Missão: Impossível – Protocolo Fantasma e Tomorrowland: Um Lugar Onde Nada É Impossível —, Brad Bird retorna ao que sabe fazer de melhor com Os Incríveis 2. Responsável por Ratatouille e pela primeira aventura da família de super-heróis, ele não decepciona ao oferecer ao público uma história cheia de aventura, ação, emoção e temas inteligentes.
Afinal, estamos falando de um filme da Pixar, um estúdio que preza por contar histórias que sejam mais do que meras fábulas bonitinhas e mundos encantados. Sua parceria (e, mais tarde, incorporação) com a Disney trouxe à casa do Mickey Mouse uma ousadia a mais. Os roteiros sempre trazem uma faceta menos infantilizada junto às histórias que encantam o público infantil, tudo na medida certa. O resultado são filmes que divertem todas as faixas etárias.
Os Incríveis 2 começa exatamente onde havíamos deixado a família Pêra (ou Parr, no idioma original) ao final do primeiro filme. O vilão Escavador aparece no estacionamento do local onde Flecha acabou de participar de uma competição esportiva e a família tenta detê-lo. Como a lei anti-heróis ainda vigora, os Pêra sofrem as consequências legais por terem agido (com algumas complicações a mais para a primogênita Violeta, que acaba sendo vista sem a máscara pelo seu crush).
Porém, apesar da posição das autoridades, nem toda a sociedade se mostra contra os Super. E eis que aparece o ricaço Winston Deavor disposto a usar seu dinheiro e influência como empresário para, junto à sua irmã Evelyn, fazer com que a atuação dos super-heróis seja legalizada novamente. É impossível, aliás, não fazer um pequeno paralelo entre Deavor e Donald Trump, já que o slogan usado por ambos é muito similar: o “fazer os Super legais novamente” lembra imediatamente o “fazer a América grande novamente” do presidente norte-americano. Felizmente, as semelhanças não vão muito além disso e de alguns hábitos excêntricos (embora, e aqui vai um breve spoiler — estou avisando! — não se possa dizer o mesmo da irmã cientista e seus interesses).
Assim como no primeiro Os Incríveis, a sequência foca bastante nos dilemas matrimoniais e familiares de Helena e Roberto, a Mulher-Elástica e o Sr. Incrível. O fato de a iniciativa de Winston Deavor priorizar a heroína na primeira fase deixa o super-herói e pai de família pouco confortável em não ser o centro das atenções e o provedor. Percebemos a masculinidade frágil do Sr. Incrível, tema que irá permear todo o longa com uma importante jornada de desconstrução. Enquanto ele fica responsável por cuidar da casa e das crianças, vemos uma Mulher-Elástica empoderada e totalmente bad ass lutando contra o crime.
É interessante ver Roberto Pêra, despido de sua faceta Super, aos poucos se dando conta do quão heroico pode ser dar conta das atividades domésticas e cuidar de um bebê, uma adolescente e uma criança hiperativa (sem contar com o fato de todos terem super-poderes). As descobertas dos inúmeros poderes do caçula Zezé, inclusive, são sempre uma diversão à parte, seja na cena em que ele luta com um guaxinim no jardim de casa, ou na confecção de seu traje com a “tia” Edna Moda, ou ainda no ato final e mais eletrizante do filme, no navio da empresa dos Deavor.
Os dilemas na forma de criar os filhos causam atritos entre os pais, o que dá bastante humanidade ao casal de heróis. Que pais e/ou mães, sejam casados ou não, nunca discordaram em algum ponto na hora de repreender ou ensinar algo aos seus pequenos? É normal esbarrar nas diferenças pessoais do outro nesses momentos e a realidade de Roberto e Helena como Super não fazem a menor diferença nesse ponto. A família Pêra é gente como a gente, sim! Algo que, a propósito, também fica claro no comportamento de adolescente temperamental de Violeta e nas traquinagens de Flecha.
A animação acerta ainda na inclusão de alguns novos personagens com poderes. Além de vermos um pouco mais dos já queridos Lúcio (o Gelado) e da designer Edna Moda — que pode não ter super habilidades, mas é uma das melhores personagens da franquia —, somos apresentados a Void, que é uma grande fã da Mulher-Elástica, e também Reflux, Screech, Compactor, entre outros.
Não é todo dia que se vê uma sequência cinematográfica que faz jus ao seu material original. Os Incríveis 2 não só consegue essa façanha como ainda expande um pouco mais seu universo de forma muito competente. Com temas pertinentes à sociedade do século XXI e muito, mas, muito humor e aventura, o filme é diversão certa para todas as idades. Ponto para Brad Bird e para a Pixar que, mais uma vez, não decepcionam.
Você pode assistir ao filme no Telecine Play clicando aqui.
Nota: ★★★★✰
Ficha Técnica
Título Original: The Incredibles 2
Ano: 2018
Direção: Brad Bird
Roteiro: Brad Bird
Vozes originais de: Craig T. Nelson, Holly Hunter, Sarah Vowell, Huck Milner, Bob Odenkirk, Catherine Keener, Samuel L. Jackson, Sophia Bush, Brad Bird
Fotografia: Mahyar Abousaeedi & Erik Smitt
Trilha Sonora: Michael Giacchino
Montagem: Stephen Schaffer
Direção de Arte: Josh Holtsclaw