Love Club | Com Amor, Simon
A primeira coisa que você precisa saber sobre essa produção é que ela é a razão pela qual esta coluna tem este nome. Isso já basta para que entenda a importância e o impacto deste filme. Com Amor, Simon conta a história de Simon Spier, um adolescente normal, cheio de amigos, com uma família bacana e gay. No entanto, este último fato não é de conhecimento de todos.
O primeiro grande debate do filme tem início quando Simon lê uma carta aberta de um garoto que se assume gay sem revelar sua verdadeira identidade, assinando como Blue. Ele então passa a refletir a razão pela qual ainda não “saiu do armário” e porque apenas os homossexuais têm que revelar sua orientação sexual. A cena que teria tudo para ser dramática é retratada de uma forma leve quando ele imagina seus amigos se assumindo héteros para suas famílias que são acompanhadas de reações típicas com questionamentos, chororô e abandono da situação. Esta reflexão vale para os espectadores. Por que mesmo só os homossexuais têm que se assumir? Eles realmente precisam fazer isso? Se você aí nunca pensou nisso, vale pensar!
Simon cria um codinome – Jacques – e passe a se corresponder com Blue, revelando seus segredos e sua dificuldade em contar à sua família e amigos sua orientação sexual. Aos poucos o vemos se abrindo para o amor de forma doce e inocente e tentando descobrir nas entrelinhas quem poderia ser o tal Blue. O problema é que, por conta de uma distração, ele acaba esquecendo seu e-mail fake aberto em um dos computadores da biblioteca fazendo com que Martin, um garoto com conduta e gostos bastante peculiares, descubra que ele é gay.
O garoto passa a chantageá-lo para conseguir sair com uma de suas melhores amigas, Abby. Ela de fato é incrível! Bonita, inteligente, carismática, bem-humorada, o que traz a tona outro ponto que pode passar despercebido para alguns, mas este é um dos poucos filmes que lembro de ter assistido em que a garota que é superdesejada no colégio é uma garota negra. Alias, na turma de Simon há personagens brancos e negros em uma mesma proporção, o que é quase inédito mesmo se tratando de um filme de 2018.
Começa então uma dinâmica tipicamente adolescente. Se lembra do poema Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade? “João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém”. Pois bem! Nada mais comum que isso em uma turma de amigos no Ensino Médio e Simon se vê envolvido nesta quadrilha sem sequer perceber sua participação.
Como todo filme de romance, o conflito chega e, neste caso, chega em forma de exposed em um Natal. Após ter seus e-mails vazados, Simon se vê obrigado a contar sobre sua orientação sexual para sua família e amigos, e escolhe se afastar de todos após esse momento. É de emocionar qualquer um que tenha um coração sem preconceitos no peito a forma como ele é acolhido. O garoto de 17 tem uma profunda conversa com a mãe em que ela demonstra que sempre o viu como é e que ele continua sendo o mesmo em sua visão. Após assimilar a notícia, o pai se desculpa pelas piadas machistas que fazia e por não ter percebido antes, e deixa claro o quanto o ama, sem tirar nem por. Quem dera isso ocorresse com todos aqueles que se assumem em um mundo preconceituoso como o que ainda fazemos parte?
Ao retornar ao ambiente escolar após ter sido exposto, Simon percebe o tanto de vezes que se fez de cego quando um outro colega de turma sofria bullying, quando ele passa pelo mesmo e o quanto é necessário defender os outros dessa prática que já foi tão normalizada e hoje não é mais aceita. Mais que isso, ele consegue fazer com que, alguns daqueles que riram dele, passassem a torcer por seu relacionamento com Blue.
Com inúmeras razões para amar esse filme – e elas são muitas MESMO e incluem cenas musicais bem coreografadas, coloridas e cheias de vida – o que mais me pegou foi a delicadeza e a leveza com que temas importantes como os que citei acima foram tratados. A homossexualidade ainda é considerada tabu, garotas negras dificilmente se encaixam nos padrões de beleza, o bullying acontece demais e o acolhimento de gays no seio familiar ainda é pouco. No entanto, produções como estas aquecem o coração e dão esperança de que dias melhores virão.
Nota: ★★★★★
Ficha Técnica
Título Original: Love, Simon
Ano: 2018
Diretor: Greg Berlanti
Roteiro: Elizabeth Berger, Isaac Aptaker
Elenco:Nick Robinson, Jennifer Garner, Josh Duhamel, Katherine Langford, Alexandra Shipp, Logan Miller, Keiynan Lonsdale, Jorge Lendeborg Jr,
Produção: Wyck Godfrey, Marty Bowen, Isaac Klausner, Timothy M Bourne
Fotografia: John Guleserian, Armen Kevorkian
Trilha Sonora: Rob Simonsen